quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Primeiro II

Não existe coisa mais bonita do que ver uma mulher linda se sentar a mesa, caraca! É quase um ato completo de sedução, levantar para cumprimentá-la, puxar a cadeira pela primeira vez, vê-la delicadamente segurar o vestido contra o quadril, até se posicionar sentada, e ajeitar os cabelos te olhando com cara de desconfiada imaginando o que pensara dela até o momento...
É incrível como fui seduzido por pequenos prazeres que há muito não me eram capaz de fazer sorrir. Meu sorriso estava de volta enfim, e não aquele de canto que esboça o descontentamento por detrás do dia, mas sim aquele leve que me faz esquecer os percalços do caminho.
Ao voltar a tomar meu assento, olhei-a novamente incrédulo quanto ao tempo que havia desperdiçado diariamente, sem notar aquela luminosidade que pareceu tomar conta do ambiente... Estava cego quanto a mulheres, cego! Fui capaz de entender o que um velho amigo dizia-me sempre com uma certeza inabalável: Mulher boa é aquela que se faz notar somente quando quer. As rainhas do baile que me desculpem, mas delas até hoje só extrai frivolidade, superficialidade e orgasmos forçados. Aprendera muito mais com aquelas meninas que aos olhos do mundo estavam fadadas ao canto da sala, sentadas esperando que uma aproximação masculina fosse uma oportunidade de crescimento mútuo, e não um trampolim!
Eu estava embaraçado com aquela situação, estranho para um falastrão como eu, então a primeira pergunta que me veio a cabeça era relacionado ao tipo de som que ela gostava de ouvir! Como? Fui capaz mesmo de perguntar isso logo ao sentar na mesa? É, fui... Esperei por um segundo a resposta que eu achava que estragaria minha noite, algo entre eu gosto de Calypso, ou sou eclética. Não veio, ouvi com em um tom firme e confiante, curto light rock, as vezes até um pouco de Metal pra limpar a casa.
Nessa hora, acho que o meu sorriso ficou duas vezes maior que a minha boca, primeiro por não ter ouvido uma bobagem qualquer para desviar o assunto da música, e segundo por ela realmente ter algum tipo de gosto músical. Acreditem, é raro!
Intrigante, não a imaginara até aquele momento ouvindo nada além da campainha insistente dos leitos no hospital! Surpresas pareciam fluir desesperadamente, quanto mais ela falava, mais sentia vontade perguntar, vontade de virá-la do avesso, de abrir o pote de azeitona correndo como quem tem necessidade de comer as azeitonas uma a uma até conhecer o conteúdo do pote inteiro...
Por um momento lembrei o fato de ali só servir comida oriental, como me surpreendi! Como é de costume dizer, bate firme(provavelmente tomarei uns beliscões quando ela ler). Comia deliciosamente, apreciando o peixe, e me educando melhor sobre cultura oriental... Aprendi com ela, como é bom aprender com pessoas, havia me esquecido do valor que isso tem, minha vida foi tão entregue a escrita como aprendizado que aquelas palavras sinceras me faziam experimentar algo único.
Era chegada a hora crítica do primeiro encontro, e não, não se trata do beijo roubado na soleira da porta. Mas sim de falar de relacionamentos passados, não queria lembrar de nada, mas como é um praxe estampado na cara dos meus primeiros encontros ela perguntou: - E o coração como tá? Ali foi a primeira vez que me senti tentado a esquivar dela, meio que com uma vontade de voltar pro Del, pra pracinha e o pro filme no telecine. Respondi com um olhar brincalhão: - Batendo, como sempre... Ela entendera o recado pela sua cara de descontentamento, mas como uma de suas qualidades mais irritantemente encantadoras é ser teimosa, hoje sei disso, ah como sei! Perguntou de novo: - Ninguém escapa de falar disso, pode falar, como tá?
Convite feito, reafirmado, fiz a missa completa, expliquei o que levei de aprendizado de relacionamentos anteriores, expliquei, expliquei, expliquei. Ao final do sermão ela foi capaz de me olhar nos olhos, como quem tenta descolar qualquer pedaço quebrado de tristeza dentro de vc, e puxá-lo para fora. E disse: - Passou, morre-se o relacionamento e ficam-se os indivíduos, foi assim que aprendi com a minha mãe. Só consegui afirmar com a cabeça, e admirar a estranha naturalidade com que ela falou do passado, e de términos. E pela primeira vez em toda minha vida não retribui a pergunta sobre relacionamentos a alguém, não interessava. Se pensara realmente o que foi capaz de pronunciar, queria conhece-la hoje, sua bagagem de ontem que rolasse ladeira abaixo, não fazia parte do meu caminho. Foi assim que ela me fez, quase que por inocência, dar um passo no vazio como se estivesse andando sobre concreto. Me apaixonara novamente...

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