sábado, 17 de dezembro de 2011

Payback is a bitch!

"Eu mudei, não sei bem o que quero". Deve ter sido mais ou menos isso que escutei da sua boca na época em que a minha mudança ocorreu. Não lembro com detalhes, a memória insiste em falhar e me remete somente ao nada. O fato é que eu mudei ao ouvir isso.
Escrevo sem propósito, só por você ter me ensinado o quão bom é mudar.
Gostar de alguém a ponto de deixá-la te transformar é fácil, tente agora deixar de gostar de alguém com tanta vontade, sei que isso também transforma.
O bom da vida é poder riscar palavras do vocabulário. Depois de nós, eu tirei várias do meu: Jantar, romance, paixão, flores, e Amor. Sua aula de educação sentimental me foi muito útil, aprendi que demonstrar é se enfraquecer aos poucos, e através dessa exposição se mostrar vulnerável, e como você mesmo dizia "confiar não é fácil".
Sabe, meu bem, depois de você tiveram várias mulheres, entretanto nenhuma de verdade pode entrar. Esperaram em fila do lado de fora. Não pense em nenhum momento que é porque o lugar está preenchido pela sua presença, como seria habitual de seu egocentrismo. Isso ocorreu pois você me ensinou que do lado dentro só nos mesmos podemos habitar. Olhe só, me ensinou lições boas, apesar de sempre ter tido intenções duvidosas para com o meu coração. 
Não se engane ao me ver, perdi toda aquela prolixidade que me era tão inerente. Não faço mais declarações de amor pós coito, nem encaro gentilmente esperando-a adormecer, muito menos acordo no meio da madrugada por um pedido de copo de água. Sou ocupado, trabalho, e não  me sujeitaria a nada que não fosse o silêncio, o sono, ou um até breve.
Evite se sentir usada pelo que aconteceu aquele dia, essa não foi a minha única intenção. Se levantei tão rápido da cama, mesmo depois de tanto de tempo de ausência, fique tranquila... Nada tem a ver contigo, é só porque eu mudei.
Com carinho,
E.


.....

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Inominado

Eu só queria poder me livrar dos dias nublados...
Em tempos em que eles teimam aparecer é o seu cheiro que eu sinto trazido pelo anúncio da chuva.
Então alguém mais vivido me diz que a vida segue, talvez de tanto escutar que ela siga, ela seguiu. Contudo não esqueço do pedacinho de alma que escorregou entre os outros milhares de pedaços e fez de sua morada um tempo tão distante.
Parece que a estrada para que eu pudesse me educar à sua ausência fora tão longa que não tem inicio, não tem marco, não tem fim. Sinto somente que progredi o suficiente nela.
Tentei tantas vezes entender o que deu errado, tentei dissuadi-la de tantas formas, acabei sentado com um copo vazio de frente ao meu reflexo, tentando somente entender o porquê aquilo que era nada ao redor tornara-se um edifício tão grande dentro de mim.
A partir desse dia resolvi me domesticar, aprender a fazer com os meus impulsos a mesma coisa que a astuta mulher fizera com os dela desde o início. Pobre homem, que nasce sabendo brigar, esbravejar e beber, quisera eu ter perspicácia e sensibilidade feminina de saber medir palavras como quem mede duzentos mililitros a olho nu... Maldita seja a capacidade feminina de medir duzentos mililitros a olho nu!
Criei um sistema para enganar os meus sentidos, mudei de rota para nunca mais vê-la, mudei o meu perfume para que o cheiro não fizesse alusão aos elogios feitos um dia, mudei as roupas para que ao olhar não sentisse na pele as suas mãos. Fui forçando-me a te deixar, desconstrui aquilo que era edificado, e aos poucos movi para a lembrança.
Sinceramente, essa foi a minha memória mais dolorida, não a da perda, mas a da perda do sentimento. Dizer adeus ao amor que eu senti foi a ferida mais profunda que poderia ter aberto em mim mesmo. Desde sempre combati a ideia de que amor fosse eterno, após muito tempo, sinto que os sentimentos são eternos. Não há como sentir algo por alguém um dia, e aquilo desaparecer... Aprendi que sentimentos são como matéria, não somem. Podem modificar-se ao longo do curso dos dias, mas existem uma vez que despertados.
Hoje acordei sentindo o seu cheiro. Ao abrir a janela constatei que o dia realmente estava nublado...
Traindo todo o caminho pelo qual andei para esquecer, desperto um sentimento ao pensar nela, o qual um dia foi paixão, foi amor, foi mágoa, foi ódio, e hoje é inominado.

sábado, 6 de agosto de 2011

Folhas...

Na cidade onde eu nasci conta-se uma história de um homem que inventou as folhas.
Certo dia veio uma criança, ninguém sabe bem de onde ela surgiu, que passou toda a sua infância recortando objetos, papéis, retalhos, peles, tudo o que caia em suas mãos.
Ele se chamava qualquer nome comum, desses que são esquecidos ou trocados com o tempo.
No começo ninguém entendia o porquê daquela 'cortança', eram pequenos pedaços de coisas por todo lugar.
Sua casa se tornou cheia, e quando completou 18 anos parou de cortar.
Dali em diante ficou trancado uns dias em seu quarto, dizem que viajou depois que pulou a janela... Sumiu durante algum tempo, e com seus 30 e poucos retornou.
Antes, bem antes de muitos de nós nascermos, as árvores eram só galhos, vazias, sem amor; um dia esta criança, já homem crescido, passou sua saliva na ponta de cada objeto.
Saiu na rua e levou uma trouxa dessas coisas para baixo de cada árvore que ia...
As pessoas paravam encantadas.
O tal homem foi colando as coisas uma a uma. Sua delicadeza era impressionante, colava a ponta da coisa na ponta do galho, nenhuma caía, apesar do vento.
Verdade que alguns torciam para a quebra daquelas árvores, esperavam atentos quando tudo ruiria... Ele sabia que eventualmente alguma coisa tombaria, mas sabia também que aquele era um recomeço.
Dizem que ele passou todo o final de sua vida em florestas, colando a sombra que antes não havia.
Foi ele quem inventou as folhas das árvores...
Dizem que ele faleceu abraçado a uma, sob a sombra de uma sequóia-gigante - a maior árvore do mundo - e a dor dele dizem que foi a maior dor que se sabe hoje em dia...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Salvação

As mãos morenas e ressecadas contam com felicidade as pedras assentadas pela estrada...
Ah, aquela estrada ingrata chamada vida! Sempre a maltratou como se não houvesse amanhã, não bastava sofrer um pouquinho mais hoje, tudo era sempre muito mais.
Sessenta e oito anos vividos. Mas quanta doçura a vida amarga lhe dera? O sorriso envergonhado da falta da prótese, os olhos imersos em bondade, as palavras sábias, e a calma perante a dor insuportável. Manteve-se fiel aquilo que nem em teoria soubera o que viria a ser. Nunca conheceu a bondade.
Algumas vezes lhe faltavam até mesmo as palavras... O que nada tinha relação com pobreza de espírito, faltava lhe simplesmente o que falar ao mundo.
"Tá bom", "Bem". Faltava-lhe coragem até mesmo para admitir a própria dor física, sempre bem, mesmo tendo a certeza do contrário. Quanto aquele outro tipo de dor, o que faz chorar a alma, sei que estava presente, apesar de nunca ter percebido manifestação alguma de lágrimas ao relembrar o passado. Lugar de tristeza é no banheiro, ouvi-a dizer baixinho um dia ao contar dos desgostos da vida.
Hoje ela iria embora. Salvação aqueles jovens doutores lhe deram...
Onde estaria a salvação em um instante sem explicação? Foi-se ela, sem previsão. Diferente do que imaginávamos, diferente do pretendido...
Mas é claro que lugar de tristeza é no banheiro, 10 minutos de choro me renderam mais uma lição amor ao próximo.
Já a vida lhe rendeu a salvação. Era hora de partir...




As almas mais lindas que vi até hoje são as que foram submetidas as maiores privações físicas ou psicológicas...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dores e Resiliência

Eu sempre falo sobre os males dos outros, suas dores, pessoas cicatrizadas, pessoas feridas, abertas ou fechadas feito ostras que choram suas lágrimas para dentro.
Por mais que eu tenha conhecido seres tão machucados, a resiliência é sempre o que me surpreende. Surpreende ela em mim e nos outros, essa nossa capacidade, em alguns, inata ou desenvolvida de vencer, de superar, de se cortar em obstáculos, porém jamais abrir mão da vida. É realmente impressionante!
Esses dias conheci outra alma extremamente machucada, suas feridas são imensamente incontáveis e indescritíveis, tão indescritíveis que não poderei citar nada aqui.
O complicado é ver e tentar compreender como alguém com tamanhos buracos no espírito consegue se manter de pé após tantos anos, como consegue superar períodos de quase morte (literalmente), de solidão, de afastamento, de corrompimento, de abstração.
Superar deveria ser do ser humano, porém algumas pessoas não têm essa capacidade, permanecem imóveis, num contentamento descontente de si mesmas, da vida que levam, do futuro que chegou, do não reconhecimento merecido, da falta de família, da falta em geral. Essas que continuam de pé feito plantas, vegetando uma semi-vida, uma vontade partida de se tornar algo melhor para uma sociedade que dificilmente irá reconhecer alguma coisa disso. Parafraseando Raul Seixas: são pedras que choram sozinhas no mesmo lugar.
Essa pessoa que eu conheci não é uma planta nem pedra, é gente – é humana – é real – é vívida.
Sua história é de dar inveja até em mim, que sempre me considerei cheia delas, e suas mudanças, superações são ainda mais incríveis.
O que faz alguém crescer independente do que aconteça?
Força de vontade? Autoestima? Fé? Autoconfiança? Eu não sei, mas poderia ser resumido na palavra resiliência ou sinônimo disto.
Vencer e continuar batalhando não é para qualquer um.
Ainda não se sabe muito sobre essa tal Resiliência, semanticamente expressada como sendo a “Capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”, mas eu poderia inventar um novo conceito baseado no que já vi. Para mim isto não é nada mais do que capacidade de encantamento.
Encantamento com o mundo, apesar dos males; encantamento com a vida, apesar de tanta gente ruim; encantamento com Deus, apesar de muitos O deturparem; encantamento consigo, apesar de todos os erros que já tenha cometido.
Conseguir fazer emergir uma visão absolutamente mágica sobre tudo o que nos cerca, uma imagem quase poética de todos os acontecimentos. É exatamente isto o que motiva e eleva o espírito a momentos melhores. Capacidade de ser aquilo que se quer e conseguir aquilo que se almeja, isso para mim é tudo em uma pessoa.
Alguns dizem que certas histórias podem ser más companhias, mas eu tenho certeza de que não são, porque essas pessoas são aquelas que nos ensinam o outro lado da vida, são seres bons que apesar de todas as mortes têm a habilidade mais incrível do mundo: saber viver.

Ciúmes x Amor

Algumas pessoas defendem o ciúmes, dizem que é para apimentar a relação, que pouco não faz mal, que é até um afrodisíaco, afinal, onde já se viu não ter ciúmes?
Quem ama tem ciúmes! Afirmam categoricamente.
Isso é a maior besteira.
Por favor, pessoas lindas, parem com esta ideia de que amor tem algo com ciúmes.
Ciúmes é falta de segurança, é a baixa autoestima que nos trai – você é realmente um corno por deixá-lo fazer isso com seus sentimentos, porque ele é traiçoeiro, egoísta e infiel, já que trai o próprio dono.
O ciúmes não tempera, faz aumentar o sabor de tua intolerância, preconceitos, imaginação fértil (porque têm muita gente que só imagina coisas, passa o dia fantasiando), ele é pimenta que arde nos olhos e no coração próprio de maneira exagerada, mesmo quando se tem pouco.
Ter desconfiança é sempre mal negócio, isso não é sinônimo de amor, isto é falta de amor próprio, falta de autoconfiança e de confiança no parceiro. O ciúme tem caso com o passado do outro e com o futuro, e quem passa a trair é você porque não pára de pensar na secretária gostosa que ele tem, na amiga divertida, no amigo cavalheiro, no chefe gente boa.
O amor não tem nada com isso, libertem o amor, por favor!
Ter ciúmes é como pedir um prato no restaurante e ficar procurando o fio de cabelo que caiu, sendo que quando encontra é da sua própria cabeleira - de tanto ficar debruçado sobre o prato coçando a cabeça de preocupação ao buscar algo.
É uma pequena semente, como as de mostarda, que são capazes de fazer brotar árvores gigantes.
Não se iluda, ter ciúmes só faz mal para si mesmo.
Ciúmes não é poção mágica, é veneno injetado direto na veia.
No começo dá barato... Mas o preço que se paga é alto.
É realmente como qualquer droga – no final das contas só trai e mata o próprio viciado.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pobremas...

- Dotô, to com um pobrema de pititi atacada.
- Tá comendo demais, ou não tá conseguindo comer?
- Não, esse é o pobrema de strombo. To com aquele pobrema faz girá tudo atacado...
- Labirintite?
- Esse mesmo... Mas o strombo tá bom não, causa di que to com sistema nelvoso...
- Entendi, mas o que você sente com esse sistema nelvoso?
- Ahhh dotô, dá uma gastura no peito...
- Dor no peito?? Essa dor vai pro braço? Tipo de infarto?
- Não é dor, é gastura...
- Tipo queimação?
- Não, tipo gastura mesmo...
- Hum... Mais alguma coisa?
- Não, já desataco o nelvo asiático. Só isso mesmo...
- Que bom, a gente já trata a labirintite, e o sistema nelvoso hoje, então...



Comunicação é muito fera. As vezes para conseguir tratar um paciente é preciso mais do que conhecimento, é preciso conseguir se projetar no mundo dele...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Lição

Hoje ouvi de um professor uma lição que eu vou carregar para o resto da minha vida...
"Para ser médico é preciso de 4 coisas, são elas: Humildade, Bom senso, Amor ao paciente, e Conhecimento. Sendo que as três primeiras são obrigatórias, e o Conhecimento é somente um opcional...".
Acho que concordo com ele, de verdade...

Denúncia

Dilemas éticos, morais quanto a uma amizade, um romance, um gostar e a coisa supostamente certa a se fazer.
O tempo todo julgamos as pessoas que não conhecemos, mas e quando temos que julgar um amigo?
Uma das coisas mais pesadas que se deve fazer é isso, crucificar o próprio companheiro em pró de uma sociedade doente que nem mesmo sabe fazer justiça.
Certa vez, há muito tempo, eu tive um amigo, muito amigo, que ficava com uma menina de 12 anos. Ele tinha 18 na época.
Eu sempre soube, desde então, que ele poderia ser denunciado por estupro, até porque foi ele mesmo quem tirou a virgindade da namorada.
Ele também sabia que era "errado", mas ela não tinha cara nem cabeça de 12 anos, ela provocava, forçava, eu via!
Então todos que sabiam se calaram, achavam graça, bonitinho, e ninguém jamais denunciou.
Eu não denunciei, nem a família dela (que aliás sabia de tudo), mas sempre fica aquele eco sobre o que era "certo" a se fazer.
Depois livrei um outro cara da prisão. Não convém dizer os porquês, eu só não achava que valeria a pena processar alguém e acabar com uma carreira, manchar uma vida inteira.
É muito complicado.
Tenho um amigo, muito amigo, que teve que "julgar" o próprio amigo, ele disse que ele era um fardo para o grupo, que os colocava em perigo e por isso era necessária a sua "crucificação".
E o crucificaram.
Ele me disse que a coisa mais difícil de tudo foi isto, ter que julgar um amigo e condená-lo "à forca", mesmo com a pessoa pedindo e perguntando se havia como evitar tudo aquilo.
Mas e quando não crucificamos, e quando a amizade faz com que você veja um outro lado da pessoa, das coisas, do mundo, não justificável, mas compreensível? Foi errado eu não ter denunciado tantas pessoas que conheci e outras que ainda conheço?
Qual o meu verdadeiro dever?
Ética - a minha ética de quem sabe que não é a coisa mais sábia a se fazer.
A moral - corrompida em si mesma pela maioria não denunciar nem mesmo as podridões do governo, a moral desregrada e invertida. Se fosse moralmente correto denunciar, estaria eu sendo imoral, mas ética?
Qual o preço que se paga? Sempre me questionei isto.
Não estou apta a julgar ninguém, mas quando você se vê ao lado de alguém que realmente infringiu as leis da forma mais grave possível é como se houvesse um distanciamento repentino, uma compreensão antes esquecida.
Quais as consequências do nosso julgamento?
Quais as consequências do nosso perdão?
Quais as consequências para aquele que não é pego?
Quais as consequências para mim que sempre fui uma cumplice?

terça-feira, 12 de abril de 2011

Aos 23

Nunca fui muito fã de aniversários, é claro que gosto de paparicação advinda deles, mas não sou do tipo que se ressente por não ter uma festa, ou por receber uma ligação somente no dia seguinte. Hoje, pela primeira vez, depois de todo esse tempo sinto como se essa data fosse realmente importante.
É fato que a vida empurra a gente para as situações mais inusitadas, mas esse ano acho que como nunca eu me superei... Aprendi muito, errando, finalmente acertando, e por mais que sentisse o chão cada vez mais próximo da cabeça, permaneci sobre mim...
Aos 22 aprendi que a minha maior fraqueza mora dentro de mim, o meu orgulho, e que ao lado dele mora também a minha maior virtude, a minha resiliencia. Sabendo disso, talvez, e somente talvez, consegui lidar com tudo aquilo que fosse proveniente de orgulho ferido, me tornando mais forte, e mais maduro cada vez que o sol que se colocava abaixo dos pés de um dia cansado...
Aos 22 aprendi que a maior alegria e a maior tristeza de se trabalhar com pessoas andam de mãos atadas. Que sentar de frente com alguém que não se conhece, e ouvir suas aflições te leva quase a loucura, coloca não somente o peso do seu próprio mundo nas costas, mas inflige um peso extra pelo mundo dos outros. Embora, somente dessa forma, aquele abraço recebido no pós consulta e o sorriso de quem leva aquela receita como esperança na forma de papel, fará te sentir melhor pelas tristezas do mundo afora.
Aos 22 aprendi que existem pessoas muito boas no mundo, mas também existe gente genuinamente ruim. Fui capaz de ver o quanto a bondade e o altruísmo genuíno são fontes de amor puro, e fazem com que a vida de todos ao redor seja afetada. Consegui entender que gente boa algumas vezes faz coisas ruins, mas que de gente ruim não devemos esperar nada além de coisas ruins. É a vida, e o bem e o mal nem sempre coexistem dentro de todos nós, não em todos nós. Sociopatias e psicopatias existem de fato, e que as pessoas mais inofensivas podem guardar dentro de si uma besta capaz de manipular indiscriminadamente as pessoas ao redor...
Aos 22 aprendi que tudo tem uma causa, não importa o quanto tempo demore para que se possa entender ela estará lá te esperando. E a causalidade das coisas serve tanto para o passado quanto para o futuro, tudo que passou teve um porquê anterior, assim como tudo que virá é devido ao dia de hoje.
Aos 22 aprendi que Amor não morre de morte matada, e que tão diferentemente da maneira como morre nasce de parto normal. Amor morre por negligência, é abandonado e ali fica exposto ao tempo e a  suas provações, morre de abandono. E após o fim de um, outro nascerá inevitavelmente, de forma natural, sem cortar a barriga, sem machucados, e pronto para ser cultivado, pois se tem algo que eu aprendi a acreditar é que o ser humano é fonte inesgotável de amor inesgotável...
Aos 22 aprendi que eu adoro lidar com pessoas, e que algumas pessoas são essenciais na minha vida. Alguns amigos permanecem apesar do tempo, apesar das minhas eventuais sumidas, e ali estão sólidos como nunca. E podem se passar anos, mas ao se ver parece que a ultima conversa foi ontem, e que o adeus nunca existiu...
Aos 22 aprendi que se família não é tudo, é pelo menos um bom começo para a felicidade. Pude constatar o quanto sou abençoado pela presença dessas pessoas que nunca me abandonaram, e me apoiam, cada um a sua forma, e sempre estão prontos a servirem de muralhas até mesmo nas piores guerras. E, que a primeira coisa que desestrutura o ser humano é a ausência dessa referencia familiar sólida...
Aos 22 aprendi que apesar de existirem várias pessoas que querem o meu melhor, a única criatura capaz de me prover uma lealdade absoluta é o meu cão. E que essa forma de amor cego, só é possível quando se tem um animal, e se faz dele uma extensão de si mesmo, tentando ser sempre o melhor de si mesmo para ele.
Se há alguma certeza que eu possa ter hoje aos 23 é a de que a incerteza de tudo me faz acordar a cada dia esperando a próxima bênção, e que tudo a partir daqui é construído sobre os 22...

domingo, 3 de abril de 2011

Dani

Uma vez eu escutei de uma amiga que eu jamais deveria deixar de ser atencioso, gentil e me esforçar ao máximo para agradar uma mulher. Na época o conselho veio em resposta a uma fase em que eu estava desiludido do amor e outras coisas.
Foi meio óbvia a minha resposta, na hora saquei todas as minhas armas em defesa da boa e velha arte do cafajeste. Recebi um sorriso em troca, e novamente ela reafirmou que por mais machucado que eu tenha sido, eu deveria agir com a próxima como quem começa do zero, esquecendo as provações pela qual a anterior havia me colocado.
A noite terminou com vários copos vazios, e um sono alcoolizado.
Recentemente, devido a alguns acontecimentos, esse fato me veio a cabeça.
Eu não segui o conselho por completo, me tornando alguém ressabiado, como um cavalo velho que mede seus passos entre a marcha e o trotar, sempre amedrontado de ter que se deparar com a espora queimando o lombo. Por mais que ela fosse atenciosa, cuidadosa, e paciente eu me recompunha sempre em posição de guarda.
Assim me tornei alguém justamente como quem um dia me machucou. Tornei-me frio, um planeta de superfície fria, com um coração quente pulsante por dentro. Em dias me desfazia em amor, em outros me fazia rocha sólida, incapaz de discar alguns números e dizer o quanto ama, o quanto quer perto, e cuida. Minhas feridas supuravam a cada dia, e eu não era capaz de agradecer a mão que me acalentava.
Perdê-la nunca me pareceu grande coisa, mesmo após de fato ter ocorrido a separação.
Afinal, não se perde aquilo que continua presente. Dessa forma ela se fez, como quem mantém a presença mesmo não estando ao seu lado na cama. Estava ali, eu sabia, ela sabia. A mão ao telefone era capaz de colocá-la de pé em frente a minha porta, isso me trazia um conforto e segurança. Embora não fosse o suficiente pare permitir que eu me desfizesse em amor verdadeiro.
O tempo passou, o impulso do telefone deixou de existir, a vida seguiu. Encontrei alguém, fui capaz de me desfazer, capaz de reintroduzir alguém aos poucos na minha vida, mesmo ainda tendo medo de sofrer. Mas ainda sabia que a porta estava ali, bastava a mão áspera discar os números e ser capaz de pronunciar as palavras macias que ela tanto ansiou ouvir. Não aconteceu, talvez nunca vá.
Ao ouvir que está indo para longe, fui capaz de sofrer pela primeira vez por Ela. Os tempos são outros, o amor é outro, mas o sofrimento se fez presente da forma mais dolorida, em reflexão. O incomodo foi tamanho que me senti desamparado mesmo sabendo de toda a estrutura que me acompanha. Pensei, sofri, pensei de novo, e ela se foi. Já tinha ido, mas permanecia. Era A Ponte, ficou no meio do caminho, entre o sofrimento, e a felicidade dos novos tempos. Desmoronou devido a falta de uso e o tempo, e foi embora com as águas que não passam de novamente.
Sei que o melhor a espera no lugar distante, sei sim. E por mais que eu saiba que A Ponte sempre me faria lembrar do que está do lado de lá, eu me desfaço em choro pela sua ausência.
Até um dia minha querida Ponte, espero que um dia eu possa fazer de ti um chão sólido para enfim residir, seja na forma que Deus desejar. Nunca perca a sua pureza, e a sua alegria em viver, pois foram elas que me fizeram cruzar o percurso.
Você ainda é a melhor pessoa com a qual Deus me deu o prazer de conviver...

sábado, 2 de abril de 2011

Aforismo

Penso que ouvir seja a maior expressão da fala...
Letícia Conde!

terça-feira, 29 de março de 2011

Bruna Surfistinha

Acabo de assistir ao filme de Bruna Surfistinha.
Assisti ao filme porque creio que eu jamais leria o livro; sim, eu tenho preconceitos.
Preconceitos obviamente pré concebidos pelo conteúdo de que se trata e sua autora, assim como pelos conceitos posteriores das pessoas que o leram.
O fato é que de alguma forma eu me identifiquei.
Não porque eu queira ter a vida que ela teve – eu não tenho esta ilusão. Ela deu sorte!
O que me tocou é que por mais que as pessoas sejam hipócritas umas frente às outras, quem nunca quis fugir?
Ela fugiu, ela saiu e foi fazer seu caminho. Deixando de lado o fato de ter ido para ser prostituta – ninguém deveria julgar isto -, ela fez algo que todos já quisemos fazer.
Que atire a primeira pedra quem nunca chorou de madrugada pensando em deixar a sua casa, quem nunca imaginou como seria sua família sem a sua presença, quem nunca teve vontade de só sair, fugir, correr, se esconder, nem que fosse somente por um dia.
Quem nunca se cansou?
Quem nunca se esforçou da maneira errada? E há maneira errada de se viver?
Todos temos nossos limites, não posso julgar o dela, muito menos chamá-la de mimada.
Eu tenho uma amiga que fazia entregas de comida a pessoas necessitadas e certa vez ela me contou que conversando com essas almas supostamente abandonadas na verdade quem havia sido abandonado era a família delas...
Muitas pessoas que estavam lá, debaixo de pontes, nas ruas, marginalizadas não estavam porque alguém as deixou para trás, em verdade, em seus pontos de vista, foram elas quem seguiram em frente.
Almas que foram viver sozinhas, viver libertas por não pertencerem àquele grupo. A nenhum grupo.
Eu já pensei muitas vezes em largar tudo.
O que a Bruna, ou Raquel, fez foi só ter tido a coragem.
E afinal é pior fugir ou ficar?
Dizem que correr nunca é a solução, que devemos ficar e encarar os problemas.
E podemos culpar aqueles que não foram feitos para isso por isto?
Por que ela ter saído de casa seria fugir?
Há dois pontos de vista, um diria que ela fugiu, fez o mais fácil, se distanciou do problema.
Outro diria que, muito pelo contrário, ela encarou. Saiu de sua vida falsa, de família fingida, e encarou o mundo, deu a cara à tapa, se arriscou.
Assim como nas cenas dela soltando o cigarro do alto e observando sua queda, ela também pulou. Saiu de sua zona de conforto, mergulhou no abismo que é este mundo.
Talvez não, quem sabe ela fez o que muitas fazem por pura preguiça de sair de casa com honestidade, sem precisar roubar, por exemplo.
Eu não sei, e não estou aqui para julgar...
Mas se me perguntarem agora o que acho dela, devo admitir que tenho forte tendência em dizer que no final ela foi verdadeira consigo, coisa que poucos hoje em dia sabem ser.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Hiato

- Oi, Pim.
- Japinha, que susto! O que vc tá fazendo aqui?
- Detesto quando você me chama de japinha, minha mãe é brasileira, e eu nem tenho cara de japa! E além disso detesto os japas da família do meu pai...
- Eu sei, por isso mesmo eu chamo...
- Então, respondendo a sua pergunta, eu to coletando dados pra fechar minha pesquisa, por isso vim parar aqui nesse fim de mundo.
- Bom, pelo menos você tá aqui por opção, e eu que fico aqui por dois longos meses... Mas sua pesquisa não era pra sair só ano que vem?
- É só pro ano que vem, mas preciso coletar todos os dados ainda hoje porque não volto mais aqui...
- Nossa, tudo bem que é longe onde a gente tá, mas não precisa exagerar.
- Não, Pim. Eu to indo viajar, saiu a bolsa do intercâmbio, e a CCInt me aprovou na seleção.
- Como assim? E me contou agora só?
- Pim, não tinha porque te contar né? Você sabe bem do que eu to falando...
- Ok, mas não precisava ficar sabendo assim. Deixasse um depoimentos, e-mail, sei lá.
- Pim, a sua namoradinha não iria gostar, você sabe bem disso.
- Pode para! Sem essa, ela respeita a nossa amizade, e sabe de tudo que aconteceu. Mas quando tá indo?
- Quarta.
- Porra, tá me zuando né?
- Não fala assim, eu não gosto quando você fica assim...
- Eu nem sei o que falar, mas sei lá... Sei lá nada, de verdade queria que você tivesse me avisado...
- Desculpa, sério mesmo, eu achei que seria melhor de outro jeito. Então, eu queria te pedir uma coisa, antes de ir.
- Já que não tem jeito, pede...
- Eu queria ver o Dell, to morrendo de saudades dele!
- Isso é fácil, eu levo ele na sua casa hoje. Pode ser?
- Pode...
- Eu tenho que ir atendender, tá embarracado aqui hoje.
- Eu sei, to vendo... Pim, eu queria que tivesse sido diferente, mas você sabe que eu preciso disso depois de tudo que aconteceu, e que eu sempre estive aqui...
- Sei... Eu te entendo, mas queria você por perto pra sempre. Você sabe a importância que teve pra eu me tornar quem eu sou hoje, além disso eu me sinto seguro sabendo que você está a duas quadras de distancia, apesar dos pesares... Mas é egoísmo meu, né?
- Você mesmo sabe que é! A Espanha é um lugar totalmente comunicável, vc me liga!
- Ligo... sempre. Só antes de ir, queria te falar que você é a melhor pessoa que eu já conheci até hoje, e eu amo e me orgulho demais da pessoa eu vejo na minha frente...
- Eu tenho medo quando você fala assim, parece que o tempo é só um hiato entre agora e um final feliz... Tchau, Pim...
- Tchau...

sábado, 19 de março de 2011

Terceira Turma, segunda rodada.

No final somos nós contra nós mesmos.
Os dias vão passando, pessoas novas vão chegando e fui me dando conta de que cada um tem sua história, seus medos, saudades, dores, dificuldades.
Quase ninguém sabe o que está fazendo ali, muitos nem mesmo têm dinheiro para se manter – ainda que sendo uma faculdade pública.
Com as conversas que aos poucos vão se formando e integrando todos, pude observar que realmente cada um é lindo da sua forma, à sua maneira.
Os papos sobre saudades de casa de lá, sobre falta de casa aqui, sobre os medos de não se formar, não gostar, não conseguir emprego...
No final das contas, cada um cresce de um jeito, não tem como segurar, evitar, permanecer num estado de conforto.
E por mais difícil que possa parecer, eles persistem – ao menos por enquanto. Se perdem pela cidade, pegam o ônibus errado, chegam atrasados, não sabem voltar para casa, não entendem a matéria; é uma delícia pensar que sou uma deles.
Porque eu também sofri, mesmo tendo condições de pagar tudo o que já gastei, a vida me fez crescer antes, e hoje eu vejo as circunstâncias forçarem aqueles pequenos jovens a também se tornarem responsáveis, independentes, guerreiros.
Eu tive oportunidades que muitos ali não tiveram, e talvez nem nunca tenham, e pela primeira vez eu consigo ver que isso não faz de mim mais velha ou mais conhecedora, nem menor ou melhor, maior ou pior, só igual na medida em que cada um acaba vivendo o que veio à Terra para viver, e cada um se fortalece da forma como necessita naquele momento.
Pela primeira vez não estou formando ideias, nem julgando, eu quero mesmo é me jogar, viver, sentir o vento no rosto e novamente sorrir ao encontrar pessoas que talvez nem venham a ser meus amigos (daqueles que você pode contar para toda hora), mas colegas queridos que fazem parte da mesma luta, mesma guerra, mesma turma.
A vida não é fácil, e meu erro sempre foi achar que era difícil somente para mim; as poucas pessoas que passaram por dificuldades como as minhas se tornaram minhas amigas. Sempre achei que aquele povo com qual eu estudei talvez nunca venha a saber (alguns!) o que realmente é sofrer na vida.
Todo mundo me disse que eu encontraria a minha ‘tribo’, os ‘estranhos’ como eu. Mas aqui eu não encontrei a minha turma por eles serem tão diferentes como eu sou, muito pelo contrário, eles são extremamente normais até onde vi, mas me alegrei por serem pessoas que realmente estão aqui para batalhar, sozinhas, com suas feridas abertas, já quase chorando no primeiro dia. Se emocionando ao falar de casa, dividindo a dificuldade que é sair de sua cidade sem dinheiro, sem emprego, sem nada. Somente consigo.
Isto é realmente difícil. E eu admiro a coragem delas, pois creio que eu mesma não teria essa força.
Porque no final somos nós contra nós mesmos, ultrapassando as barreiras que criamos desde pequenos, pulando por cima do preconceito contra si e se desesperando por não ter condições de pertencer a este lugar, talvez.
Cada um com sua história, sua vida, seu testemunho e seu ponto de vista.
Não é nada do que eu pensei, ninguém escreve, nem ama escrever, e lingüística pouco fala sobre a língua em si, mas sobre a linguagem.
É uma ciência, e trabalha mais a fala do que a escrita, por exemplo.
Eu cai do cavalo, e isso é mais do que bom. É maravilhoso.
É, às vezes a gente ganha esses presentes da vida.
Ali quase todos vão começar a lutar (ou continuar lutando, quem sabe), mas que eu me faça as pazes e ajude da melhor forma aqueles naquilo que eu aprendi (um pouco): vencer a si mesmo e se conquistar.
Eu cheguei até aqui lutando comigo mesma e tudo o que espero é poder sair abraçada com meu Eu.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quem não aprende pelo amor...

Se tem algo que eu aprendi na vida é que na esmagadora maioria das vezes meus pais estão certos ao opinarem sobre o que eu tenho de fazer, ou não. Embora, isso de maneira alguma configure a totalidade das minhas atitudes, tento pautá-las a medida que ouço o que os anos de experiência e o amor deles tem a me dizer.
É claro que aprendi isso com o tempo, aos 15 se meu pai dissesse para ir as aulas de inglês eu provavelmente dormiria a tarde toda no sofá. Era como se qualquer palavra dita virasse um letreiro luminoso com o oposto na minha cabeça, e não adiantava explicações ou ainda discussões homéricas sobre o assunto, eu sempre queria fazer o contrário.
Minha teimosia me rendeu alguns tropeções, e o mais incrível era o pensamento que me acompanhava em casa um deles. Aquele pensamento chato, do tipo que ecoa na cabeça, irritante, e que termina sempre com aquela frase "eles me avisaram". Pois é, a experiência é capaz de trazer a possibilidade antever algumas coisas, e quando alguém realmente se importa com o outro deve-se falar o que está por vir. Amar alguém também dá a inconveniente tarefa de alertar e zelar pelos passos a serem dados.
Algumas pessoas nunca estiveram no lugar de quem zela, por não amarem, ou por não se importarem com alguém a ponto de se indispor ao falar o contrário daquilo que o outro espera escutar. É com essas pessoas que talvez viva a maior incapacidade de ouvir e assimilar o que é dito. A cada palavra o ego de quem ouve sente-se agulhado, faz um estrago tão grande, que azeda a relação, deteriora o amor, transforma a amizade em agressão. Não se entende que ao aconselhar espera-se o bem, e que apontar a possibilidade de errar é muito mais nobre que apontar os erros.
E foi assim que eu aprendi. Ao lembrar dos meus pais apontando o futuro, eu sempre me perguntava se algum dia eles iriam apontar para mim quando eu estivesse machucado por não ter escutado. Esperei esse julgamento da parte deles durante muito tempo, mas ele nunca chegou. E, ao olhar para trás percebi que o meu sofrimento fora punição suficiente pelos meus atos, não havia necessidade de sofrimento adicional.
A vida é engraçada, inúmeras vezes gozei do meu pai enquanto ele me dizia certas coisas, hoje tomo emprestada uma frase que ele vive a repetir: "Quem não aprende pelo amor, aprende pela dor."

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Bem-vindo!

A verdade é que no fundo eu sempre me perguntei quando minha cachorrinha morreria. Sempre me questionei se seria antes ou depois d’eu sair de casa, e secretamente sempre pedi para que fosse antes.
E foi antes, o que eu nunca imaginava é que ela morreria da forma como eu mais temia: afogada. Eu imaginava que ela só morreria assim caso eu me mudasse, me ausentasse, saísse.
Pensava que se acontecesse antes seria algo melhor, leve, velhice, morte natural, morrida assim – como quem só recolhe o espírito e vai.
Creio que este meu medo era o de que tudo sairia do lugar se eu fosse embora, se eu deixasse a casa por um momento, uma semana – que fosse – seria o suficiente para ninguém vê-la se afogar.
Acabou que aconteceu comigo aqui. E isto mostra que realmente a gente não faz diferença.
Por mais que queiramos e desejemos ser A pessoa para alguém, o fato é que a vida continua com ou sem a gente!
Sim, pode morrer, adoecer, sumir, a vida continua.
As pessoas até podem ficar naquele luto pra sempre... Mas isto seria apenas o comodismo.
O cômodo - o caminho mais fácil.
E como é gostoso ter este comodismo, ele dá uma preguiça, uma estabilidade, uma certeza tão ilusória mas deliciosa.
Vou saindo de casa, e ainda seguro no peito as lágrimas que não chorei – eu não irei chorar!
Hoje chegou rápido, depois de 22 anos...
Hoje eu perdi duas vezes o mesmo ônibus, por um minuto, mas perdi, e talvez tenha sido o meu comodismo – o querer ficar, a criança que pede mais um segundo, mais um afago, mais um abraço, mais um tempo, porque ela ainda não quer crescer.
E como é bom voltar pra casa – mesmo ainda nem tendo ido embora!
A sensação é a de que vai ficando um enorme pedaço e uma enorme facilidade também.
Vinte e Dois Anos – durante quatro anos eu fiquei acomodada, continuei em casa até porque não havia razão para sair ainda.
Hoje, bem hoje, eu não sei se é comodismo ou já uma saudade. Talvez um misto dos dois, uma nova realidade que se abre aos meus olhos.
De repente, sem esperar passar no vestibular, eu passei. Deus escreve certo por linhas tortas. Não estudei, não me esforcei, fiz algo para não ter que dizer que ‘não fiz nada’. Consegui.
Assim, como quem não procura, encontrei o curso que eu tanto queria, uma faculdade respeitada, uma cidade que dizem ser acolhedora, e tudo pertinho de casa – creio que agora, mais do que nunca, a casa dos meus pais.
Há uma enorme relutância, uma amargura e birra, mas não posso me deixar acomodar.
Eu sou grata, grata por minha cachorrinha ter morrido comigo – e eu não conseguir culpar ninguém além de mim mesma por não tê-la socorrido, sou grata por um curso que eu nem imaginava, sou grata por já ter um apartamento lá – com meu irmão, sou grata por ter esta nova oportunidade, sou grata... Mas confesso que meu coração ainda se parte pensando em como seria bom ficar, só ficar, quietinha entre as almofadas – feito gatinho que às vezes arranha e briga, mas que adora a energia e presença daqueles que ama em casa.
É preciso crescer, abrir as asas – porque eu não sou gato, talvez um pássaro, apesar de fortemente desejar ser um peixe.
Está na hora de deixar o cômodo de lado.
E aos poucos, depois de vinte e dois anos, a gente cresce... Alguns casais voltam ao tempo em que se conheceram e voltam a se olhar e construir novos sonhos, outros enfrentam a dura realidade que é a de não serem nada mais do que pais – não mais um casal.
Alguns filhos amadurecem e nunca mais voltam, outros voltam por força do destino, outros simplesmente recusam aceitar e ficam para sempre sob as asas dos mais responsáveis.
Seja lá o que for aquilo o que me espera, desejo só não acomodar.
Porque no fundo é muito bom voltar para casa, com aquele cheirinho de comida de mãe, aquela cama macia que tantos anos embalou o nosso sono, aquela voz forte ecoando – pai, aquela música infernal do filho, aquela brincadeira boba da filha... Pequenas coisas que vão ficando pelo caminho.
Mas procuro ter sempre em mente que meu lar está comigo, e eu desejo e espero mudar sempre – fugir do comodismo – porque quero evoluir, crescer, amadurecer e ir embora para um dia agradecer pessoalmente a Deus por todas estas coisas.
Quero que meu corpo mude, que meu espírito tome outras formas, que minha alma se esqueça de si mesma e aprenda sempre com humildade, apesar de muitas vezes haver um certo medo das mudanças.
E quando eu ficar relutante e não quiser me transformar, repetirei sempre: o mais importante levo comigo... Posso ter milhões de casas, mas somente Eu Sou meu lar!
Seja bem-vindo...!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os Olhos

Dipirona, voltarem, e um bom antibiótico não cura tudo!
Ao olhar do outro lado da mesa eu vejo olhos. Sim, olhos. Ansisos por respostas, ansiosos por alivio, temerosos pela vida, chorosos ao não ter um afago sincero.
Algumas coisas não são tocadas. São tão íntimas que nem ao menos podemos colocá-las em exposição durante 15 minutos de conversa breve, e muitas vezes vaga. E é com elas que talvez devessemos lidar de forma mais pura e sincera, pois é delas que provém o verdadeiro sentido de cura, de bem estar, de equilíbrio.
Da velinha com fraturas devido aos maus tratos do filho até a dorzinha  de cabeça que visita de vez em quando a dona de casa, qualquer doença tem implicações sobre o que se é. Em variáveis intensidades, mas o fato é que tem. Na maioria das vezes trabalhar essa dor nem é preciso, a mente faz o papel de cura para si mesma depois que o problema fisiológico foi resolvido. Mas e quando tudo é sobre a dor que não se pode tocar? Quando os olhos pedem desesperadamente que se pergunte com sinceridade como têm passado?
Confesso que sentar de qualquer lado da mesa não é confortante, pois a impossibilidade é o que reina. Um não diz como se sente, o outro muitas vezes evita a pergunta por não estar interessado de fato, ou por julgar não ser relevante. E assim a consulta segue, aquilo que não é dito continua sem ser dito, o presumido continua presumido. Assume-se a postura de Doutor, aquele cara que estudou anos para curar a sua doença como ninguém mais faria, e por isso não tem tempo a perder com aquilo que não é embasado pela boa e velha medicina conservadora.
Esquece-se dos olhos, aqueles que pisaram dentro daquele consultório esperançosos para que ao sair dali algo de fato mudasse. Eis que a relação médico-paciente torna-se sobre um distanciamento médico-paciente, pobre médico, pobre paciente. Ambos perdem, um deixa de amar o seu ofício, o outro torna-se descrente no alivio da dor, e novamente a consulta segue.
Por fim resta um papel em branco, preenchido com letras garranchais, o bom e velho voltarem, acompanhado da dipirona. O aperto de mão apressado, e novamente não se olha no olhos por cima da mesa. Segue-se um desejo de melhoras, muitas vezes despretensioso de seus verdadeiros votos.
A maior tristeza que se pode carregar é não amar o paciente que está a sua frente, mesmo que se possa fazê-lo apenas por 15 minutos, dedica-lhe esses precisos minutos, faça com que aquilo seja sobre eles, e não sobre dores e doenças somente. Faça com que seja sobre os olhos, pergunta aos olhos, olha nos olhos, e sorri de volta. As vezes a maior cura não é o alivio da dor, até porque essa muitas vezes nem pode ser resolvida, a maior cura está no fato de se importar de verdade. Mesmo que doa, mesmo que ao pisar fora do ambiente de trabalho sinta o peito carregado e a vontade incontrolável de chorar, leva contigo o amor incondicional e dedica-lhes aquilo que gostaria que fosse dedicado a ti.
Porque, no final, tudo é sobre os olhos, até que eles se fechem...



"Encontrei o paradoxo, que se você ama até doer, não há como ter mais dor, somente mais amor.”
                                                          Madre Teresa de Calcutá.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Café

- Ufa, deu tempo de pegar o café!
- Admite que você só correu pra poder me ver...
- Nem foi, era só pra matar o tempo mesmo, dei azar de te encontrar.
- Eu também te amo!
- Se um dia eu perder a mania de te zuar você para de gostar de mim, né?
- Acho que sim, aliás essa é uma das coisas que eu mais gosto em você. Sabe o que eu reparei?
- Lá vem, fala...
- As suas qualidades que eu mais gosto acho que você herdou do seu pai!
- Como assim?
- Sério, as coisas que reparei da personalidade dele, vejo todas em você. Você é bondoso, embora tenha um senso de justiça muito forte, que as vezes julga os outros de forma muito severa, mas que aplica a mesma regra a si mesmo.
- Traduz?!
- Basicamente você tem um coração enorme, e é certo com as coisas, por isso julga os outros, mas assumi as coisas erradas que faz. Eu vejo isso todo dia em você, seu bobão.
- Olha, você me analisando! Que bonitinha, tá parecendo eu falando...
- Bonitinha não, linda... E se você quer mais um elogio pro dia, eu digo que eu aprendo muito com você. Com tudo que a gente passou, e ainda vai passar. Você me guia, e eu valorizo muito isso em alguém. Além disso você é um excelente quase médico!
- O que você tá querendo?
- Nada não, só elogiando mesmo. Deixa eu ir, até mais tarde.
- Mulheres são estranhas mesmo, ainda desconfio das suas intenções, sabia?
- Aprende comigo um pouquinho então, o charme tá no mistério. Vai ficar desconfiando...
- To percebendo, senhora Linda!
- Tchau bobão
- Tchau...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Salvador, o velho comedor da praça

Salvador era um homem quieto, desses sisudos que encaram o mundo sempre de mal humor.
Tragédia com pai, tragédia com mãe, tragédia com sobrinho, era tanto descaminho que Salvador não acreditava em nada não, nem santo, nem Deus, nem Alá, nem orixá algum que diminuísse seu pranto de ser sozinho.
Fazia seu café todo dia de manhã às 6 em ponto. Mas antes descia na padaria da rua de baixo pra comprar pão fresquinho, na opinião de seu Salvador esse era um dos poucos prazeres que ainda lhe restavam. Depois de tudo isso fumava seu cachimbo.
Mas ainda antes disso tudo, se levantava bem cedinho às 5 da matina, lavava o rosto, escovava os dentes pro mau hálito não espantar a atendente, colocava sua camisa de botão listrada, sua calça marrom lisa e seus sapatos sem cadarço.
Seu Salvador não era o que se poderia chamar de homem elegante, maior parte do tempo andava de botina e falava palavrão.
Nenhuma mulher o suportava, até porque ele era desse tipo que não gostava que encostassem nele, mas ele ia logo colocando a mão – era mão nos ombros, nas pernas, no traseiro... Seu Salvador era velho, mas ainda faceiro. Adorava uma boa mulata, aquela bem brasileira, bem queimada.
Mas dizem que com o tempo seu Salvador se cansou de só ir jogar xadrez e dama com seus amigos de praça. Enfezou, arrumou as malas e foi embora.
Claro que antes disso deu um rolo que acabou virando causo que se conta de pai pra filho lá na cidade onde ele nasceu. Onde é eu não sei, só ouvi falar.
Dizem que um dia seu Salvador contou que tinha uma mulher que o visitava. Absurdo que era, ninguém acreditou, ele insistiu, relatou todos os detalhes...
Larissa era uma morena fenomenal, corpo de artista, olhos indígenas, voz macia de quem fala manso, dentes brancos feito leite, unhas sempre bem pintadas, um rebolado que Nossa Senhora e um humor de dar inveja em qualquer mocinha da cidade. Apesar da idade baixa tinha mentalidade alta, sabia falar das coisas da vida como quem já tivesse vivido tudo. Talvez de fato fosse verdade, Larissa era bem cheia de histórias mal contadas.
Mas seus amigos todos ficaram descrentes, quem poderia ser essa deusa bondosa que surgia sem que ninguém da vila avistasse?
Reza a lenda que ela ia lá de madrugada, que tinha a chave da porta da frente, abria e entrava toda faceira como se já fosse de casa.
Seu Salvador sempre a esperava no sofá da sala. De fato seus amigos já haviam cogitado algum milagre porque Salvador andava muito contente.
Mas daí crer que tinha mulher na parada era coisa pra crente muito do fervoroso, e lá ninguém rezava.
Seu Salvador resolveu apresentar a tal mulata, mas não é que ela só podia sair à noite mesmo? Falava que trabalhava o dia todo, arranjava desculpas de todos os tipos, mas a verdade é que fato algum era comprovado. Salvador não sabia nem onde a menina morava.
O negócio é que um dia chegou na tal praça um sujeito armado, gritando pra todo lado: Eu mato! Eu mato, seu desgraçado!
E não é que o negócio era com o Salvador. Todos ficaram assustados, levantaram e abriu aquela roda.
“Mas o que aconteceu, seu João?"
“Salvador, esse cabra canalha, ele comeu a minha filha, agora vai engolir bala!”
Tava lá o que ninguém esperava, a tal Larissa existia e ainda por cima era filha de um cabra novo na vila, tinha chegado fazia uns 9 dias. Freqüentava a praça uma vez ou outra, e, aliás, era um dos que ouvia as histórias românticas de seu Salvador.
O que aconteceu é que o pai, desconfiado da filha, que sempre saia à meia noite de casa, resolveu segui-la e viu a cena que todos juravam de pé junto ser mentira: Larissa era amante de seu Salvador.
Contam que neste dia seu Salvador quase morreu; do mau humor que tinha passou a rir, fez piadas e o pai da dita donzela só mais se enfurecia.
Foi um segura daqui, aparta de lá que ninguém entendia.
O fim da história é que seu Salvador foi embora mesmo, arrumou as malas e se mandou. Claro que levou a pequena menina com ele.
É... Contando ninguém acredita.
Mas o causo é verídico, seu Salvador, mais conhecido agora como “o velho comedor da praça”, levou embora Larissa e nunca mais voltou. Dizem que hoje ele mora numa praia.
Dizem, vai saber...

sábado, 8 de janeiro de 2011

Desatando nós


Por encarar as perdas com pesar, sofreu durante anos consecutivos escravizado pelas próprias lamurias. Levava no dorso um número cada vez maior de cicatrizes que pareciam se acumular durante as estações, esticando a pele, tornando-o cada vez mais imóvel. Aos 30 andava de lombo arqueado como um animal ferido que esperava levar o próximo bote. À medida que avançava na vida retrocedia na busca da felicidade, pois fazia questão de ignorar tudo àquilo que fosse relacionado ao seu ser, deixava que tudo fosse sobre o outro. Levava o outro consigo tão atado a sua alma que não mais separava o seu interior do mundo ao redor. Esqueceu-se que respirar era atitude no singular...
Não que o outro não tivesse culpa, mas não cabia a ele atribuí-las, afinal ninguém machuca aquilo que é intocável a não ser que se deixe tocar. Ele deixava, era sua autoflagelação, seu inferno particular, seu pagamento de dívida para com o mundo. E a cada nova marca que ostentava perdia parte de sua tão sonhada humanidade. Menino de carne que virou madeira, e por fim transformou-se em pedra fria.
E foi a sua própria frialdade que o fez ver onde tinha enfim chegado. Chegou ao lado oposto, oposto de si mesmo. Conseguia ver claramente o seu fim apesar de já não analisar mais os próprios comportamentos, sabia do quão destrutivo eram, embora não mais identificasse os porquês dos mesmos. Era tudo um vazio, um sopro de vácuo, que o assustava a ponto de não deixá-lo pensar.
Rogou por uma ajuda que não necessitava, estava tudo em suas mãos. Ao enxergar o quanto estava se enganando com a forma de aceitar as perdas partiu em busca de si. Sem bagagem, partiu carregando uns trocados na mão esquerda, e uma foto na outra mão. A vida o fez ambidestro, portanto sabia usar tão bem os trocados quanto olhar para aquela foto, que o lembrava do que não queria mais para si mesmo...
Conheceu gente, largou gente, amparou gente, e quando pensava que estava mais perdido por centrar-se cada vez mais no outro conseguiu se achar. Percebeu tão lentamente que nem entendeu a percepção. Aprendeu a ser ator principal em seu teatro. Agora estava no papel principal de sua vida, tornou-se personagem esférica, complexo, trilhou o caminho entre a admissão de culpa e a análise das atitudes.
Dessa forma mudou o foco de seu olhar sobre as perdas. Começou a enxergá-las como bênçãos que se acumulavam em sua trajetória, cada uma foi responsável por um novo recomeço, por um novo olhar, por um novo renascimento. E, como era bom saber de sua infindável capacidade de se recriar, de levantar do chão que o amparou tão duramente através de seus próprios pés.
Deixou por fim as justificativas de lado. Assumiu para si mesmo o quanto imperfeito era, e como era bela toda a imperfeição acompanhada de uma análise de comportamentos. Era capaz de entender os porquês de tudo aquilo que era proveniente de suas atitudes. Fazia, enfim, sua parte.
Havia, portanto, desatado o nó dos outros de si mesmo, era problema deles. Só deles...

Desculpas

A palavra desculpa não deveria existir, posto que culpar alguém não é cabível a um ser.
O culpado por algo só o é se assim se sente, e por isso existe o perdão, não para ser dito a quem se machuca, mas para ser tomado para si próprio.
O importante das ações não são seus fins, mas a consciência que delas emerge.
Se o responsável, de alguma forma, assim se sentir, deve tirar o peso de si mesmo, e então dizer perdão ao mostrar que se libertar é a melhor forma.
Porque mesmo o que outro não perdoe, ninguém cerra a alma de outrem, assim sendo o acusado não pode ser visto como carcereiro da boa vontade alheia.
Por isso é hipócrita pedir desculpas, assim como hipócrita desculpar, presumindo que culpar alguém é julgar suas ações sem conhecer os motivos, causas, delírios.
Ninguém conhece outro ser senão a si.
Ético seria questionar o próprio sentimento acerca de quem fez algo, e não culpá-lo por um sentimento que não é dele e que não é de sua responsabilidade.
Estar livre é libertar-se também das tentativas de conseqüência alheia. Até porque muitas das vezes o outro nem mesmo sabia o que estava a praticar, e não se pode culpar alguém pela ignorância de não saber o que sentimos.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Despedida

Como se despedir? Como dizer tchau? Como dizer adeus?
Certa vez quando eu fui embora não me despedi de ninguém, mas também nunca mais os vi.
Talvez eu acreditasse que um dia eu voltaria, que eu estaria sempre ali, do lado, ajudando, apoiando.
Com alguns eu mantenho contato, é verdade, mas outros se foram. Eu me fui, a vida vai seguindo e tudo tem que ir continuando.
Mas como fazer uma despedida? Como não chorar? Como abraçar a ponto de marcar na pele para nunca mais se esquecer?
Como beijar e expressar todo o amor que sinto? Como segurar sabendo que vou cair?
Como olhar sabendo que eu deveria mostrar um riso, sendo que não irei sorrir?
Por que algumas pessoas são tão difícies de serem deixadas?
Às vezes a gente nem tem nada, mas parece que aquele instante é tudo.
Talvez alguns digam que são migalhas, que nos contentamos com pouco, que há alguém para oferecer um mundo!
O platônico, o não dito, o engasgado, aquilo que não está nem entre aspas.
Como se despedir?
Como perder sem se deixar ruir?
Vamos caindo aos pedaços, mesmo quando o outro ainda está ali.
Vamos nos rasgando, dilacerando o peito e tentando acreditar que deve haver um bom motivo para ficar... Mas não há.
Como se despedir sem saber se o outro realmente não quer que a gente vá?
O que eu guardo como lembrança são os cheiros.
O perfume alheio que ainda me abraça mesmo depois deu ter ido para casa. Mesmo quando já estou na cama. Aquele cheiro de quem ainda pesa sem nunca ter se deitado.
Será o silêncio em si uma forma de nostalgia disfarçada? Um sentir saudades sem dizer, sem se comprometer?
Como o silêncio corta fino e rente feito faca afiada.
Uma espada no peito. A falta de palavras...
Uma despedida.
E o acreditar que se está indo sempre de volta para casa... Mesmo indo prum lugar diferente.
Porque no fundo eu sei que a pessoa mais importante eu levo comigo: eu.
Para sempre...