sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pobremas...

- Dotô, to com um pobrema de pititi atacada.
- Tá comendo demais, ou não tá conseguindo comer?
- Não, esse é o pobrema de strombo. To com aquele pobrema faz girá tudo atacado...
- Labirintite?
- Esse mesmo... Mas o strombo tá bom não, causa di que to com sistema nelvoso...
- Entendi, mas o que você sente com esse sistema nelvoso?
- Ahhh dotô, dá uma gastura no peito...
- Dor no peito?? Essa dor vai pro braço? Tipo de infarto?
- Não é dor, é gastura...
- Tipo queimação?
- Não, tipo gastura mesmo...
- Hum... Mais alguma coisa?
- Não, já desataco o nelvo asiático. Só isso mesmo...
- Que bom, a gente já trata a labirintite, e o sistema nelvoso hoje, então...



Comunicação é muito fera. As vezes para conseguir tratar um paciente é preciso mais do que conhecimento, é preciso conseguir se projetar no mundo dele...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Lição

Hoje ouvi de um professor uma lição que eu vou carregar para o resto da minha vida...
"Para ser médico é preciso de 4 coisas, são elas: Humildade, Bom senso, Amor ao paciente, e Conhecimento. Sendo que as três primeiras são obrigatórias, e o Conhecimento é somente um opcional...".
Acho que concordo com ele, de verdade...

Denúncia

Dilemas éticos, morais quanto a uma amizade, um romance, um gostar e a coisa supostamente certa a se fazer.
O tempo todo julgamos as pessoas que não conhecemos, mas e quando temos que julgar um amigo?
Uma das coisas mais pesadas que se deve fazer é isso, crucificar o próprio companheiro em pró de uma sociedade doente que nem mesmo sabe fazer justiça.
Certa vez, há muito tempo, eu tive um amigo, muito amigo, que ficava com uma menina de 12 anos. Ele tinha 18 na época.
Eu sempre soube, desde então, que ele poderia ser denunciado por estupro, até porque foi ele mesmo quem tirou a virgindade da namorada.
Ele também sabia que era "errado", mas ela não tinha cara nem cabeça de 12 anos, ela provocava, forçava, eu via!
Então todos que sabiam se calaram, achavam graça, bonitinho, e ninguém jamais denunciou.
Eu não denunciei, nem a família dela (que aliás sabia de tudo), mas sempre fica aquele eco sobre o que era "certo" a se fazer.
Depois livrei um outro cara da prisão. Não convém dizer os porquês, eu só não achava que valeria a pena processar alguém e acabar com uma carreira, manchar uma vida inteira.
É muito complicado.
Tenho um amigo, muito amigo, que teve que "julgar" o próprio amigo, ele disse que ele era um fardo para o grupo, que os colocava em perigo e por isso era necessária a sua "crucificação".
E o crucificaram.
Ele me disse que a coisa mais difícil de tudo foi isto, ter que julgar um amigo e condená-lo "à forca", mesmo com a pessoa pedindo e perguntando se havia como evitar tudo aquilo.
Mas e quando não crucificamos, e quando a amizade faz com que você veja um outro lado da pessoa, das coisas, do mundo, não justificável, mas compreensível? Foi errado eu não ter denunciado tantas pessoas que conheci e outras que ainda conheço?
Qual o meu verdadeiro dever?
Ética - a minha ética de quem sabe que não é a coisa mais sábia a se fazer.
A moral - corrompida em si mesma pela maioria não denunciar nem mesmo as podridões do governo, a moral desregrada e invertida. Se fosse moralmente correto denunciar, estaria eu sendo imoral, mas ética?
Qual o preço que se paga? Sempre me questionei isto.
Não estou apta a julgar ninguém, mas quando você se vê ao lado de alguém que realmente infringiu as leis da forma mais grave possível é como se houvesse um distanciamento repentino, uma compreensão antes esquecida.
Quais as consequências do nosso julgamento?
Quais as consequências do nosso perdão?
Quais as consequências para aquele que não é pego?
Quais as consequências para mim que sempre fui uma cumplice?

terça-feira, 12 de abril de 2011

Aos 23

Nunca fui muito fã de aniversários, é claro que gosto de paparicação advinda deles, mas não sou do tipo que se ressente por não ter uma festa, ou por receber uma ligação somente no dia seguinte. Hoje, pela primeira vez, depois de todo esse tempo sinto como se essa data fosse realmente importante.
É fato que a vida empurra a gente para as situações mais inusitadas, mas esse ano acho que como nunca eu me superei... Aprendi muito, errando, finalmente acertando, e por mais que sentisse o chão cada vez mais próximo da cabeça, permaneci sobre mim...
Aos 22 aprendi que a minha maior fraqueza mora dentro de mim, o meu orgulho, e que ao lado dele mora também a minha maior virtude, a minha resiliencia. Sabendo disso, talvez, e somente talvez, consegui lidar com tudo aquilo que fosse proveniente de orgulho ferido, me tornando mais forte, e mais maduro cada vez que o sol que se colocava abaixo dos pés de um dia cansado...
Aos 22 aprendi que a maior alegria e a maior tristeza de se trabalhar com pessoas andam de mãos atadas. Que sentar de frente com alguém que não se conhece, e ouvir suas aflições te leva quase a loucura, coloca não somente o peso do seu próprio mundo nas costas, mas inflige um peso extra pelo mundo dos outros. Embora, somente dessa forma, aquele abraço recebido no pós consulta e o sorriso de quem leva aquela receita como esperança na forma de papel, fará te sentir melhor pelas tristezas do mundo afora.
Aos 22 aprendi que existem pessoas muito boas no mundo, mas também existe gente genuinamente ruim. Fui capaz de ver o quanto a bondade e o altruísmo genuíno são fontes de amor puro, e fazem com que a vida de todos ao redor seja afetada. Consegui entender que gente boa algumas vezes faz coisas ruins, mas que de gente ruim não devemos esperar nada além de coisas ruins. É a vida, e o bem e o mal nem sempre coexistem dentro de todos nós, não em todos nós. Sociopatias e psicopatias existem de fato, e que as pessoas mais inofensivas podem guardar dentro de si uma besta capaz de manipular indiscriminadamente as pessoas ao redor...
Aos 22 aprendi que tudo tem uma causa, não importa o quanto tempo demore para que se possa entender ela estará lá te esperando. E a causalidade das coisas serve tanto para o passado quanto para o futuro, tudo que passou teve um porquê anterior, assim como tudo que virá é devido ao dia de hoje.
Aos 22 aprendi que Amor não morre de morte matada, e que tão diferentemente da maneira como morre nasce de parto normal. Amor morre por negligência, é abandonado e ali fica exposto ao tempo e a  suas provações, morre de abandono. E após o fim de um, outro nascerá inevitavelmente, de forma natural, sem cortar a barriga, sem machucados, e pronto para ser cultivado, pois se tem algo que eu aprendi a acreditar é que o ser humano é fonte inesgotável de amor inesgotável...
Aos 22 aprendi que eu adoro lidar com pessoas, e que algumas pessoas são essenciais na minha vida. Alguns amigos permanecem apesar do tempo, apesar das minhas eventuais sumidas, e ali estão sólidos como nunca. E podem se passar anos, mas ao se ver parece que a ultima conversa foi ontem, e que o adeus nunca existiu...
Aos 22 aprendi que se família não é tudo, é pelo menos um bom começo para a felicidade. Pude constatar o quanto sou abençoado pela presença dessas pessoas que nunca me abandonaram, e me apoiam, cada um a sua forma, e sempre estão prontos a servirem de muralhas até mesmo nas piores guerras. E, que a primeira coisa que desestrutura o ser humano é a ausência dessa referencia familiar sólida...
Aos 22 aprendi que apesar de existirem várias pessoas que querem o meu melhor, a única criatura capaz de me prover uma lealdade absoluta é o meu cão. E que essa forma de amor cego, só é possível quando se tem um animal, e se faz dele uma extensão de si mesmo, tentando ser sempre o melhor de si mesmo para ele.
Se há alguma certeza que eu possa ter hoje aos 23 é a de que a incerteza de tudo me faz acordar a cada dia esperando a próxima bênção, e que tudo a partir daqui é construído sobre os 22...

domingo, 3 de abril de 2011

Dani

Uma vez eu escutei de uma amiga que eu jamais deveria deixar de ser atencioso, gentil e me esforçar ao máximo para agradar uma mulher. Na época o conselho veio em resposta a uma fase em que eu estava desiludido do amor e outras coisas.
Foi meio óbvia a minha resposta, na hora saquei todas as minhas armas em defesa da boa e velha arte do cafajeste. Recebi um sorriso em troca, e novamente ela reafirmou que por mais machucado que eu tenha sido, eu deveria agir com a próxima como quem começa do zero, esquecendo as provações pela qual a anterior havia me colocado.
A noite terminou com vários copos vazios, e um sono alcoolizado.
Recentemente, devido a alguns acontecimentos, esse fato me veio a cabeça.
Eu não segui o conselho por completo, me tornando alguém ressabiado, como um cavalo velho que mede seus passos entre a marcha e o trotar, sempre amedrontado de ter que se deparar com a espora queimando o lombo. Por mais que ela fosse atenciosa, cuidadosa, e paciente eu me recompunha sempre em posição de guarda.
Assim me tornei alguém justamente como quem um dia me machucou. Tornei-me frio, um planeta de superfície fria, com um coração quente pulsante por dentro. Em dias me desfazia em amor, em outros me fazia rocha sólida, incapaz de discar alguns números e dizer o quanto ama, o quanto quer perto, e cuida. Minhas feridas supuravam a cada dia, e eu não era capaz de agradecer a mão que me acalentava.
Perdê-la nunca me pareceu grande coisa, mesmo após de fato ter ocorrido a separação.
Afinal, não se perde aquilo que continua presente. Dessa forma ela se fez, como quem mantém a presença mesmo não estando ao seu lado na cama. Estava ali, eu sabia, ela sabia. A mão ao telefone era capaz de colocá-la de pé em frente a minha porta, isso me trazia um conforto e segurança. Embora não fosse o suficiente pare permitir que eu me desfizesse em amor verdadeiro.
O tempo passou, o impulso do telefone deixou de existir, a vida seguiu. Encontrei alguém, fui capaz de me desfazer, capaz de reintroduzir alguém aos poucos na minha vida, mesmo ainda tendo medo de sofrer. Mas ainda sabia que a porta estava ali, bastava a mão áspera discar os números e ser capaz de pronunciar as palavras macias que ela tanto ansiou ouvir. Não aconteceu, talvez nunca vá.
Ao ouvir que está indo para longe, fui capaz de sofrer pela primeira vez por Ela. Os tempos são outros, o amor é outro, mas o sofrimento se fez presente da forma mais dolorida, em reflexão. O incomodo foi tamanho que me senti desamparado mesmo sabendo de toda a estrutura que me acompanha. Pensei, sofri, pensei de novo, e ela se foi. Já tinha ido, mas permanecia. Era A Ponte, ficou no meio do caminho, entre o sofrimento, e a felicidade dos novos tempos. Desmoronou devido a falta de uso e o tempo, e foi embora com as águas que não passam de novamente.
Sei que o melhor a espera no lugar distante, sei sim. E por mais que eu saiba que A Ponte sempre me faria lembrar do que está do lado de lá, eu me desfaço em choro pela sua ausência.
Até um dia minha querida Ponte, espero que um dia eu possa fazer de ti um chão sólido para enfim residir, seja na forma que Deus desejar. Nunca perca a sua pureza, e a sua alegria em viver, pois foram elas que me fizeram cruzar o percurso.
Você ainda é a melhor pessoa com a qual Deus me deu o prazer de conviver...

sábado, 2 de abril de 2011

Aforismo

Penso que ouvir seja a maior expressão da fala...
Letícia Conde!