quinta-feira, 24 de abril de 2014

Perder almas...

Outro texto que eu fiz no dia 26 de março de 2010. A vida sempre me ensinando a mesma coisa: as pessoas não se ausentam...

Durante os poucos anos de minha vida perdi pessoas, não pela morte, estas foram pouquíssimas, mas para o tempo, distância, para a vida.
Perdi amores: amantes, amigos, colegas, familiares, eu...
Perder almas é como caminhar sobre águas turvas sempre sendo acompanhado pelo reflexo daquele que um dia se conheceu.
Em meu coração todas eternamente estarão vivas, nas lembranças, brincadeiras, palavras, pensamentos, orações diárias, meditações, conversas com Deus e com anjos. Porque todo o tempo perco-me de mim e dos outros.
A vida é assim, faz-nos perder a convivência, mas nunca o amor que um dia nos uniu.
E a dor começa na ponta desta corda em que seguramos, torcendo para que um dia, em alguma terra firme, possamos nos reencontrar.
Foram muitas as chuvas que tomei, tornando minhas sombras menos visíveis. Às vezes parece-me que estou só, sem ao menos a imagem de mim mesma. Mas sinto meu sangue pulsar e Deus me dizer para continuar, pois ainda restam muitas almas pelo oceano que atravesso.
Sei que nunca deixarei de pensar naqueles que sinto ter perdido, seja por culpa minha ou do destino, cruel é ver que tudo é resultado de um destes dois.
Mas não culpo os fatores alheios, pois sei bem que cada um tem seu próprio rio por onde pisar e se banhar...
Apenas espero que os outros também possam ver meu reflexo, e que tenham dias claros para saber através dele que estou eternamente sorrindo a todos...
Aqueles filmes onde se mostra que a morte é o atravessar de águas durante uma eterna madrugada são mentirosos; atravessamos tempestades agora, para que depois possamos descansar na secura de uma farta terra.
E tenho certeza de que me encontrarei e encontrarei a todos até lá, sabendo então que nunca estive só, sendo sempre acompanhada pelo reflexo das almas viajantes que amei.
Isto eu Sei...
As pessoas não se ausentam, apenas passam a estar presentes de maneira diferente...

O Outro.

Esse texto foi feito em uma quarta-feira, 8 de julho de 2009.
A vida novamente volta a me ensinar as mesmas coisas de antes, e quantas vezes mais até aprender?
...


Por que é tão difícil permitir que o outro se vá?
Não por necessidade ou teimosia, mas por escolha, por opção ou por fatalidade...
Por que queremos que os outros sigam em frente, mas não por caminhos separados?
Se achamos que podem chegar mais longe se fizerem certas escolhas isso já não significa que estão longe, em estradas separadas da nossa?
A jornada interna de cada um nos leva para longe de nós mesmos para que um dia possamos nos encontrar no fim, na chegada, na morte derradeira, na paz final... E por que sofremos se alguém vai antes da gente se também não gostaríamos de ir antes deles?
O homem é selvagem, e por mais que não queira um dia um cavalo selvagem o levará para longe dos outros espíritos... Ama aquele que é capaz de deixar livre o próximo.
Deixar livre é poder sentir a presença do outro em nossa jornada terrena... Muitas vezes a boca não fala mais, os lábios não pronunciam, as mãos não tocam, o corpo não chama, a alma não encosta, mas isso não é deixar de amar.
Cavalos selvagens nos dragam...
Continuar caminhando é o dever de cada um e o que desejamos a todos que queremos bem.
Um dia as mãos têm que ser desatadas e os olhares têm que prestar atenção nas pedras pelo caminho, bem como nas nuvens, árvores, rostos, vento...
O mundo é tão pequeno, ao fecharmos os olhos podemos tocar o outro só ao pensar.
Mais um vez partimos e andamos em direção interna, ninguém irá nos acompanhar - nem esposa, nem amigos, nem filhos, nem pais - porque lá somente nós sabemos ver onde fica a luz, onde pisar, quando descansar.
É difícil se desapegar, é difícil saber voltar, é difícil saber partir.
É difícil saber se despedir, é difícil saber abraçar, é difícil saber reconhecer e perdoar...
É difícil porque parece que um pedaço de nós foi embora e não deixou nada para reparar aquela dor, dor que muitas vezes nos faz mancar durante uma boa parte do caminho... Mas mesmo mancos não paramos.
Anjos nos dão as mãos e nos ajudam a sonhar, ajudam-nos a encontrar o rumo de casa dentro de nossa imagem real.
Encontramos máscaras pelo caminho e pessoas andando na direção contrária.
Não adianta falar nem gritar, cada um sabe onde é chegar mais longe, e meu longe nunca será igual ao de ninguém.
Por isso que desatar laços é necessário, todos somos capazes de nadar e voar...
Eu imaginei um mundo perfeito um dia, e ele se tornou realidade - não de amigos à minha volta, mas de momentos insusbstituiveis.
Posso não ter adentrado a estrada de outros que gostaria, mas as poucas vezes que isso acontece é maravilhoso!

A travessia...

Ela sempre foi como a morte, ajudando os outros a atravessar para a terceira margem de si mesmos. Alguns a diziam psicóloga, outros, amiga dos enfermos, mas a verdade é que ela era somente uma ponte. Ela tinha consciência de que ninguém ficava, e por mais que quisesse, alguns pulavam na água ou iam pra margem errada, mas seguiam sua corrente - o fluxo de suas próprias lágrimas. É somente no sofrimento que se cresce, mas e quem guiaria o barco dela? Menina à deriva, perdida em seu oceano desconexo. Era tão fácil ajudar na vida, mas e ela, quem a ajudaria com suas margens, águas e prantos? Se sentia mesmo muito só naquele Universo. Pensava em voltar para casa, mas seu cosmos era muito mais longe do que se media...

quarta-feira, 12 de março de 2014

.....

- Olha para o céu...
- Hum, a lua?
- Sim, dá para ver apesar de nublado, lembrei de você e sinto muito a sua falta. Falta 1 mês para o seu aniversário, e eu ainda planejo as coisas como se fosse te ver no dia.
- Boas lembranças... mas sem nostalgia!
- Você sempre me disse que as vezes pessoas boas fazem coisas ruins, as vezes fico tentando entender porque esse benefício nunca me foi dado...
- Se não tivesse sido dado não estaria agora falando com você.
- Talvez, só não entendo como a gente não está junto! agora daria tudo certo...
- Tem coisas que são para ser, outras não, e tem aquelas que tem o momento certo para acontecer.
- Eu tenho medo de perder o momento...
- Isso se chama destino, se perdermos o momento é porque deveria ser assim.
- Para de falar assim, eu fico realmente mal... fica complicado te ver, e não te ter próximo, entende isso de uma vez por todas...
- Eu entendo, e é por isso que me mantenho afastado.
- E eu espero o dia que você resolva se reaproximar...
- Um dia... até lá vou olhar a lua. boa noite, durma com Deus. te cuida...
- Até lá vou olhar também. boa noite, cabeça dura!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Pesar

Apesar das dores, eu te abraçava.
Apesar das traições, eu te perdoava.
Apesar das brigas, eu te implorava.
Apesar das mágoas, eu insistia.
Apesar das feridas, eu me cicatrizava.
Apesar dos buracos, eu me vencia.
Apesar dos defeitos, eu me superava.
Apesar dos gritos, eu não revidava.
Apesar dos erros, eu continuava.
Apesar da violência, eu te desejava.
Meu Deus!
Apesar de mim, eu te amava...
...te adorava...
...te queria...

Amigo

Tomo a liberdade de fazer uma homenagem ao meu querido amigo:
como sempre, meu amigo, teus textos são tocantes.
Quanto ao da luz, fico sem palavras. Presenciar a recuperação da esperança é algo belíssimo, e confesso que às vezes ainda sinto vontade de medicina só pelos contos que você me conta, pela humanidade que te banha, feito luz, que é tua!
A vida é complicada, e fico muito feliz em ver que a cada dia que passa você se torna mais humano, mais homem (não no sentido masculino), mas em ser.
Teu ser se reflete nessas histórias, nada disso seria possível sem você.
Seja sempre grato por pegar os piores casos, são esses, essas dores que nos fazem crescer, e, meu amigo, como você tem crescido!
Me surpreende ver como tua escrita melhora, mas acima disso, como teu carácter se desenvolveu dentro de um turbilhão de mágoas.
A vida não é fácil, sempre dissemos isso um para o outro, mas continuamos aqui, num presente jamais imaginado - ainda que sonhado, como você exercer a medicina.
Nunca imaginamos lidar com as coisas que temos lidado, e isso é bom, é bom quando a vida toma rumos inesperados, isso nos mostra que realmente não temos controle de nada, absolutamente nada, nem mesmo de nossas almas, de nossas dores, amores... Mas mostra também que podemos decidir o que fazer com tudo isso, com essa tormenta que nos assola e nos deixa à deriva.
A tempestade que vem tem a cor dos seus olhos - castanhos.
E que belo é ver que perdemos o medo da chuva.
Que maravilhoso é acompanhar o crescimento de outro ser humano, isso me toca. Isso realmente me faz feliz, poder observar e vivenciar as grandes aventuras cotidianas de nossas histórias, tão pequenas e desimportantes para o mundo, mas tão modificadoras em nossas realidade só.
Somos eventos constantes de lutas, nada muda isso. Lutar. Respiramos luta, não só sociais, mas realmente humanitárias, seja consigo mesmo seja com o mundo.
Imprevistos acontecem, temores aparecem e do nada nos vemos sozinhos, sem ninguém mais com quem compartilhar uma punhalada que a vida nos deu nas costas.
E ai descobrimos um novo amigo, aquele que sempre esteve lá, mas que com o tempo se tornou ainda mais próximo, ainda mais amigo, no real sentido da palavra, aquele que vem do amor.
E nos amamos nas dores, porque no fundo são elas que nos mantêm de pé e que nos mantêm unidos, ainda que cercados de poucos, ainda que muitas vezes incompreendido. É a dor que nos agracia com a bondade de vermos que no fundo todo mundo só quer ser feliz. E que podemos ser felizes, seja com meninas, com meninos, com bichos, com amigos, com nós mesmos, principalmente.
Aprendemos a relevar e lembrar que é o leve que tece o destino, a leveza de quem não tem medo de errar, de assumir erros, de perdoar, de falar, sempre com sinceridade.
Descobrimos na vida que algumas coisas nos decepcionam e sempre irão nos decepcionar, mas aprendemos a ver os milagres também, milagres esses tão benditos, de reencontrar um amigo e não ser mais o velho amigo, ser mais do que isso, ser luz e finalmente podermos nos enxergar.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Chuva

Desperto para ti, permaneço anestesiado para mim.
Meus olhos buscam teus olhos refratados, não consigo vê-los.
Algo aqui nasceu... Parido sem nome, sem tempo, sem face.
Seria mais fácil deixá-lo atrofiar sob o pretexto da modernidade, afinal relacionamentos são tão antiquados.
Não consigo, nem sob protesto da mente que implora por continua redução de danos.
Sinto parte do seu toque suave no rosto, faz dias, mas ainda está aqui. 
Fecho os olhos buscando refúgio, só acho sentimento.
Arrancou me a planície de uma forma tão suave que nem me importo por estar beirando o penhasco, exceto nas noites frias em que o meu pensamento acorda para você e para o medo.
Não há retorno, abandonei os tempos de calmaria.
Depois de muita aridez consciente, escolho a chuva...
E se a tempestade for você, seja ela bem vinda para ficar.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Luz

Quando decidi ser médico abracei com todas as minhas forças o desejo de lidar diariamente com a dor da perda e o sofrimento.
Após 6 anos resolvi me inserir em uma das poucas áreas dentro da medicina que não trata da morte, mas lida com perda de uma forma única, a perda da função.
Ao lidar com a visão de muitas pessoas é impossível deixar de absorver os diversos conceitos que a mesma tem para cada um e os diversos aspectos emocionais que perda dessa função tange.

- Quer que eu tire o curativo?
- Pode tirar, doutor.
- Quantos dedos tem na minha mão?
- Não vejo. Enxergo Luz...
Então as lagrimas começaram brotar através daqueles olhos ainda avermelhados pela agressão necessária sofrida na mesa de cirurgia...
Mudo rapidamente o tom de voz, e começo um discurso épico sobre como é possível se adaptar a uma existência sem o sentido da visão. Sou interrompido:
- Eu enxergo Luz, doutor.
- Eu sei, tá enxergando só claridade, nós também gostaríamos que o resultado fosse diferente, e o senhor enxergasse mais.
E no meio de todo soluço choroso, consigo decifrar uma frase:
- Achei que fosse embora desse mundo sem nunca mais ver Luz. Vai dar certo dessa vez...
Engoli todas as palavras consoladoras, e foi então que as lágrimas brotaram novamente, dessa vez dos meus olhos. 
Já vi algumas pessoas recuperarem a visão, mas hoje fui agraciado com uma cena mais linda, presenciei a recuperação da esperança...


domingo, 7 de abril de 2013

Minha parte

- Entra Sr. Joel, sente-se naquela cadeira ali, por favor.
- Sim senhor, doutor.
Então, após de reparar no aspecto óbvio de andarilho do paciente cheguei a conclusão que estava me deparando um caso de Herpes Zoster Facial.
Orientei o Sr. Joel, prescrevi as medicações, e ensinei como usá-las.
Ele me interrompe suavemente com ar de tristeza:
- Eu não posso comprar...
E eu com a minha ingenuidade de CRM novo, oriento o mesmo a procurar a assistente social do hospital para que ele consiga as medicações devido a sua questão social. 
Sai Sr. Joel da sala, entra um, entra outro, outro atestado, outra bobagem, outro me enganando, e assim corre o plantão.
Até que o telefone toca, e ouço a voz do outro lado esbravejar:
- Eduardo, você quem mandou o mendigo aqui na minha sala?
- Sim, mandei o Sr. Joel, porque ele precisa das medicações.
- Eu não posso fazer nada, estamos sem verba, e mesmo se estivéssemos com verba sobrando não compensaria, pois ele não vai fazer o uso das medicações.
Nessa hora eu paralisei por completo, estava absorto ouvindo de uma assistente social que não compensaria ajudar um paciente.
Me retirei das minha funções de atendimento, e fui até a sala da conhecida assistente social do hospital.
- Boa tarde, Dona Glória, preciso conversar com você sobre o caso do Sr. Joel
Sou então cortado por aquela senhora, que diz rispidamente:
- Não dá para conseguir remédio para um paciente como esse.
Por um instinto de humanidade, de criação, de amor ao próximo, de justiça, fui movido a fechar a porta da sala, e falar algumas verdades para Dona Glória.
- É o seguinte eu posso ser um menino perto da experiencia da senhora, mas se tem uma coisa que eu aprendi com a vida, com a minha graduação, com os meus pais, é a fazer a minha parte Dona Glória. Eu atendo a quem necessitar da minha ajuda, e não importa se a pessoa seguirá o tratamento proposto, ou se ela é pobre ou rica, ou ainda se ela levará realmente o tratamento a sério. As lesões na face do Sr. Joel podem progredir levando o mesmo a sepse em poucos dias caso não haja tratamento.
Nessa hora eu vi Dona Glória corar-se fortemente de vermelho, creio ser raiva, ou vergonha por ter agido de tanta má fé nesse caso.
Completei:
- Assim como eu fiz a minha parte de atender o paciente e prescrevê-lo, acredito que a senhora deva fazer a sua e conseguir as medicações para o paciente.
Sai da sala sentindo uma tristeza tão grande por ver como as pessoas ainda julgam a saúde caso a caso, fazendo distinção do pobre e do rico, mesmo na hora da doença.
Voltei as minhas funções pois naquele momento haviam mais fichas de atendimento.
E após o relógio bater 19hs, fui saindo da sala para dar lugar ao outro colega. 
Encontrei Sr. Joel sentado ao pé da escada do andar, me esperando:
- Dr. Eduardo, muito obrigado por ter ido conversar lá, a mulher conseguiu meus remédios.
Eu após alguns segundos de tão perplexo com aquele agradecimento:
- Por nada, Sr. Joel, estava fazendo apenas minha parte. Vejo o senhor no retorno em 5 dias.
- Tudo bem, Dr. Eduardo. 
Ao entrar no carro, eu me dei conta que aquela foi o único agradecimento que eu tive naquele dia por parte dos pacientes, e isso me deu uma sensação de felicidade imensa e uma certeza maior ainda de ter feito a coisa certa.
Após 5 dias volta Sr. Joel, com suas lesões na face totalmente cicatrizadas, com aspecto muito melhor, roupas limpas, calçado novo no pé, e banho tomado. Então pergunto:
- o Sr. está se cuidando melhor, hein?
- Decidi ir para um abrigo Dr, precisava me cuidar já que ganhei os remédios...
E assim eu aprendi que não há nada melhor do que fazer a minha parte, pois tratar alguém com dignidade talvez dê a essa pessoa alguma chance de aprender a se tratar com dignidade.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Jura

Eu queria mudar o mundo...
Nunca desejei tanto mudá-lo como nos últimos 6 anos. Cada choro, cada perda, cada palavra agonizante me faziam ter certeza de que a mudança chegaria partindo das minhas mãos.
Talvez seja a onipotência inerente da profissão, talvez seja a ingenuidade pela pouca idade, mas eu realmente achei que seria a mudança.
É bobo pensar assim, admito.
Por fim você aprende a ceder e desbarrancar com as ondas do caminho.
O  antibiótico prescrito somente por exigência da mãe, o atestado para faltar no trabalho por sem vergonhice, as consultas de 2 minutos para acabar com a imensa fila de espera...
Não que seja minha culpa, nem que seja um problema que só eu enfrento. Mas eu realmente achei que seria diferente.
Então eu juro que eu nunca mais voltarei ali, que será a última vez, que eu vou mudar para praia e trabalhar num postinho de saúde, atender várias senhorinhas com dores de cabeça, crianças com rinite, e gestantes em pré natal...
No último minuto chega ele, não respira, não esboça. Vai aqui, passa o tubo, massageia, pega veia, vai indo.
Até que ele respira.
E ai eu juro... Eu juro que vou mudar o mundo... E volto amanhã...

sábado, 17 de novembro de 2012

Pena...

Chega um dia em que a gente para de se questionar sobre a existência das coisas, e começa se questionar sobre a validade delas....
Eu ainda sinto a sua falta como se fosse quinta feira de uma semana longa, e talvez sempre espere a sexta feira para poder sentir o cheiro do seu shampoo caro e desnecessário. Pode ser que vez por outra bata a mão ao lado vazio da cama e isso me doa em meio ao sono. Tudo pode perdurar, e eu não me iludo quanto a uma possível transitoriedade da saudade.
Não há duvidas sobre a existência de um Amor...
Até que chega o dia no qual você para de pensar em viver aquilo, por perceber que onde deveria haver refugio, existe somente o clarão das noites não vividas.
E decide que não importa mais o que ouça, nada vai demovê-lo da idéia de que esse Amor não é mais vivenciável.
Me permita usar o exemplo das ervilhas, apesar de saber que você não as tolera; Nosso amor se tornou uma latinha de ervilhas que passou um pouco do prazo, apesar de sua existência concreta, não há como consumí-la sem que eu ou você adoeçamos.
Confesso que em outros tempos eu assumiria o risco, apesar de saber que você jamais se sujeitaria.
É uma pena que um dia você tenha me ensinado a respeitar os prazos de validade, uma pena...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Luminescências...

'Aquela moça era intrépida. E eu tinha ciúmes dela, porque seu sorriso era mais branco e seu olhar mais brando que as pradarias orvalhadas do sul. Eram suas lágrimas que subiam num constante sublimar, ela não tinha delírios, seu único mal era amar... E queria logo o meu. Mas eu guardava o maço de cigarros, acendia só um palheiro e olhava de longe... No fundo eu a queria matar, mas a vida me ensinou a sorrir.' - Delir-se da moça do microfone.

'O desejo era de delibá-la toda naquela constância da música que surgia entre as distâncias. O batuque do coração acelerado, meu horizonte verticalizado, o toque do violão que chorava minhas lágrimas. Eram nuvens d'água aqueles passos belos, seus pés flutuavam como quem calçasse o céu, e era o céu vê-la bailar. Os cabelos molhados de suor colados ao rosto, a roda peregrina que cirandava aos montes curvos de seu quadril, e os joelhos beijando o chão... Era minha mais pura devoção sentir aquele perfume tomar conta da sala.' - Delibando uma canção.

Aquele calor sufocava as palavras e o discurso alheio abafava meus pensamentos. Era como se todas as respirações esmagassem meu tato, minha sensibilidade gustativa, meus olhares. Esmagavam-me com seus suspiros, porque eu nunca fui de felicidade. Aquela risada toda era corda bamba, fazia tremer minhas incertezas e eu não precisava de ninguém para derrubar minhas falsidades. Jurei que aquele gole de
 vinho seria o último, derradeiro despedir sem falar nada, levantaria e sairia por aquela porta como quem desdenha a alegria que está na mesa. Eles eram felizes demais para minha história, para minhas derrotas e falências. Eles eram felizes até por debaixo da chuva, penso que até se enterrados em lama. Esmagavam-me todos com seus ardores em chama, com suas paixões furtivas, com suas verdades libertadoras. E eu, que sempre fui de pessimismo, queria sair dali, mas para seguir a rigor a regra teria que ficar e assistir à minha desgraça. - Desmadrigado pessimista.

'Chovia. Aquela água toda me lembrava os campos bravos de cavalos selvagens. Não sei se chove lá, mas tem algo assim, de liberdade. E as tempestades trazem monotonia, é fato, mas também carregam a pulverização da fertilidade. É como se nos dias de sol tudo fosse igual, é sempre a mesma labuta, o mesmo calor intenso, os mesmos sorrisos, os mesmos ânimos – ainda que ora muito contente, ora muito cansado. Nos dias de chuva é sempre diferente, não se sabe quanta chuva vai fazer, porque não é estável como o sol. Não se sabe se haverá raios e trovões, ou se o guarda-chuva vai aguentar, se vai ventar ou se vai ser chuva parada... O fato é que com a chuva aprendi o segredo da vida, que é estar no meio do caminho sempre que houver muita imprevisão.' - Imprevisão Temporal.

‘Aqueles tempos eram de imprevistos. Eu te via passar ao meu lado, e teu ar gelado me causava arrepio. Olhares taciturnos de quem chora sem lágrimas. Aqueles teus olhos d’água, de verde claro profundos... Ardis miradas sem resposta, no começo eu te achava tão bruto. Sempre envolto em conversas jogadas fora – estávamos no mesmo cômodo ainda que por cima do muro. E eu te vigiava de olhadela – não perdia nada nem por um segundo. Naqueles tempos te paquerar era festa, e eu me punha vermelha nesses tantos imprevisíveis encontros fortuitos.’- Ardil Paquera.
Letícia Conde


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Manual de sobrevivência

Fecha os olhos no calor dessa noite.
Podes chorar como se não houvesse necessidade de guardar as lágrimas para amanhã, desagua o desgosto como se fosse o fim.
Apesar de saber que não o é.
Chega de pausas, encosta a porta e liga o chuveiro. Termina ali dentro.
Por definitivo, senta no chão molhado, e nem sente o peso da tristeza misturada com a água que escorre pelo rosto.
É muita bagagem para tão pouco emocional. Há de carregá-la atada ao sentimento mesmo assim...
Sempre carregou.
Quando a dor deixa de ter pretexto pontual é quando ela machuca mais, é tristeza.
São 15 minutos, são suficientes.
Recolhe toda a tralha, e sai.
Então ao vestir as calças tira do bolso o bilhete amassado
"- Eu só acho que você pode fazer melhor, espero que saiba".
 De alguma forma, sabe.



quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Santuário

É como se o prenuncio do seu toque trouxesse chuva a aridez dos meus sentimentos. Então o ar ao redor umedece e me beija os lábios, antes mesmo dos seus me tocarem.
Aos poucos sinto a distancia entre a soleira da porta e o calor da cama diminuir. Como se o mundo se apequenasse tanto, sendo capaz de caber em um só cômodo da casa.
Nunca imaginei que seria assim.
Talvez não quisesse cogitar a hipótese de que a felicidade não se resume a laços eternos, mas está contida em momentos. Elaborar o fato de que algo pode não durar, tornava-se doloroso para alguém com necessidade de pisar no chão descalço só pra sentí-lo, agora parece natural. Tão natural.
Quando você para de fazer as perguntas erradas, deixa de receber as respostas que não precisa.
No sussurro risonho ao pé do ouvido te ouço. Mais perto, mesmo ao flutuar. Pairando na minha frente como cores dando vida ao momento.
Está aqui, novamente.
É então nos seus braços por de baixo do meu abraço que eu encontro meu santuário...

domingo, 26 de agosto de 2012

Despedida...

Quando nos despedimos de um amigo sutilmente...
Quando a despedida já foi dada há tempos...
Quando não cabem mais palavras, e tropeçamos nos momentos.

Não duvido do que tivemos de amizade, em local e hora alguma eu disse isso... não coloque sentimentos em meu coração. Também não falo do futuro, ele é incerto e realmente nunca vem. Falo do presente, do reencontro que nunca se deu na verdade. Certas coisas são finitas, e não estou colocando como algo ruim, veja bem... eu disse: "como pessoas necessárias por um tempo, mas não todo ele." porque tudo o que vem vai, é natural, ganhamos e perdemos continuamente porque essa é a vida, viver e morrer, são as dicotomias que nos levam e que nos permeiam durante nossa estadia. é só que eu andei pensando que talvez eu tenha sido alguém que chegou em certo momento e não foi mais a pessoa, a amiga que você precisava, compreende?! não repreendendo algum dos dois, fora disso, mas porque até mesmo a nossa visão de mundo muda, e acabamos vendo facetas das pessoas também que nem sempre gostaríamos de ver, ou que não víamos antes e passamos a ver porque mudamos, como você mesmo disse. Eu sempre fiquei na expectativa, por isso é que pergunto, porque no fundo, ao contrário do que você falou, eu nunca duvidei, e o oposto, sempre acreditei, acreditei na esperança talvez ingênua de que um dia você realmente fosse me ligar e dizer: Lê, estou em Bauru, vamos nos ver?! ou simplesmente mandar notícias.
A amizade nunca muda, acredito muito nisso de retomar como se fosse ontem, é certo. Mas é verdadeiro também que devemos cultivar ...
Não nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos, mas somos responsáveis por cativar aquilo que queremos eternamente.
Com carinho saudoso...

domingo, 19 de agosto de 2012

Timidez

Sobre lábios e timidez talvez eu entenda mais do que a maioria das pessoas.
Pode ser que a minha, a sua, o meu, o seu, sejam propriedades apenas transitórias.
Talvez seja essa a beleza do não estabelecido, das palavras que ficam sufocadas como ar. São todas transitórias.
É assim mesmo, a gente leva na brincadeira, faz piada do sentimento para não levar a sério.
E enquanto brinca deixa a mostra uma coisa, esconde outra. Faz pouco daquilo que comove, torna-se forte naquilo que é fraco.
Pode ser assim?
Pode sim.
Quando você entende que jeito certo não há, pode ser de qualquer jeito. Desde que ande para frente.
Então a timidez se desfaz aos poucos, e deixa falar algo de dentro.
Até que os lábios se encontram...


Mudança

Você tá de mudança!
Tá indo embora, partindo.
Tudo era questão de deixar, você me deixou, eu não deixei.
Então eu deixei.
E aí?
Sobra o que?
Como ficamos?
Não ficamos, não desta vez.
Nunca mais...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

..idade..


É engraçado.
A vida vai passando e a gente vai se lembrando de quem já conheceu.
Às vezes bate aquela saudade, às vezes parece que nunca foi uma amizade...
A vida é engraçada. E ela tira sarro com a nossa cara.
Tem horas que tudo parece mínimo para mim. Tem horas em que o mínimo não parece só detalhe. Parece coisa grande, aquele amor que passou e deixou certa saudade. Ou um amigo que se foi sem mais nem menos, e hoje a conversa não sai na espontaneidade. Sabe como é, as pessoas mudam. E mudam?
O futuro dá medo em mim. Traz ares de renovação e de novidade. E se tudo sair errado, e se eu me der mal, e se...?
O futuro é tão distante e cheio de impossibilidades.
Eu sinto falta.
Sinto saudades de certas pessoas que hoje já não me cercam. Porém essas são as que eu menos procuro, porque talvez se não me cercam é para o melhor, é porque não tinha que ser.
Conformismo. Ou maturidade. Não importa qual a opinião geral.
Estou farta de insanidades.
Quero a vida completa dentro de mim.
E eu choro, porque me encho de momentos divinos. Momentos alguns que eu sei que é despedida, ainda que o outro não saiba.
Dai fica um conselho ou outro, uma última palavra querida.
Nem tudo precisa terminar em mesquinharia e atrocidades.
Canibalismo, a gente aprende a engolir a própria língua para não morder os outros com nossa auto-piedade. A gente aprende a não comer os outros para nossa própria saciedade.
A gente aprende a digerir.
E simplesmente ficar feliz por estar em outro estado de felicidade.
Mas isso é só um desabafo de quem perdeu um dom, mas aprendeu (aprendeu?) algo com a vinda de uma melhor idade.

sábado, 4 de agosto de 2012

Cafés...

Milla está encostada no beiral da sacada.
Lá há espaço somente para no máximo três almas.
Beiral frio e estreito, cheio de falhas. Pintura desgastada. Ela cai de acordo com as folhas outonais.
E tudo no chão é vermelho.
A cidade dali de cima parece cinza. Madeira que perde a cor. Vitalidade que se vai.
Milla chegou faz 2 anos, mas não se adaptou.
O jardim do vizinho parece tão macio. O verde do outro é sempre mais visível.
A xícara de café lhe faz companhia. Não há nada na geladeira que sirva como parceria. Estão a sós. O degustar é para ela, o café não se importa. Ou ao menos não parece esquentar.
O clima é frio, a temperatura cai, tudo esfria.
Milla é sozinha. No apartamento caberia mais uns cinco, porém ela gosta de privacidade, prefere a solidão de quem escolhe dormir na cama vazia.
Calafrio. É um vulto. Vulto do falecido que já se foi. Levou as cobertas, Milla tem aquecedor.
E na rua as folhas vermelhas, um pouco de café derramado... Ela quem entornou.
Queria ver se dava para enxergar chegar ao solo. Mas o caminho é mais longo que sua visão.
Talvez houvesse um jeito de acompanhar.
Uma máquina para aproximar a colisão.
Milla vai até a mesa na sala, deixa lá o resto de café - há algumas manchas novas em seu sofá.
Volta para o beiral. Encosta.
Olha para o céu e aposta...
Não levaria 30 segundos para tocar o chão.
Fecha os olhos e conta...
E se lembra...
...É sempre eternidade quando tudo o mais é escuridão.

Ia...

Ela queria ser alegre, dessas pessoas que são alegres o tempo todo.
E explodir balões, e assoprar bolhas de sabão.
Correr pela grama brincando de pega-pega.
Pique-esconde por detrás da cristaleira.
Queria quebrar todos os copos e rir do barulho agudo de tudo virando pó.
Ela desejava ter um sorriso na face e ser o tempo todo sorridente.
Tipo uma palhaça que guarda a amargura e não chora por nada.
Queria fazer cosquinhas e sempre ser engraçada.
Queria fazer dar risada a qualquer momento.
Queria ver a vida com a leveza de quem não sofreu desgraça.
Ela desejava ir pra praia e ver um show na areia.
Fazer amor na orla.
Ter uma pedra chamada Franccesca.
Desejava possuir uma banheira com pétalas de rosas dentro.
Uma champanhe aberta na faca.
Queria saber uma luta e massagens afrodisíacas.
Aprender a fazer sobremesas.
Queria aprender cordiais palavras.
Não brigar por qualquer coisa.
Ver em tudo folia.
Ela queria, como queria
cantar músicas desafinadas.
Não ter medo de nada.
Ter o equilíbrio de uma formiga.
Ela queria ter a paciência de um oriental.
A calmaria de uma lagoa.
A força de uma elefoa.
Ela queria ser gente normal.
Mas não podia...
Porque ela era Letícia.
E a Letícia sou diferente de tudo isso.........