sábado, 17 de novembro de 2012

Pena...

Chega um dia em que a gente para de se questionar sobre a existência das coisas, e começa se questionar sobre a validade delas....
Eu ainda sinto a sua falta como se fosse quinta feira de uma semana longa, e talvez sempre espere a sexta feira para poder sentir o cheiro do seu shampoo caro e desnecessário. Pode ser que vez por outra bata a mão ao lado vazio da cama e isso me doa em meio ao sono. Tudo pode perdurar, e eu não me iludo quanto a uma possível transitoriedade da saudade.
Não há duvidas sobre a existência de um Amor...
Até que chega o dia no qual você para de pensar em viver aquilo, por perceber que onde deveria haver refugio, existe somente o clarão das noites não vividas.
E decide que não importa mais o que ouça, nada vai demovê-lo da idéia de que esse Amor não é mais vivenciável.
Me permita usar o exemplo das ervilhas, apesar de saber que você não as tolera; Nosso amor se tornou uma latinha de ervilhas que passou um pouco do prazo, apesar de sua existência concreta, não há como consumí-la sem que eu ou você adoeçamos.
Confesso que em outros tempos eu assumiria o risco, apesar de saber que você jamais se sujeitaria.
É uma pena que um dia você tenha me ensinado a respeitar os prazos de validade, uma pena...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Luminescências...

'Aquela moça era intrépida. E eu tinha ciúmes dela, porque seu sorriso era mais branco e seu olhar mais brando que as pradarias orvalhadas do sul. Eram suas lágrimas que subiam num constante sublimar, ela não tinha delírios, seu único mal era amar... E queria logo o meu. Mas eu guardava o maço de cigarros, acendia só um palheiro e olhava de longe... No fundo eu a queria matar, mas a vida me ensinou a sorrir.' - Delir-se da moça do microfone.

'O desejo era de delibá-la toda naquela constância da música que surgia entre as distâncias. O batuque do coração acelerado, meu horizonte verticalizado, o toque do violão que chorava minhas lágrimas. Eram nuvens d'água aqueles passos belos, seus pés flutuavam como quem calçasse o céu, e era o céu vê-la bailar. Os cabelos molhados de suor colados ao rosto, a roda peregrina que cirandava aos montes curvos de seu quadril, e os joelhos beijando o chão... Era minha mais pura devoção sentir aquele perfume tomar conta da sala.' - Delibando uma canção.

Aquele calor sufocava as palavras e o discurso alheio abafava meus pensamentos. Era como se todas as respirações esmagassem meu tato, minha sensibilidade gustativa, meus olhares. Esmagavam-me com seus suspiros, porque eu nunca fui de felicidade. Aquela risada toda era corda bamba, fazia tremer minhas incertezas e eu não precisava de ninguém para derrubar minhas falsidades. Jurei que aquele gole de
 vinho seria o último, derradeiro despedir sem falar nada, levantaria e sairia por aquela porta como quem desdenha a alegria que está na mesa. Eles eram felizes demais para minha história, para minhas derrotas e falências. Eles eram felizes até por debaixo da chuva, penso que até se enterrados em lama. Esmagavam-me todos com seus ardores em chama, com suas paixões furtivas, com suas verdades libertadoras. E eu, que sempre fui de pessimismo, queria sair dali, mas para seguir a rigor a regra teria que ficar e assistir à minha desgraça. - Desmadrigado pessimista.

'Chovia. Aquela água toda me lembrava os campos bravos de cavalos selvagens. Não sei se chove lá, mas tem algo assim, de liberdade. E as tempestades trazem monotonia, é fato, mas também carregam a pulverização da fertilidade. É como se nos dias de sol tudo fosse igual, é sempre a mesma labuta, o mesmo calor intenso, os mesmos sorrisos, os mesmos ânimos – ainda que ora muito contente, ora muito cansado. Nos dias de chuva é sempre diferente, não se sabe quanta chuva vai fazer, porque não é estável como o sol. Não se sabe se haverá raios e trovões, ou se o guarda-chuva vai aguentar, se vai ventar ou se vai ser chuva parada... O fato é que com a chuva aprendi o segredo da vida, que é estar no meio do caminho sempre que houver muita imprevisão.' - Imprevisão Temporal.

‘Aqueles tempos eram de imprevistos. Eu te via passar ao meu lado, e teu ar gelado me causava arrepio. Olhares taciturnos de quem chora sem lágrimas. Aqueles teus olhos d’água, de verde claro profundos... Ardis miradas sem resposta, no começo eu te achava tão bruto. Sempre envolto em conversas jogadas fora – estávamos no mesmo cômodo ainda que por cima do muro. E eu te vigiava de olhadela – não perdia nada nem por um segundo. Naqueles tempos te paquerar era festa, e eu me punha vermelha nesses tantos imprevisíveis encontros fortuitos.’- Ardil Paquera.
Letícia Conde


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Manual de sobrevivência

Fecha os olhos no calor dessa noite.
Podes chorar como se não houvesse necessidade de guardar as lágrimas para amanhã, desagua o desgosto como se fosse o fim.
Apesar de saber que não o é.
Chega de pausas, encosta a porta e liga o chuveiro. Termina ali dentro.
Por definitivo, senta no chão molhado, e nem sente o peso da tristeza misturada com a água que escorre pelo rosto.
É muita bagagem para tão pouco emocional. Há de carregá-la atada ao sentimento mesmo assim...
Sempre carregou.
Quando a dor deixa de ter pretexto pontual é quando ela machuca mais, é tristeza.
São 15 minutos, são suficientes.
Recolhe toda a tralha, e sai.
Então ao vestir as calças tira do bolso o bilhete amassado
"- Eu só acho que você pode fazer melhor, espero que saiba".
 De alguma forma, sabe.



quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Santuário

É como se o prenuncio do seu toque trouxesse chuva a aridez dos meus sentimentos. Então o ar ao redor umedece e me beija os lábios, antes mesmo dos seus me tocarem.
Aos poucos sinto a distancia entre a soleira da porta e o calor da cama diminuir. Como se o mundo se apequenasse tanto, sendo capaz de caber em um só cômodo da casa.
Nunca imaginei que seria assim.
Talvez não quisesse cogitar a hipótese de que a felicidade não se resume a laços eternos, mas está contida em momentos. Elaborar o fato de que algo pode não durar, tornava-se doloroso para alguém com necessidade de pisar no chão descalço só pra sentí-lo, agora parece natural. Tão natural.
Quando você para de fazer as perguntas erradas, deixa de receber as respostas que não precisa.
No sussurro risonho ao pé do ouvido te ouço. Mais perto, mesmo ao flutuar. Pairando na minha frente como cores dando vida ao momento.
Está aqui, novamente.
É então nos seus braços por de baixo do meu abraço que eu encontro meu santuário...

domingo, 26 de agosto de 2012

Despedida...

Quando nos despedimos de um amigo sutilmente...
Quando a despedida já foi dada há tempos...
Quando não cabem mais palavras, e tropeçamos nos momentos.

Não duvido do que tivemos de amizade, em local e hora alguma eu disse isso... não coloque sentimentos em meu coração. Também não falo do futuro, ele é incerto e realmente nunca vem. Falo do presente, do reencontro que nunca se deu na verdade. Certas coisas são finitas, e não estou colocando como algo ruim, veja bem... eu disse: "como pessoas necessárias por um tempo, mas não todo ele." porque tudo o que vem vai, é natural, ganhamos e perdemos continuamente porque essa é a vida, viver e morrer, são as dicotomias que nos levam e que nos permeiam durante nossa estadia. é só que eu andei pensando que talvez eu tenha sido alguém que chegou em certo momento e não foi mais a pessoa, a amiga que você precisava, compreende?! não repreendendo algum dos dois, fora disso, mas porque até mesmo a nossa visão de mundo muda, e acabamos vendo facetas das pessoas também que nem sempre gostaríamos de ver, ou que não víamos antes e passamos a ver porque mudamos, como você mesmo disse. Eu sempre fiquei na expectativa, por isso é que pergunto, porque no fundo, ao contrário do que você falou, eu nunca duvidei, e o oposto, sempre acreditei, acreditei na esperança talvez ingênua de que um dia você realmente fosse me ligar e dizer: Lê, estou em Bauru, vamos nos ver?! ou simplesmente mandar notícias.
A amizade nunca muda, acredito muito nisso de retomar como se fosse ontem, é certo. Mas é verdadeiro também que devemos cultivar ...
Não nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos, mas somos responsáveis por cativar aquilo que queremos eternamente.
Com carinho saudoso...

domingo, 19 de agosto de 2012

Timidez

Sobre lábios e timidez talvez eu entenda mais do que a maioria das pessoas.
Pode ser que a minha, a sua, o meu, o seu, sejam propriedades apenas transitórias.
Talvez seja essa a beleza do não estabelecido, das palavras que ficam sufocadas como ar. São todas transitórias.
É assim mesmo, a gente leva na brincadeira, faz piada do sentimento para não levar a sério.
E enquanto brinca deixa a mostra uma coisa, esconde outra. Faz pouco daquilo que comove, torna-se forte naquilo que é fraco.
Pode ser assim?
Pode sim.
Quando você entende que jeito certo não há, pode ser de qualquer jeito. Desde que ande para frente.
Então a timidez se desfaz aos poucos, e deixa falar algo de dentro.
Até que os lábios se encontram...


Mudança

Você tá de mudança!
Tá indo embora, partindo.
Tudo era questão de deixar, você me deixou, eu não deixei.
Então eu deixei.
E aí?
Sobra o que?
Como ficamos?
Não ficamos, não desta vez.
Nunca mais...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

..idade..


É engraçado.
A vida vai passando e a gente vai se lembrando de quem já conheceu.
Às vezes bate aquela saudade, às vezes parece que nunca foi uma amizade...
A vida é engraçada. E ela tira sarro com a nossa cara.
Tem horas que tudo parece mínimo para mim. Tem horas em que o mínimo não parece só detalhe. Parece coisa grande, aquele amor que passou e deixou certa saudade. Ou um amigo que se foi sem mais nem menos, e hoje a conversa não sai na espontaneidade. Sabe como é, as pessoas mudam. E mudam?
O futuro dá medo em mim. Traz ares de renovação e de novidade. E se tudo sair errado, e se eu me der mal, e se...?
O futuro é tão distante e cheio de impossibilidades.
Eu sinto falta.
Sinto saudades de certas pessoas que hoje já não me cercam. Porém essas são as que eu menos procuro, porque talvez se não me cercam é para o melhor, é porque não tinha que ser.
Conformismo. Ou maturidade. Não importa qual a opinião geral.
Estou farta de insanidades.
Quero a vida completa dentro de mim.
E eu choro, porque me encho de momentos divinos. Momentos alguns que eu sei que é despedida, ainda que o outro não saiba.
Dai fica um conselho ou outro, uma última palavra querida.
Nem tudo precisa terminar em mesquinharia e atrocidades.
Canibalismo, a gente aprende a engolir a própria língua para não morder os outros com nossa auto-piedade. A gente aprende a não comer os outros para nossa própria saciedade.
A gente aprende a digerir.
E simplesmente ficar feliz por estar em outro estado de felicidade.
Mas isso é só um desabafo de quem perdeu um dom, mas aprendeu (aprendeu?) algo com a vinda de uma melhor idade.

sábado, 4 de agosto de 2012

Cafés...

Milla está encostada no beiral da sacada.
Lá há espaço somente para no máximo três almas.
Beiral frio e estreito, cheio de falhas. Pintura desgastada. Ela cai de acordo com as folhas outonais.
E tudo no chão é vermelho.
A cidade dali de cima parece cinza. Madeira que perde a cor. Vitalidade que se vai.
Milla chegou faz 2 anos, mas não se adaptou.
O jardim do vizinho parece tão macio. O verde do outro é sempre mais visível.
A xícara de café lhe faz companhia. Não há nada na geladeira que sirva como parceria. Estão a sós. O degustar é para ela, o café não se importa. Ou ao menos não parece esquentar.
O clima é frio, a temperatura cai, tudo esfria.
Milla é sozinha. No apartamento caberia mais uns cinco, porém ela gosta de privacidade, prefere a solidão de quem escolhe dormir na cama vazia.
Calafrio. É um vulto. Vulto do falecido que já se foi. Levou as cobertas, Milla tem aquecedor.
E na rua as folhas vermelhas, um pouco de café derramado... Ela quem entornou.
Queria ver se dava para enxergar chegar ao solo. Mas o caminho é mais longo que sua visão.
Talvez houvesse um jeito de acompanhar.
Uma máquina para aproximar a colisão.
Milla vai até a mesa na sala, deixa lá o resto de café - há algumas manchas novas em seu sofá.
Volta para o beiral. Encosta.
Olha para o céu e aposta...
Não levaria 30 segundos para tocar o chão.
Fecha os olhos e conta...
E se lembra...
...É sempre eternidade quando tudo o mais é escuridão.

Ia...

Ela queria ser alegre, dessas pessoas que são alegres o tempo todo.
E explodir balões, e assoprar bolhas de sabão.
Correr pela grama brincando de pega-pega.
Pique-esconde por detrás da cristaleira.
Queria quebrar todos os copos e rir do barulho agudo de tudo virando pó.
Ela desejava ter um sorriso na face e ser o tempo todo sorridente.
Tipo uma palhaça que guarda a amargura e não chora por nada.
Queria fazer cosquinhas e sempre ser engraçada.
Queria fazer dar risada a qualquer momento.
Queria ver a vida com a leveza de quem não sofreu desgraça.
Ela desejava ir pra praia e ver um show na areia.
Fazer amor na orla.
Ter uma pedra chamada Franccesca.
Desejava possuir uma banheira com pétalas de rosas dentro.
Uma champanhe aberta na faca.
Queria saber uma luta e massagens afrodisíacas.
Aprender a fazer sobremesas.
Queria aprender cordiais palavras.
Não brigar por qualquer coisa.
Ver em tudo folia.
Ela queria, como queria
cantar músicas desafinadas.
Não ter medo de nada.
Ter o equilíbrio de uma formiga.
Ela queria ter a paciência de um oriental.
A calmaria de uma lagoa.
A força de uma elefoa.
Ela queria ser gente normal.
Mas não podia...
Porque ela era Letícia.
E a Letícia sou diferente de tudo isso.........

Paty.

Paty nem sempre fora a mais bonita do local. Mas quando cresceu, aproveitou todos os carnavais de sua vida.
Era o tipo de moça comportada, santa que senta e olha sem dizer uma palavra. Só mexendo o canudo com a boca, despejando saliva por toda a borda dos lábios avermelhados.
Carnudos beiços, Paty sabia como comê-los em pedaços, mordiscando os cantos como quem oferece sem revelar o verdadeiro gosto.
Gozo, era o que todos sentiam ao vê-la.
Bunda redonda, nem era tão empinada, mas daquelas que cabem bem fora de um fio dental. Fora porque o fio entrava todinho, claro que para isso era necessário aquele puxãozinho - de leve.
Quando fazia sexo era sempre de quatro, não gostava de ver a cara dos homens nem ser beijada por alguém por quem não sentia nada. Era a contradição em carne e pecado - uma verdadeira safada.
Morena queimada de sol e mormaço. Uma pequena, cabia inteira quase na palma da mão.
Mamilos pretos, duros, finos, de peito liso, arrebitado. Seios ideais, não grandes, porém fartos.
Com mulheres gostava de chupar, lambia-as todas como se fosse produzir mel com a própria boca.
Uma abelha com ferrões no olhar, ela podia matar qualquer um com aquelas piscadas.
Dizem que certa vez um infartou. Outro teve que ser internado em estado de loucura.
Tudo histórias, uma mistura de ficção e álcool.
Ou vai ver realidade e fatos... Ninguém tem uma prova de qualquer contrário.
De toalha fez uma garota jurar amá-la. As duas se comeram no gramado até o sol se pôr. Foi o sexo mais natural de sua vida.
Com homens era mais bruta.
Gostava também de anal. Mas não dava aos machos o prazer daquela entrada, ela sabia que era sempre um prazer ver sua cara de dor. Aquele local era mais caro, tinha que ser pago com amor - depósito adiantado!
Aos desavisados, Paty hoje é casada, mudou o corte de cabelo e a cor.
Dizem que um ou outro ainda a vê sair sem calcinha.
Dizem... Com Paty as histórias sempre foram em grande parte boatos que ela mesma inventou.

domingo, 22 de julho de 2012

Rosa Branca

Da memória, a saudade ainda me castiga vez por outra.
Sabes como é, coração que dá laço no próprio pé acaba todo enroscado em si mesmo.
Mesmo assim fostes importante. Tragédia ou comédia, ainda não defini.
Sei só que a bravura de um coração enroscado é a maior tormenta de um homem.
Não preciso de respostas de nada. Basta-me o que já sei.
E então o respeito póstumo por ti, torna-se ojeriza.
E as Rosas Brancas?
Eu sinto por elas.
Faça piada com o meu Amor, mas jamais insulte uma Rosa Branca dada a ti. Ela não tem lágrimas a chorar.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Imperativo

Não dorme mais. Acorda cedo.
Toma café. Não sai de estômago vazio.
Ganha dinheiro. Vai no mercado.
Tá errado. Faz de novo.
Tá certo. Fizeste tua obrigação somente.
Não chora. Tenha força.
Não caia. Permaneça em pé.
Levanta. Não reclama.
Aquieta. Não apavora.
Se quiser Amar, tudo bem.

A vida vai se tecendo dentro de imperativos, vamos nos esquecendo que o que faculta é o essencial.
Por isso, hoje, a maior loucura de alguém é rejeitar qualquer fagulha de Amor, seja ela de quem vier, como vier. No choro, na alegria, no abraço, no cortejo, no olhar, na palavra.
O único imperativo da vida de alguém deveria ser: Ame!
Amor é, e sempre será a salvação da humanidade, e a nossa maior ligação com o criador.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Salmo 142

Com a minha voz clamo ao Senhor;
com a minha voz ao Senhor suplico.
Derramo perante ele a minha queixa;
diante dele exponho a minha tribulação.
Quando dentro de mim esmorece o meu espírito,
então tu conheces a minha vereda;
no caminho em que eu ando ocultaram-me um laço.
Olha para a minha mão direita, e vê,
pois não há quem me conheça;
refúgio me faltou;
ninguém se interessa por mim.
A ti, ó Senhor, clamei;
eu disse: Tu és o meu refúgio,
o meu quinhão na terra dos viventes.
Atende ao meu clamor,
porque estou muito abatido;
livra-me dos meus perseguidores,
porque são mais fortes do que eu.
Tira-me da prisão,
para que eu louve o teu nome;
os justos me rodearão, pois me farás muito bem.

 
 
 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Equivalente emocional

- Você é emocionalmente burro!
- Eu não preciso ouvir isso agora.
- Você é, e ponto. Cala a boca e escuta, tem horas que eu sinto vontade de te matar por conta dessa merda toda. Burro! Burro! Um dia eu vou descontar todas as merdas que eu ouvi de você rasgando a sua cara. Eu rezo tanto pra não te odiar, mas as vezes eu acho que já te odeio só por me fazer sentir esse desespero.
- Por favor, agora não. Não era pra brigar...
- Inferno, escuta até o final. Se você desligar, eu vou ligar de novo. Eu virei tanta coisa de cabeça pra baixo, e você sempre volta no mesmo lugar. Surdo! Cego! Burro! Não era pra ser assim, não agora. Mesmo não tendo nada a ver com isso, eu to com muita raiva de você. Muita.
- Eu não fiz nada pra você.
- Realmente, emocionalmente burro! É justamente por isso que eu to com vontade de te matar. Nada!
Não fez nada!
- Se é pra ser assim, melhor voltar a falar o básico. Eu não posso com tudo isso agora, eu to falando sério.
- Você nunca pode. Apesar de querer muito poder conviver com você, eu ainda não consigo. É bom a gente voltar a se falar o necessário, melhor do que brigar por causa perdida. A única coisa que me conforta é saber que você faz a mesma coisa que eu. Burra eu!
- Tenho coisa pra fazer, deixo ele ai domingo.
- Por favor, faz isso. Obrigada
- Tchau.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Amnésia


Com o tempo tudo vai sendo esquecido.
Imagens vão sendo apagadas, fotos vão deixando de ser tiradas, tudo vai esvaecendo...
Os jardins um dia não mais florirão e as flores perderão os cheiros. Quando todos se esquecerem de ouvir, não irá haver nem mesmo silêncio.
E não mais repararão nas folhas que caem, nem nos amores que se apaixonam todos os dias.
Um dia, quando tudo se esquecer de ser... Os homens já não mais são.
Lucidez embriagada não terá vertigem, e as drogas não trarão conforto. As fugas serão ruas sem saída.
Com o tempo tudo vai sendo apagado, feito neve que desbota o chão. Vai acumulando esquecimentos, que feitos cimento, encobrem toda a memória, aliviam o peito.
É como tiro certeiro, um buraco, vácuo, sem trajetória. Importa só o vazio e o desterro.
Com o tempo vai-se deletando tudo o que não importa, e o que importa também.
Vai sendo tudo meio labirintesco, e vai-se também perdendo o medo, vomita-se sangue, mas o importante é sorrir.
Solidão que não larga de mim, que não larga de ti, que não larga de nós. Um dia da solidão se despedirão, porque nem a ela se agarrarão mais.
E a saudade... que saudade? Está tudo quieto, é um começo.
Atravesso a rua, paro no meio... Vem lá no fundo um carro veloz.



Escolhas...


Ir embora é sempre mais fácil do que permanecer.
A gente batalha,  se amarra, se escora num pau para não cair. Ai vem a tempestade e nos afoga, a vontade que dá é de nadar para longe dali.
Porque é mais fácil partir, desistir, ausentar.
Não tenho aonde ir, então fico de pé esperando alguém voltar.
E ele bate à porta, e decide: é hora de ficar. E começamos de novo, uma nova história, mas as nuvens saudosas vêm nos visitar. Rapidamente fechamos - portas, janelas, sacadas, corações, alma. Tudo selado pronto para o grande furacão.
Estamos no olho, é escura sua íris. E quem disse que sou oftalmólogo? Pronto! Novamente em crise.
A pálpebra se fecha, o telhado ainda está intacto... Mas o ar sufocado mofa a respiração.
Congestão, vamos deitar que não passa nada.
E dormimos, e esperamos. Há para onde correr.
Mas ficamos...
É mais fácil partir do que permanecer.

Fumo


Eu fumo, fumo como se lavasse a alma.
Na falta de agora, preencho o ausentar da presença com o futuro. Me contento com o nada esperando tudo. Eu fumo. E não me sobra raspa, pito até queimar as unhas, até doer a carcaça que logo mais ganha rumo. Um caixão quem sabe...
É na solidão das vozes que se escuta a palha que queima rogando prosa, que invade sufocando palavra.
Eu fumo, principalmente quando estou sozinha, porque é quando me conecto com o mundo, o grande arquiteto que me olha.
E o palheiro vai se despedindo, como outro amigo que vai indo depois de uma conversa demorada.
As cinzas são as lágrimas que saem da mão, diretamente batidas dos dedos, e a fumaça...
A fumaça é a compreensão, é a luta, é o medo, é a essência empurrada para fora para que se esvaia, já que não sobra nada além de um corpo torpe e muitas lástimas.
Eu fumo.
Fumo como se fumar significasse algo...
...mas não passa de alguém que se mata.

Tem dias...


Tem dias em que és tamanha secura que brotam rugas em mim, feito terra árida a criar sulcos, me carcome a face essa tua ausência. E és tão bruto que meus torrões se tornam diamantes lapidados pela aspereza da falta de tua presença, me és assim, feito grão de areia a entrar no olho.
Tem dias em que és tão presente que é como se fosse me deixar ao relento, barrento e argiloso meu plano ganha forma e meu corpo ganha fermento, aumentando as bordas desses meus pensamentos anuveados que vagam com o vento.
Tem dias, porém, em que não és nada, és como nuvem que não deságua, és lavadeira de escadaria, água de torneira ou de pia, matando a sede de quem é visita. Tem dias em que és ribeirinho, destorce meus desalinhos e me deixa pela metade.
Senhor do tempo, por que não te abunda no delta que te circunda o fim de tua maresia? Escorre feito lágrima, porque és sedento e vistoso, cristalino e pálido feito gota a escorrer pela face, são teus traços que emergem na terra de meu corpo...
Me dominas em teus terrenos afogadiços, areias movediças de descasos... É, meu senhor, ainda que te caia chuva, estás igualmente a secar a mim ainda assim quando és tempestades.

 *Texto inspirado em outro, ainda não publicado, de um amigo Munduruku.

domingo, 1 de julho de 2012

Vitalidade

Nasci de parto normal...
Fui empurrado ao mundo com toda a força que a vida poderia me dar.
Talvez seja por isso que desistir nunca esteve presente no meu vocabulário.
Deus me fez assim, filho de Amor e Luta.
Aprendi a travar as minhas batalhas, antes no grito, agora no silêncio, mas aprendi.
Das vitórias me tornei alguém melhor, das derrotas alguém muito melhor.
Nunca aceitei imposições sobre o que é ser correto, sempre mantive a minha ética sobre a moral.
O que não me mata me fortalece, e enquanto não me faltar Vitalidade advinda de Ti, tudo irá me fortalecer.
Obrigado, Deus.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Liberdade Condicional

Condicional
Acordo para o mundo às 6...
Sempre às 6, sem falta.
Abro os olhos ainda retesados pela luz que a fresta da janela causa.
- É cedo, já.
Coloco-me em pé, como quem está em fila, espero minha vez no elevador.
Ganho a liberdade das ruas, olho ao redor.
No mundo consigo observar as mulheres. Quanta beleza, algumas ainda trazendo aquela meninice que só um homem sabe o quanto é capaz de encantar, outras com olhares firmes como quem escraviza por não depender de ti.
Aproveito cada segundo, analiso a todas. Essa seria boa mãe, a outra boa amante, essa é confiável, aquela interessante...
E a cada uma abre-se uma possibilidade que se desdobra em outras mil de felicidade.
 - De nada adianta. O dia acaba.
Quando me ponho no caminho de volta, com o Sol caindo por de trás do meu caminho, é aí que lembro.
 - Estou em condicional.
Vivo preso desde o dia em que te conheci.
Prisão de porta aberta, sem jogar a chave fora.
Saio em condicional todo dia, mas é a Ela que elevo meu pensamento na volta. Não importam mulheres, importa-me Ela.
Então sou trazido para dentro de casa aos tapas pelo Amor, relutando aceitar minha condição de condicional.
- E se Ela me Amar?
Durmo e acordo repetidamente, assim segue.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Descanso

"Quando a gente é pobre, é pobre. Mas doutor, hoje eu queria ser rico para poder pagar todos vocês pela maneira como vocês me trataram aqui. Só Deus pode pagar. Deus te acompanhe, bom descanso."

E quem ousa dizer que não vale muito a pena?

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Luto(a)

Chega um dia em que tudo te confronta...
Todo pensamento, palavra e sentimento negligenciado volta e te obriga a resolver as coisas. Nem que seja sozinho, no escuro, no meio da noite.
E aí aquilo que foi fuga por tanto tempo se transforma em Luto ou uma nova Luta?
Eu realmente acredito em segundas chances, a vida já me provou que trazer de volta muitas vezes é necessário. E essa Luta é composta de passos duplos, dá-se o primeiro passo esperando o segundo como gentileza por parte do outro.
Mas depois de tanto tempo você se prepara para tudo. Para Luta ou Luto...



domingo, 27 de maio de 2012

Sempre, para sempre...

Para Sempre...
Confesso que já fui incrédulo. Blasfemei contra a eternidade diversas vezes. Desacreditava de Amores Eternos... Comédias românticas água com açúcar me faziam ter náuseas e torcer o nariz. Pobre eu, enganado pela materialidade do mundo. Pobre mundo, enganado pela própria materialidade.
Ai eu Amei...
Amei mesmo, com direito a paixão avassaladora, término traumático, fundo do poço e superação.
O que eu não podia esperar é que se supera o fim do relacionamento, e não o Amor...
Amor transborda, exala. Escorre pelo brilho dos olhos, escorrega pelas palavras mesmo quando ditas nas horas de maior desamor, e chega ao seu destino. Não o outro, mas o seu próprio peito.
Amor não morre, se anestesia. Você o embala em um sono, e o mantém lá, preso a algum gancho onde nem mesmo no seu maior momento de lucidez é possível identificá-lo.
Eu já mudei muito de opinião sobre as coisas na vida, mas um Amor sempre será um Amor.
Com o tempo a gente constrói castelos sólidos e resistentes. Mas bem no fundo, onde nem mesmo nós conseguimos habitar, continua vivo algo que visto de longe parece Inominado. Entretanto ao saltar aos olhos você sabe, é Amor.
Eterno e Amor são sinônimos.
Ao desacreditar de um jamais conseguirá alcançar o outro...
Por isso, eu vou amá-la sempre, para sempre...

sábado, 21 de abril de 2012

Férias

Abandonou o tratamento?
Faz tempo que eu pensava sobre isso, faltava-me a coragem para admitir o quão perto estou perto do limite, do corpo, da exaustão da alma, do fim. Eu sei que é difícil de entender, doutor.
Eu decidi que não quero viver meus últimos dias como quem luta incessantemente uma guerra destinada ao fracasso. Não quero terminar de viver na labuta contra um inimigo dentro de mim mesmo. Minha vida é escrita sobre batalhas, e talvez foram essas batalhas que me levaram a esse momento de agora. Sei lá, mas cansei.
Apesar de ter desistido, é claro que eu não quero morrer. Eu só preciso de férias...
Quando eu era criança gostava tanto das férias. Era tão divertido passar aquele tempo todo aproveitando qualquer oportunidade que me fosse dada. Viagens, comidas, dormir tarde, namorar, brincar...
Me dei férias então.
Sabe, o único sentimento ruim das férias aparece quando se pensa que elas estão para acabar. Dá uma sensação de desespero por voltar aquilo que não se quer. No meu caso, as férias não acabam em volta, mas sim na ida.
Mesmo assim, estou feliz. De férias...
Entende agora?
Nós sabemos a vontade de Deus já, né? Então que seja feita a vontade dele...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Prólogo

- Olha a música que você tá escutando...
- Que foi? É só uma música...
- Só uma música UMA OVA! Desliga essa merda, não to conseguindo me concentrar.
- Pronto, acabou.
- É bom mesmo, to de saco cheio de você atrapalhar meus planos com essas idiotices baratas e sentimentais. Não aprende mesmo, né?
- Para meu, já to quieto
- Eu não acredito, to te vendo... Todo melindroso, escondendo sorriso de canto de boca, olhar margeando o infinito, e essa respiração de quem tem falta de ar. Fica ai besta, só esperando o próximo trator te atropelar... Quer sentir dor, então vamos pular de um penhasco logo! Você entra nessas viagens muito loucas, constrói mundos, e depois eu que sobro pra tentar resolver as coisas.
- Cara, relaxa, quanta grosseria!
- Ihhh, falou relaxa eu já sei que tá na merda! Você precisa de motivos pra não sentir nada de novo? Quer que eu liste? A mulher te atropelou com as duas rodas uma vez seu panaca. Vai deitar na pista de novo? Babaca...
- Ahhhh, eu sei. Para de nóia, não to sentindo nada não.
- É a música, é sempre a música. Você botas essas porcarias, e quando eu começo a entender o sentido delas, eu já sei que a coisa desandou!
- Relaxa, sério.
- É o segundo relaxa que você me fala, agora não tem mais jeito. Desisto, vai fundo. Deita e rola, bonitão!
- Quer ouvir? Mesmo? Cara, eu ainda curto ela sim. Mas fica tranquilo, to na paz
- Já admitiu? Quer que eu fique como? To na nóia agora, já conheço os próximos capítulos
- Conhece não meu véio, to mais forte que nunca. Sabe o que ela quebrou? A única coisa que ela não podia quebrar...
- Ahhh, ela te quebrou? Seu coraçãozinho de merda...
- Não e sim. Ela já me quebrou, mas não é isso que impede de voltar a amá-la.
- O que é então?
- Ela não existe mais. A minha menina se foi. Me quebrar foi apenas a consequência de quem ela se tornou, alguém que não me desperta vontade de estender um tapete vermelho e um ramalhete de flores. Sem isso, como você mesmo sabe, eu não sou nada. Sou romântico incurável, daquele que adoece e te adoece por extensão.
- Que bom, que bom... Mas e se ela te prova que ainda está lá?
- Ué, tá mudando de lado?
- Cala boca, deixa pra lá
- Já to quieto, to na paz. Para de pensar sobre isso, olha o livro ai, mané!
- Ok, ok....