sábado, 25 de setembro de 2010

As coisas quebradas

Desde pequeno sempre fui aficcionado por coisas quebradas. Não sei porque, mas elas me incomodavam a tal ponto que eu tinha necessidade de consertá-las, fosse por mim mesmo, ou arranjar alguém que fizesse, e de preferência me ensinasse a consertar caso quebrassem de novo. Nunca fui organizado, nunca mesmo, mas sempre detestei qualquer coisa quebrada no meio da bagunça. É um pouco de loucura, admito que sim, mas convivo bem com isso quando é relacionado a coisas.
Cresci, resolvi ser médico, o que em parte pode ser relacionado devido a minha vontade de curar pessoas, tentando colocá-las de volta em funcionamento "normal". Mas acho que isso se tornou patológico no momento em que comecei a me atrair por pessoas quebradas...
Todo mundo tem eventuais rachaduras, mas parece que os meus relacionamentos são sempre baseados nas quebras em si! Seja com amigos, seja com namoradas, seja com familiares. Não os culpo, acho mesmo que eu cavo com mão os problemas nas pessoas, até fazê-los saltarem na minha frente pra que eu possa de alguma forma tentar resolvê-los. A verdade é: Eu gosto de problemas, não do problema em si, mas eu gosto da sensação da solução. Algo em mim desperta euforia ao sentir que resolvi uma coisa que parecia sem solução
E assim fui vivendo, em um trampolim de pessoas quebradas, ao consertar uma pulava pra outra, consecutivamente. De alguma forma colocava algo de meu dentro delas, era como se tirasse o cimento que unia os meus cacos e usasse para colar os pedacinhos alheios... Durante anos meu prazer foi ligado a isso. Até que um dia por impossibilidade de me mover, devido a instabilidade das minhas peças, percebi o que tinha feito a mim. Me quebrara na tentativa de consertar outras pessoas, me quebrara simplesmente por incapacidade de olhar pra mim mesmo.
Fui para a terapia, fiquei louco, frustrei-me, usei de todos os artifícios possíveis para negar, por fim aceitei que a minha vida tinha sido dedicada a olhar o outro para evitar enxergar minhas próprias rachaduras.
As coisas só são vistas a medida que podemos carregar o fardo que trarão. Aprendi a me olhar, não com olhos de criança aficcionada por consertar brinquedo, nem com olhos de médico querendo curar feridas, nem mesmo com olhos cegos que só enxergam o que esta imediatamente a frente. Aprendi a me olhar de olhos fechados...

Um comentário:

  1. Prima di tutto dobbiamo risolvere noi stessi, poi per aiutare gli altri! Mama

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