domingo, 22 de julho de 2012

Rosa Branca

Da memória, a saudade ainda me castiga vez por outra.
Sabes como é, coração que dá laço no próprio pé acaba todo enroscado em si mesmo.
Mesmo assim fostes importante. Tragédia ou comédia, ainda não defini.
Sei só que a bravura de um coração enroscado é a maior tormenta de um homem.
Não preciso de respostas de nada. Basta-me o que já sei.
E então o respeito póstumo por ti, torna-se ojeriza.
E as Rosas Brancas?
Eu sinto por elas.
Faça piada com o meu Amor, mas jamais insulte uma Rosa Branca dada a ti. Ela não tem lágrimas a chorar.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Imperativo

Não dorme mais. Acorda cedo.
Toma café. Não sai de estômago vazio.
Ganha dinheiro. Vai no mercado.
Tá errado. Faz de novo.
Tá certo. Fizeste tua obrigação somente.
Não chora. Tenha força.
Não caia. Permaneça em pé.
Levanta. Não reclama.
Aquieta. Não apavora.
Se quiser Amar, tudo bem.

A vida vai se tecendo dentro de imperativos, vamos nos esquecendo que o que faculta é o essencial.
Por isso, hoje, a maior loucura de alguém é rejeitar qualquer fagulha de Amor, seja ela de quem vier, como vier. No choro, na alegria, no abraço, no cortejo, no olhar, na palavra.
O único imperativo da vida de alguém deveria ser: Ame!
Amor é, e sempre será a salvação da humanidade, e a nossa maior ligação com o criador.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Salmo 142

Com a minha voz clamo ao Senhor;
com a minha voz ao Senhor suplico.
Derramo perante ele a minha queixa;
diante dele exponho a minha tribulação.
Quando dentro de mim esmorece o meu espírito,
então tu conheces a minha vereda;
no caminho em que eu ando ocultaram-me um laço.
Olha para a minha mão direita, e vê,
pois não há quem me conheça;
refúgio me faltou;
ninguém se interessa por mim.
A ti, ó Senhor, clamei;
eu disse: Tu és o meu refúgio,
o meu quinhão na terra dos viventes.
Atende ao meu clamor,
porque estou muito abatido;
livra-me dos meus perseguidores,
porque são mais fortes do que eu.
Tira-me da prisão,
para que eu louve o teu nome;
os justos me rodearão, pois me farás muito bem.

 
 
 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Equivalente emocional

- Você é emocionalmente burro!
- Eu não preciso ouvir isso agora.
- Você é, e ponto. Cala a boca e escuta, tem horas que eu sinto vontade de te matar por conta dessa merda toda. Burro! Burro! Um dia eu vou descontar todas as merdas que eu ouvi de você rasgando a sua cara. Eu rezo tanto pra não te odiar, mas as vezes eu acho que já te odeio só por me fazer sentir esse desespero.
- Por favor, agora não. Não era pra brigar...
- Inferno, escuta até o final. Se você desligar, eu vou ligar de novo. Eu virei tanta coisa de cabeça pra baixo, e você sempre volta no mesmo lugar. Surdo! Cego! Burro! Não era pra ser assim, não agora. Mesmo não tendo nada a ver com isso, eu to com muita raiva de você. Muita.
- Eu não fiz nada pra você.
- Realmente, emocionalmente burro! É justamente por isso que eu to com vontade de te matar. Nada!
Não fez nada!
- Se é pra ser assim, melhor voltar a falar o básico. Eu não posso com tudo isso agora, eu to falando sério.
- Você nunca pode. Apesar de querer muito poder conviver com você, eu ainda não consigo. É bom a gente voltar a se falar o necessário, melhor do que brigar por causa perdida. A única coisa que me conforta é saber que você faz a mesma coisa que eu. Burra eu!
- Tenho coisa pra fazer, deixo ele ai domingo.
- Por favor, faz isso. Obrigada
- Tchau.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Amnésia


Com o tempo tudo vai sendo esquecido.
Imagens vão sendo apagadas, fotos vão deixando de ser tiradas, tudo vai esvaecendo...
Os jardins um dia não mais florirão e as flores perderão os cheiros. Quando todos se esquecerem de ouvir, não irá haver nem mesmo silêncio.
E não mais repararão nas folhas que caem, nem nos amores que se apaixonam todos os dias.
Um dia, quando tudo se esquecer de ser... Os homens já não mais são.
Lucidez embriagada não terá vertigem, e as drogas não trarão conforto. As fugas serão ruas sem saída.
Com o tempo tudo vai sendo apagado, feito neve que desbota o chão. Vai acumulando esquecimentos, que feitos cimento, encobrem toda a memória, aliviam o peito.
É como tiro certeiro, um buraco, vácuo, sem trajetória. Importa só o vazio e o desterro.
Com o tempo vai-se deletando tudo o que não importa, e o que importa também.
Vai sendo tudo meio labirintesco, e vai-se também perdendo o medo, vomita-se sangue, mas o importante é sorrir.
Solidão que não larga de mim, que não larga de ti, que não larga de nós. Um dia da solidão se despedirão, porque nem a ela se agarrarão mais.
E a saudade... que saudade? Está tudo quieto, é um começo.
Atravesso a rua, paro no meio... Vem lá no fundo um carro veloz.



Escolhas...


Ir embora é sempre mais fácil do que permanecer.
A gente batalha,  se amarra, se escora num pau para não cair. Ai vem a tempestade e nos afoga, a vontade que dá é de nadar para longe dali.
Porque é mais fácil partir, desistir, ausentar.
Não tenho aonde ir, então fico de pé esperando alguém voltar.
E ele bate à porta, e decide: é hora de ficar. E começamos de novo, uma nova história, mas as nuvens saudosas vêm nos visitar. Rapidamente fechamos - portas, janelas, sacadas, corações, alma. Tudo selado pronto para o grande furacão.
Estamos no olho, é escura sua íris. E quem disse que sou oftalmólogo? Pronto! Novamente em crise.
A pálpebra se fecha, o telhado ainda está intacto... Mas o ar sufocado mofa a respiração.
Congestão, vamos deitar que não passa nada.
E dormimos, e esperamos. Há para onde correr.
Mas ficamos...
É mais fácil partir do que permanecer.

Fumo


Eu fumo, fumo como se lavasse a alma.
Na falta de agora, preencho o ausentar da presença com o futuro. Me contento com o nada esperando tudo. Eu fumo. E não me sobra raspa, pito até queimar as unhas, até doer a carcaça que logo mais ganha rumo. Um caixão quem sabe...
É na solidão das vozes que se escuta a palha que queima rogando prosa, que invade sufocando palavra.
Eu fumo, principalmente quando estou sozinha, porque é quando me conecto com o mundo, o grande arquiteto que me olha.
E o palheiro vai se despedindo, como outro amigo que vai indo depois de uma conversa demorada.
As cinzas são as lágrimas que saem da mão, diretamente batidas dos dedos, e a fumaça...
A fumaça é a compreensão, é a luta, é o medo, é a essência empurrada para fora para que se esvaia, já que não sobra nada além de um corpo torpe e muitas lástimas.
Eu fumo.
Fumo como se fumar significasse algo...
...mas não passa de alguém que se mata.

Tem dias...


Tem dias em que és tamanha secura que brotam rugas em mim, feito terra árida a criar sulcos, me carcome a face essa tua ausência. E és tão bruto que meus torrões se tornam diamantes lapidados pela aspereza da falta de tua presença, me és assim, feito grão de areia a entrar no olho.
Tem dias em que és tão presente que é como se fosse me deixar ao relento, barrento e argiloso meu plano ganha forma e meu corpo ganha fermento, aumentando as bordas desses meus pensamentos anuveados que vagam com o vento.
Tem dias, porém, em que não és nada, és como nuvem que não deságua, és lavadeira de escadaria, água de torneira ou de pia, matando a sede de quem é visita. Tem dias em que és ribeirinho, destorce meus desalinhos e me deixa pela metade.
Senhor do tempo, por que não te abunda no delta que te circunda o fim de tua maresia? Escorre feito lágrima, porque és sedento e vistoso, cristalino e pálido feito gota a escorrer pela face, são teus traços que emergem na terra de meu corpo...
Me dominas em teus terrenos afogadiços, areias movediças de descasos... É, meu senhor, ainda que te caia chuva, estás igualmente a secar a mim ainda assim quando és tempestades.

 *Texto inspirado em outro, ainda não publicado, de um amigo Munduruku.

domingo, 1 de julho de 2012

Vitalidade

Nasci de parto normal...
Fui empurrado ao mundo com toda a força que a vida poderia me dar.
Talvez seja por isso que desistir nunca esteve presente no meu vocabulário.
Deus me fez assim, filho de Amor e Luta.
Aprendi a travar as minhas batalhas, antes no grito, agora no silêncio, mas aprendi.
Das vitórias me tornei alguém melhor, das derrotas alguém muito melhor.
Nunca aceitei imposições sobre o que é ser correto, sempre mantive a minha ética sobre a moral.
O que não me mata me fortalece, e enquanto não me faltar Vitalidade advinda de Ti, tudo irá me fortalecer.
Obrigado, Deus.