terça-feira, 28 de setembro de 2010

O sorveteiro - Lê & Du

Certa vez, numa quinta, depois de sair fedendo a cadáver da aula de necropsia, a galera resolveu ir lá na Glaciel tomar aquele sorvete ‘da hora’. Glaciel era o nome da sorveteria, Ricardo era o nome do sorveteiro, aquele lá, vou te contar, eu ficaria!
Ricardo sempre atraiu minha atenção, acho que tinha um tesão ao ver os músculos dele se contraindo nos braços e peitorais na tentativa de tirar as bolas de sorvete do pote. Eu sempre escolhia os que pareciam estar mais congelados para que o meu prazer fosse de mais uns segundinhos.
Claro que ele não era só músculo. Com o tempo passei a ir lá só jogar papo fora, assim que dava o intervalo de aula lá estava ele me esperando pra gente conversar. Ele sempre foi super atencioso, mas eu nunca soube se realmente me dava bola - aquela outra além da de sorvete...
Fiquei intrigada durante vários encontros, acho que a única bola q ele me dava era de sorvete afinal. Mas o que me fazia pensar que estava dando mole eram as piscadinhas ocasionais. Até o dia que o filho do dono da sorveteria nos viu conversando... Coitado do Ricardo...
A primeira coisa que o cara fez foi nos zoar, claro! "Ta namorando, ta namorando" aquela coisa típica de retardado! Por isso que eu detesto moleque da minha idade, ainda é tudo sem cérebro. Ricardinho manteve a compostura, não tivemos que responder nada, mas claro que o dono passou a nos vigiar mais de perto com medo do pouco trabalho do Ricardo, até que ele percebeu que eu comprava sorvete todo dia e isso me tornava uma cliente especial!
Devido à forma como eu era vista, o dono da sorveteria colocou Ricardo diariamente pra me atender sempre que fosse. Seu filho ficou revoltado, rapaz estranho aquele, vivia sempre perto de Ricardo, mas agora evitava até entrar na sorveteria.
Logo eu tinha meu sorveteiro personal! E o filho do dono nunca mais apareceu. Deve ter ido cuidar da dor de cotovelo dele. Eu só me importava mesmo era com a dor de ver aquele cara chegar tão perto de mim e ainda assim eu não poder beijar. Essa coisa toda de gostar pode se tornar e sempre se torna um problema...
E sempre que eu penso em problemas, eles aparecem. Depois de uma semana o sorveteiro apareceu com uma aliança gigante no dedo da mão direita.
Minha reação não foi outra senão perguntar logo de cara: "Casou de madrugada?" Ele me olhou espantado: "Claro que não..." E ficou lá com cara de quem não tava entendendo nada. "Encontrou a mulher ideal?" falei, "Mulher ideal é a que existe na idéia, impossível encontrá-la! Mas você está bem perto dela!". “Bem perto quanto?” retruquei, “Sei lá, só sei que está perto.” Falou.
Os quilos de sorvete que eu ganhei por ele me renderem somente um BEM PERTO?
Mas tudo bem, eu entendia, claro que ele não ia entregar o ouro assim fácil... Comentei que o chuveiro de casa estava quebrado e que precisava de um novo. Adivinha? Ele se ofereceu pra ajudar. Bom do Ricardo era isso, ajudava em tudo, Tudo mesmo. Será que tudo? O importante é que depois fomos comprar o chuveiro.
Compramos um muito bom numa lojinha de eletrônicos e fomos para casa, chegando lá o levei ao banheiro e fui colocar algo mais confortável, um baby-doll rosinha, nada curto, mas provocativo de leve. E mesmo com aquela roupa total sexy ele montou o chuveiro, tomou um copo de água, olhou o relógio e foi embora, assim, sem nem dizer nada.
Depois disso eu nunca mais voltei na sorveteria, alguns amigos meus me disseram que ele perguntava por mim.
A verdade é que eu fui lerda porque um amigo dele veio me contar esses dias que naquela época ele gostava de mim sim e que naquele dia ele foi embora rápido porque tinha que buscar a irmã na rodoviária.
Hoje ele tem namorada...
E eu... Eu continuo solteira.

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