terça-feira, 30 de novembro de 2010

Nada sei

É engraçado como a vida é.
Sentada sozinha em um bar qualquer tento escrever ao fumar e tomar uma cervejinha.
Eis que logo vejo ser uma tarefa impossível, pois homens - ah! os homens - sempre cheios de perguntas e respostas se dirigem a mim como se eles também me interessassem.
Às vezes eu me pergunto se eu sou pessimista demais a ponto de não querer que ninguém se aproxime. Bom, conversamos.
E conversando eu fui vendo como as pessoas são engraçadas.
De alguma forma eu fiquei me questionando realmente sobre quem sou eu.
Um dos caras começou a me descrever em determinado momento e foram muito bem detalhadas e bem colocadas as palavras sobre a Letícia que estava lá.
E realmente comecei a me questionar se o que eu mostrava era a Letícia que eu conheço e que deixo à mostra mesmo sabendo que os outros irão julgar - na maior parte das vezes de forma má, a excluir - ou se era a Letícia que eu finjo ser.
A falsa intelectual, a falsa auto-suficiente, a falsa alta auto-estima, a falsa que parece saber o que quer quando no mundo nunca se encontrou mais perdida.
O que mostramos afinal?
Será o tempo todo uma máscara?
Será que cheguei num daqueles momentos em que não consigo mais desgrudar os ladrilhos deste meu mosaico de mim?
Um pouco de cada, muito de tudo.
Creio que no fundo ninguém sabe, alguns adoram mentir dizendo que encontraram a verdade, a sabedoria profunda, o mistério que envolve o mundo... Revelado somente para eles.
Porque sempre têm aqueles que pensam já terem alcançado algum grau de glória, pensam que já se conhecem, pensam que sabem exatamente sobre tudo a respeito de si mesmos e, por isso, dos outros.
Pois eu sei que essas coisas todas eu jamais saberei.
Custo o que custar, terapias, estudos, vida, morte, tudo. Nada.
Eu também sei que nada sei, nem por isso ignoro o conhecimento. Pelo contrário, adoraria aprender algo.
E ai eu penso, leio, tento. Mas é tudo tão complicado.
Não somos nós afinal quem complicamos, as coisas estão tortuosas desde antes de nós nascermos. Já nascemos com os olhos distorcidos corrompidos com o comprometimento da verdade que cabe à visão de uma criança...
Tudo é verdade se cremos nisso. E nenhuma verdade é igual ou superior a outra.
Eu indago sobre quem me cobre.
Sobre quem me mostra.
Sobre quem me vive.
Sobre quem me morre.
Será mesmo eu ou o medo de ser 'mim' mesma?
Somos realmente multifacetados?
Eu fico sem chão cada vez que alguém muda de comportamento, uma hora rindo, na outra, cabisbaixo. Isso é minha perdição.
E quem sou eu para falar sobre coerência?
Um dia eu chorava e na outra hora eu dava risada. Como era bom.
Por que hoje me cobro essa constância? Essa perfeita reação de emoções que devem ter alguma razão?
Será que eu incomodei tanto os outros assim a ponto de me camuflar?
Então era tudo mentira, eu estava fingindo?
Não.
Era real.
Porque todo papel ao qual me proponho fazer ou interpretar tem sua realidade, mesmo que mais feliz ou mais amarga.
Eu só não sei o que fazer ao não me permitir mostrar a minha real cara quando muitos mostram a verdadeira face, mesmo quando tentam esconder.
Constantemente censurada.
Talvez este seja meu dever, tirar os ladrilhos que os outros me impõem de como eu devo ser, falar, andar, me comportar...
Quando dizer 'sim', quando dizer 'não', quando dizer 'oi', quando dizer 'tchau'.
É engraçada a reação dos outros quando somos por um segundo verdadeiros.
Talvez alguns prefiram que a gente finja, talvez alguns prefiram que a gente atue.
Talvez alguns ainda não saibam lidar com a espontaneidade alheia.
Ou talvez eu ainda seja imatura demais para compreender o jogo que os outros fizeram com a própria vida...
Talvez, quem sabe...
Eu nada sei.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mim...

Hoje procurei palavras sobre as quais escrever, e após uma bela noite de companhia alegre e inspiradora, ainda assim foram palavras estranhas as quais encontrei.
De repente me peguei assim, pensando naquilo que um dia fui.
Certa vez, quando eu era mais nova, eu me dava o luxo e dava aos outros a simplicidade de não julgá-los.
Hoje eu me irrito com tamanha facilidade que às vezes até eu me estranho.
Fato é que um dia, após os meus 15 anos, um moço me estuprou e muitos outros tentaram me agarrar.
Na época não culpei ninguém. Creio que certas coisas ficam mais fáceis se simplesmente as deixamos passar. Mas hoje, justo agora, me peguei pensando e ponderando se eu realmente era melhor do que sou hoje.
Um dia, quando nova, se um homem me agarrasse eu o empurrava, mas continuava a ser sua amiga, eu continuava a mesma, sem raiva, sem ressentimentos, mostrando o meu lugar e o devidíssimo lugar do mesmo!
A partir dali eles me respeitavam, ou ficavam com medo, ou simplesmente desistiam, vai saber. O caso é que eles não mais me atormentavam e eu podia passar ainda horas agradáveis ao seu lado.
Eu simplesmente vivia numa bolha onde quem quer que a tentasse furar não era mal visto, eu quase compreendia.
Então fico me perguntando se eu era ingênua. Se talvez eu tivesse que nunca mais ter falado com eles nem nada disso. Eu sei que em um caso específico sim, era caso de polícia, mas eu era fraca e ninguém (nunca) conversou comigo sobre sexo e outras coisas mais que a vida se encarrega de ensinar depois de muitos tapas, então eu permanecia imóvel, sendo estuprada, noite após noite, sem reclamar, sem falar nada.
É claro que o absurdo mesmo só foi uma noite, mas o suficiente pr'eu nunca mais querer lembrar.
Depois disso me fechei, me envolvi com quem não deveria, mas tudo o que eu queria era só um pouco de amor. E ao que me constava carência nunca havia sido pecado.
Nisto eu fui ingênua, eu sei. Talvez eu seja ainda .
E anos depois me encontro aqui, um pouco mais ranzinza e me questionando se talvez a vida que eu levava e a forma como eu via os outros era mais branda, mais leve, mais alguma coisa de melhor...
Talvez eu tivesse o dom de saber perdoar.
Talvez eu soubesse que no final não adianta ficar culpando o mundo por todas as coisas ruins que acontecem com você, afinal, temos que crescer e aprender a nos defendermos da maneira como dá.
Mas ainda assim eu sinto saudades daquele tempo em que quase nada me tirava da minha sobriedade de quem sabe o que quer, de quem não tinha medo de se perder, de quem já havia se perdido e que simplesmente não descontava no mundo as burradas que havia feito.
Sinto falta daquela menina que um dia não culpou ninguém, que tentou sentir raiva, tentou julgar, tentou maldizer, mas tudo o que lhe ocorria era que Deus tudo vê e que um dia isso teria um propósito, que eu sabia que ninguém além de mim poderia me ferir e que ninguém além de mim poderia me fazer feliz.
Sinto falta dessas coisas todas, que hoje não sei se era ingenuidade ou sabedoria.
Sinto falta...
Porque hoje tudo o que me toca me faz mais e mais ranzinza.
Sinto falta de mim mesma e de quem eu fui um dia...

sábado, 27 de novembro de 2010

Cheiro de casa...

Parar diante daqueles dois portões de ferro faz meu peito gelar toda vez. Por um momento penso em como deve estar tudo dentro daquele mundo que permanece cindido da minha realidade. Quando a primeira fresta se abre percebo a agitação, aqueles milhares de cachorros, a grama aparada, as árvores. Ao fundo vejo a casa em que passei boa parte dos meus melhores momentos, e mais ao fundo a churrasqueira...
Naquele momento sinto como se tivesse certeza de que tudo pode estar ruim, mas vai melhorar. Talvez seja isso mesmo que casa, no sentido de lar, significa pra mim. O lugar que me dá a certeza de que tudo vai ficar bem, e de fato fica.
Acendo a churrasqueira, atendo o telefone, chegam os amigos, um após o outro, abrem-se as garrafas de cerveja que aos poucos vão se empilhando em cima da pia. A carne fica pronta, assim como a saudade que esta no ponto para ser servida, e divida entre todos. Compartilhamos da falta que uns fazem na vida dos outros, assim como dividimos uma Brahma gelada.
E a noite vem, acende o céu, mostrando como é bonito estar longe do tumulto da cidade, perto de quem se quer bem. As risadas se multiplicam, a alegria pede passagem aos problemas... Relembramos os outros encontros, os tempos de loucura, os amores do passado, e celebramos a vida que cada um escolheu. Cada um com o seu caminho, mas nunca esquecendo dos amigos que fez antes das encruzilhadas...
Alguém liga o som, e apesar das diferenças de gosto musical todo mundo se entende. Um faz beicinho, outro torce o nariz, mas o álcool faz o papel de socializar, e leva todo mundo pro mesmo lugar: A piscina.
Completa-se mais um ciclo, mais um dia em que me senti feliz e abençoado.
Vão indo embora, um a um. E a cada abraço de despedida eu sinto um único cheiro, o cheiro de casa...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

É tempo...

É tempo de despedida, e a gente vai ficando assim, sem saber o que falar, sem saber o que fazer, para onde ir, como seguir em frente, mas com a certeza de que algo melhor nos aguarda.
É tempo de partida, cada um segue seu rumo em direção ao caminho que escolheu, ou em direção a outro totalmente diferente do pretendido inicialmente. Não importa, é hora de pegar as coisas e ir embora.
Sempre me questionei se essas horas de desembarque são realmente as certas, creio que nada seja acaso, nem tempo errado - apenas tempos que deixam de ser aproveitados, muitas vezes.
E ai colocamos na balança tudo o que foi feito - as brigas, os amores, os amigos, as conversas, as lembranças que ficam de algo que começou de um jeito totalmente diferente do que agora é quando terminado.
Seguir em frente, continuar as passadas largas rumo aos objetivos que traçamos para a nossa vida, isto é realmente difícil. Alguns com portas já escancaradas, outro tendo que entrar aos murros... A justiça é falha, mas o aprendizado nunca é tardio se visto com os olhos de quem quer aprender.
E crescemos, crescemos por imposição, por passar do tempo, por cobranças, por ensinamentos, por pessoas... Aumentamos, nos esticamos, engordamos em conhecimento e alargamos as medidas inexatas de uma vida feliz.
Inexatidão, palavra que supera a mágoa. Supera porque sempre ficamos com aquela sensação de que poderia ter sido, quem sabe, diferente, melhor ou pior, mais proveitoso, mais sábio nas horas de imaturidade, e pela dúvida de se o futuro realmente reserva algo de bom para cada um de nós.
Não acredito em destino, por isso comemoro cada dia como se fosse o último.
Meus dias ranzinzas são aqueles que deixo passar com facilidade, e muitas vezes quando outros me vêem triste é porque eu amo tanto o presente, a vida, esta divina dádiva, que me prendo aos detalhes, na observação das horas latentes que guardam tanta coisa que poucos realmente conseguem ver.
Às vezes meu desejo é só morrer, entrar em coma para sentir menos, amar menos, crer menos, e quem sabe com isso aprender mais... Conseguir assimilar tudo.
Meu olho é como máquina fotográfica, recordo-me de minúcias que muitos se surpreendem ao me ver contar - lembro-me de dias, lembro-me das pessoas, lembro-me dos momentos mesmo sabendo que muitos nem mesmo lembram-se mais de mim, ou sabendo que um dia deixarão de lembrar.
Mas nada exclui meu presente.
Eu me sinto extremamente viva, e esta é minha maior dor: ver o segundo passar.
Aprendi a ver na vida as oportunidades que me são dadas e aquelas que são negadas com a mesma clareza como se vê sol mesmo em noite de lua clara - está lá, iluminando através de outros seres.
São poucas as pessoas que realmente poderemos chamar de 'amigos' pela vida - e sou grata por aqueles que assim denomino, bem como sou grata por aqueles que assim me denominam.
A gente cresce. Vira gente grande. Um dia menino, no outro homem. Nos tornamos mais seres humanos - no real sentido da palavra. Alguns se desviam, mas isso é inevitável, sempre haverá as exceções ao que deveria ser a regra.
Conquistamos nossa própria liberdade. E com o tempo vemos que a maior libertação de todas é aquela que permitimos a nós mesmos.
Eu adoro gritar, falar alto, brincar, me soltar - feito criança. Rir de mim mesma se transformou em terapia.
Mas como é difícil rir quando todos os outros riem junto!
Até que um dia, assim do nada, numa viagem ou numa manhã dentro da sala, a gente se solta, se desprende, se desdobra, se redescobre, se dá novas oportunidades, novas asas, novas lágrimas, novas vozes...
E também sem mais nem menos passamos a ver os outros com outros olhos, com outro peso, sem erguer a mão, estendendo as palmas, mirando nos olhos, chorando junto, brindando no pátio, se despedindo sem ter tido a paciência e maturidade de ter sabido dar um simples 'oi'.
Eu me arrependo, do que fiz e do que não fiz.
Deixar de lado suas próprias chagas é uma das tarefas mais árduas que se tem que aprender. O egoísmo, o egocentrismo, a própria insuficiência ao se achar melhor ou pior do que os outros, porque às vezes a muralha que há ao redor de alguém é apenas reflexo da deficiência de amor próprio e das dificuldades enfrentadas.
Como somos cegos, mesquinhos e idiotas.
Hoje eu me arrependo de ter sido tudo isso muitas vezes na vida.
Talvez ainda seja um pouco, mas com muito menos peso do que antes.
Melhorar-se, dedicar-se, superar a si mesmo - as dificuldades aproximam as pessoas.
E em meio a tanto contratempo, a tantas amizades, a tanta experiência encontramos aquela pessoa que mais deveríamos ter cativado desde o início - o Eu.
É tempo de despedida, e eu vou indo com uma sensação de quem ainda tinha algo para falar, para ensinar, para aprender... E espero um dia realmente poder fazer tudo o que eu gostaria sem esperar o tempo passar e o trem parar onde tenho que descer...
É tempo de arrumar as malas, lavar os pratos, guardar as virtudes, jogar fora os defeitos e aumentar as qualidades. É hora de aprender a ser si mesmo sozinho pelo mundo. Alguns já sem pais, outros ainda dentro de casa. Não importa, é hora de se despedir do velho Eu.
Depois de um crescimento não há volta, não tem como escapar das responsabilidades que a sabedoria acarreta, mas é muito bom saber que os tempos mudaram e que eu sou outra, porque no fundo no fundo eu deveria ter sempre sido eu mesma, sem medo, sem ressentimento, sem olhares duros, sem medir os gritos de 'uhul' em sala de aula.
Para sempre ecoarão as canções mal cantadas, os sorrisos e risos das piadas bobas ou bem contadas, a ajuda vinda quando mais era preciso.
Porque no final não eram as notas o que mais importava, mas o quanto nos tornamos mais próximos de sermos nós mesmos pelo caminho tortuoso que traçamos juntos rumo à direção de nossa própria estrada.
Cada um com sua bagagem, cada um com sua história, cada um consigo mesmo levando os outros na memória e abrindo espaço para coisas novas sabendo que há tempos de encontros e de partidas, de inícios e de chegadas, de derrotas e de vitórias até que a morte nos leve e nos encontremos em outras vidas...
É tempo de despedidas... É hora de ir embora...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Intensidade

Dizem que procuramos pessoas com a mesma energia que a nossa, aquela coisa toda sobre o campo vibracional e o sentir-se próximo de quem é parecido com a gente. Bom, creio que de fato seja verdade.
Se olharmos para as pessoas que tivemos pela vida, que andaram ao nosso lado ontem, hoje ou as que sabemos que estarão lá amanhã, veremos que elas são reflexos do que éramos, somos ou procuramos ser na vida.
Como espelhos.
Eu mesma criei um termo - eu e meus neologismos - chamado "almístico": coisas que vêm da alma. Assim eu posso dizer que as pessoas são 'espelhos almísticos', elas refletem aquilo que temos dentro e que sabemos quando acordados ou que está adormecido e queremos que acorde - mesmo quando esse desejo é inconsciente.
Procuramos aqueles que nos serão de ajuda para mais ou para menos.
Então, se observarmos, há sempre aqueles fatores de qualidade ou de defeitos que queremos melhorar.
Tem gente que culpa o destino por só se envolver com gente cafajeste, o fato é que procuramos essas pessoas não porque somos cafajestes nem queremos ser com alguém, mas porque isso irá acrescentar algo em algum momento, seja para se aprender a ser melhor consigo mesmo ou com os outros - e afinal, quem disse que só um segundo ou terceiro é que pode nos sacanear? A gente também se sabota!
Mas deixando de lado a sabotagem, o fato é que nos identificamos com aquilo que desejamos e necessitamos em nosso interior.
Aquela velha sobre "me diga com quem andas e te direi quem és" nem sempre é verdade, porque julgamos os outros precipitadamente.
O fato é que creio que temos as melhores ferramentas dentro de nós mesmos. Ninguém nos ajuda melhor do que o próprio "acordar para dentro". Os outros - amigos, parentes, amores - são também de grande responsabilidade sobre o que acontece em nossa vida, mas só se deixarmos que eles nos influenciem, ataquem, agridam, elogiem, acariciem e assim por diante.
Então quando alguém se sentir esgotado e sem forças, saiba que a maior arma contra isto está dentro de si mesmo.
É engraçado quando alguém me procura atrás de um sorriso, de palavras, textos, ou como disse um amigo meu: intensidade... Penso ser engraçado porque é justamente isso o que os outros são para mim - minha inspiração, a continuação da minha luz, a alegria que cativei e que foi cativada por eles também.
Procuramos os outros para nos lembrarmos do melhor de nós mesmos, e é uma pena às vezes - muitas vezes - nos esquecermos da nossa capacidade de realizar, de ser maior, de superar.
Então vem alguém e nos dá a mão e este gesto é um alívio.
Algumas nem mesmo sabem que estão ajudando, algumas buscam ajudar a vida toda.
O campo vibracional do outro altera o da gente e, sabendo disso - de uma forma ou de outra -, procuramos ficar perto daqueles que têm a energia que ansiamos no momento, no dia ou no fim de noite.
Disso eu sei e é verdade, boa energia não depende de distância, de grau de parentesco nem de falta de adversidade, ela simplesmente é trocada, é buscada, é querida por aqueles que sabem encontrá-la em algum lugar.
E o maravilhoso da vida é isto, ver que mesmo tanto tempo fora, tanto tempo longe, tanto tempo em silêncio, ainda assim, as pessoas podem te sentir e saber que sempre que precisar podem contar com teus pensamentos, sentimentos, palavras - porque tudo isso está conectado ao vibracional.
Eu tenho amigos e eu os sinto de longe, de outra cidade, de outros países...
E cada vez mais eu sei que eles também podem me sentir.
É como viajar sem tempo, sem estrada, sem retornos - é um doar-se em direção do que se acredita, é acreditar em si e com isso ajudar os outros a acreditar neles mesmos.
Mesmo quando cair, mesmo quando falhar, mesmo quando for difícil como nunca antes saberei que em algum lugar escondido no recanto de minha alma está a força que preciso para seguir em frente, pois eu tenho espelhos almísticos, e esses, ah! esses são pequenos pedaços de minh'alma que longe de mim me representam na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, os verdadeiros casamentos das forças ocultas que tenho e devo sempre me lembrar de carregar - até que a morte me leve embora... Mas sem que eu me separe de mim mesma.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pratos Limpos!

Se tem algo na vida que eu detesto é gente fingida, gente que joga, que mente, que disfarça, que omite, que engana, que faz tudo para sujar os pratos e escondê-los por sob a louça aparentemente limpa que ainda sobra de qualquer relação.
Esse tipo de gente é o que mais tem; como reconhecer? É aquela que liga não pra ouvir tua voz, mas pra saber quem está com você, que transa só para fazer apaixonar sem querer amor, que diz ser amigo só para descobrir seus segredos mais íntimos e contar para todos ou usar todos contra você quando mais se está vulnerável... é aquele tipo de gente que nunca conversa sobre si, e se fala diz pouco, insinua, aparece só para marcar território, só para dizer que está ali sem estar presente, que só faz sem nem fazer questão.
Sinceramente já conheci muita gente assim, e por incrível que pareça cada vez mais me vejo longe desse tipinho raso de personalidade fraca, fútil e mesquinha.
Claro que sempre sobra um ou outro pelo caminho, aqueles que a gente custa muito para ver, mas um dia vê, ah! se vê!
É como uma daquelas manhãs ensolaradas em que você se dá conta de que o mundo é melhor sem a presença daquela pessoa, ou que ela nem faz falta.
Pessoas que não fazem falta, essas simplesmente são assim.
Fazem de tudo para conseguir sugar algo do outro, às vezes até sem razão para tal.
Eu conheço uma pessoa que, por exemplo, ficou um ano com um cara que só a enrolou. Enrolou, sumia, desaparecia sem dar a menor satisfação.
Ok, sem cobranças, mas sumir por 1, 2, 3 meses já é demais!
Não se interessar, não se importar.
E ainda há quem diga que esses sumiços são justamente os indícios de que é o melhor para os dois, que só assim é possível continuar.
Oras, como crescer regando uma flor somente 4 vezes ao ano?
As folhas tornam-se espinhos e o coração fica assim, como diz na canção un "corazón espinado" com os resquícios do que esperaria de um amor.
E não digo amor desses para uma vida toda, mas de amar o outro pela pessoa que se é, pelo respeito, carinho, aproximação que se tem. O amor do ser humano, aquele que se troca por pura paz de espírito.
O caso é que infelizmente tem muita gente que acoberta a sujeira com sorrisos, ligações de última hora, flores, chocolates, abraços falsos - daqueles fraquinhos com tapinha nas costas...
A melhor coisa da vida são as palavras e os olhares.
Isso porque a conseqüência para aqueles que sabem usá-los é ter os pratos limpos!
Uma cozinha bem arrumada é reflexo de um relacionamento inteiro.
Claro que a opção é de cada um, mas eu realmente admiro aqueles que sabem a hora de sentar e conversar, falar, ouvir e raciocinar junto da gente tudo o que se passa. Essas pessoas que são realmente amigas, que te abraçam enquanto você chora, que te ligam quando você menos espera - mas sempre ligam, que aparecem só para saber como você está só porque sentiu saudades naquele dia...
Essas pessoas que a gente sente na voz a sinceridade, vê nos olhos o brilho da sua presença para elas e capta no sorriso o reflexo da sua alegria por também encontrá-las, seja para dar uma volta de carro, seja para sentar num café e conversar, seja para beijar e matar as saudades, seja para chorar e fazer as pazes...
Esses seres são aqueles que hoje eu cativo e cultivo, porque não quero mais pratos sujos...
Em casa sou eu quem lavo a louça de domingo, mas uma coisa eu sei, sempre que precisar eu irei lavar, mesmo a contra-gosto, porque não há satisfação maior do que deixar claro aquilo que poderia ficar subentendido e com isso conseguir fazer escolhas, entender, saber para onde se vai, de onde se veio... E uma vez ou outra quebrar alguns copos...
Mas sempre ir embora com a sensação de dever cumprido, de relação reafirmada, ou de coração quebrado, mas sabendo a razão, os motivos e as expectativas daquela situação, e sempre tendo muito sabão em mãos para conseguir sempre - Sempre – diluir a gordura e seguir em frente - sozinho ou acompanhado!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Conselho...

Ontem um brother meu veio falar comigo...
Nada fora do comum, problemas amorosos. Vamos aos fatos sem dar nome aos bois... Esse meu amigo namorou uma menina durante 2 anos, ele sempre falou pra todo mundo que curtia ela, que queria casar com ela, e tudo mais. Tudo ia bem, mas não deu certo por motivos que não convém aqui explicar.
- Cara, eu penso em voltar com ela...
- Mas véio, já tá fazendo um tempo que vocês terminaram, né?
- Ah, pra mais de mês...
- E você pensa em voltar com ela, por quê?
- Ah, foda...
- Ela tem alguma qualidade que você admira?
- Ela tinha várias, mas agora não enxergo mais nenhuma não
- Vai lá, tenta pensar! Além dos três orifícios, ela tem algo a mais que te chama atenção, que te faz crer que ela é uma mulher melhor que as demais?
- Não...
- KKKKKKK... Então meu brother, por experiência própria é melhor nem tentar. Quando você consegue resumir uma mulher a três buracos, ela não é pra você...
- Cara, você tem razão. Não vejo mais nada nela que seja qualidade essencial, não aprendo com ela, não me melhorava em nada estar ao lado dela, só me sugava...
Terminada a sessão terapia grátis voltei pra casa pensando, eu mesmo já estive na situação desse amigo por diversas vezes, e é mais fácil enxergar tudo quando estamos vendo aquilo de fora. De qualquer maneira, por mais que sejamos incapazes de ver o macro da situação, fazemos a transição de desapego do outro, embora de forma mais demorada. Por isso é importante conseguir enxergar o que aquela pessoa te acrescentava para que fizesse por merecer estar na sua vida.
Meu conselho de verdade pra quem teve um fim é: O que essa pessoa tem de qualidade que te interessa?
As vezes o conselho vem só pra ratificar aquilo que tá pregado na nossa cara, e que muitas vezes temos dificuldade de assumir por medo! Medo de um monte de coisa, de desapegar, de ficar só, de estarmos sob nossa única e exclusiva responsabilidade, e até mesmo de não saber pra que rumo levar a vida...  Medo de coisas que são essenciais para que possamos permanecer levantados pelas nossas próprias pernas, ou seja devem ser resolvidos a todo custo, pois a vida exige, e será cruel na hora de cobrar!
Nem tudo pode ser resolvido na hora, mas as vezes na hora tudo parece ser resolvido por conselho...

Apaixonar, gostar, amar...

E afinal, quais são as regras do amor, do gostar, do se apaixonar, do “dar certo”?
É estranho como todos sempre têm suas teorias sobre como fazer um relacionamento funcionar – as mulheres sempre fazendo coleção sobre como deixar os homens aos seus pés e vice-e-versa.
O fato é que não importa, ninguém sabe colocar em prática aquilo que prega, e a verdade é que nem sempre dá certo pelo simples fato de que nos assuntos do coração não há um caminho certo ou errado para se seguir.
O que acontece é que as pessoas têm problemas, e acabam levando esses problemas para o outro, sendo que deveriam Se trabalhar – psicologicamente – antes de falarem que não deu certo porque ‘isso’ ou porque ‘aquilo’. Simplesmente não durou porque as cabeças não batiam, as idéias não se encontravam, as teorias se divergiam e os dois andavam não ao lado, mas distantes um do outro.
O medo, o temor, a insegurança, a falta de si mesmo, tudo dentro de si, ou dentro do outro.
Vacilamos ao ouvir e tentar nos limitarmos a teorias cujas práticas não estão à venda no mercado. Porque se alguém tivesse o segredo do amor, venderia, podem ter certeza, afinal, daria muito lucro.
Eu sempre escuto aqueles conselhos básicos e arcaicos: não pode falar muito, não pode ligar, não pode procurar, não pode falar que gosta, não pode demonstrar insegurança, não pode demonstrar os sentimentos de medo, não pode falar sobre o passado, não pode transar nos primeiros encontros, não pode quase nada, como se tivéssemos que esperar o outro fazer tudo para depois nos doarmos.
O amor não é isso, amor é via de mão dupla, para recebermos devemos trocar – e eu digo troca porque amor não se dá, já que não é posse, não é meu ou dele, mas sim em direção a mim ou ao outro.
Não quero discutir se existe ou não amor, respeito os que acreditam que isso seja utopia, mas eu creio que há e por isso penso a respeito e redijo tais pensamentos. Crer ou não não é a questão.
Outra coisa que sempre falam é o “não pode ir rápido demais”. E eu sempre fico me perguntando o que seria esse rápido demais, se é uma forma de os outros procurarem nos proteger ou proteger a si mesmos ao evitarem ter uma desilusão com algo passageiro.
De fato devemos ter cautela, mas também temos que pular – pular de olhos e asas abertas. O problema é que as pessoas simplesmente se esqueceram do que é voar.
Creio que não exista rápido demais, porque quem está andando ao lado da gente é que deve acompanhar o nosso passo, assim como nós acompanhá-lo (o passo do outro). E as pessoas sempre ficam olhando e achando que estamos correndo ou indo devagar demais.
No final das contas não importa se estamos muito à frente ou muito atrás, desde estejamos acompanhados de quem realmente nos ajuda a continuar em nosso caminho.
Disto eu sei, e não tenho mais medo.
Então da próxima vez em que alguém disser que as coisas estão em uma velocidade assim ou assado, não dê ouvidos. Cada um sabe de si, e cada um sabe o que é melhor para si.
É bom que se preocupem com a gente, mas no amor – gostar – se apaixonar - não há regras, infelizmente o que há muito são pessoas frustradas tentando se realizar e encontrar pelo meio da vida alguém que dê certo, custe o que custar...
E esses conselhos, teorias, palpites podem custar muito caro, muito caro mesmo quando se deixa de pular e dar a cara a tapa para o mundo quando mais vale a pena, quando mais devemos nos entregar, quando deveríamos ouvir nós mesmos e ao invés disso tudo nos travamos porque acreditamos que há, em algum momento, uma regra para se saber amar melhor, sendo que não há...
Basta ser você mesmo.
E isto, ao outro, também deve bastar.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Triste, muito triste...

Primeiramente queria pedir desculpas por postar algo que não tem tanto a temática do blog, mas acho que devemos ter ao menos noção do que é o sistema de saúde do nosso país, e da atitude desrespeitosa de alguns profissionais para com a vida humana.
Abaixo está a carta de um médico intervencionista que foi responsável pelo transporte de uma menina de 8 anos, e encontrou uma série de problemas pelo caminho, sendo um desses os seus próprios colegas de profissão.
É triste, muito triste que as coisas ainda sejam dessa forma...

Nota: "ambuzar" é um termo utilizado pelos médicos para designar a ventilação manual feita com o ambú, uma espécia de balão de borracha que se aperta para que ocorra a insuflação dos pulmões do paciente.


Salvador, 24 de agosto de 2010,

Inicialmente quero dizer que não acredito, acreditem, que este texto possa mudar qualquer das barbaridades que vivenciei nessa madrugada. Acreditem, não acredito que encontrarei eco em algum lugar. Preciso, entretanto, falar.
Por volta de 22h30min da última segunda-feira, 23 de agosto de 2010, fui contactado pela Central Estadual de Regulação (CER) para realização do transporte da menor, Ana Larissa Menezes Baptista. Ao me dirigir à mesa do chefe do plantão para pegar a ficha de atendimento para o transporte inter-hospitalar fui informado que deveria transportar a paciente supracitada do Hospital São Jorge (HSJ) para o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) para a realização de tomografia computadorizada (TC) de crânio.
A história que ouvi era a de uma paciente em estado grave, no pronto atendimento (PA) do HSJ, em ventilação mecânica (VM), usando adrenalina e dobutamina, após ter sido reanimada ao dar entrada naquela unidade por volta das 18h. Como de costume, solicitei ao chefe de plantão – Dr. Jisomar - e à médica que fora responsável pela regulação, cujo nome me foge nesse momento, que mantivessem contato com o chefe de plantão da emergência do HGRS naquele dia – Dr. Raimundo – ratificando o quadro clínico da paciente e solicitando ao mesmo que verificasse as condições da sala da TC a fim de que a transferência fosse feita no menor tempo possível e Ana Larissa não fosse exposta a qualquer entrave que prejudicasse ainda mais o seu quadro que, naquele momento, já era grave.

Informei ainda ao Dr. Jisomar que não realizaria o exame caso o HGRS não possuísse um ventilador disponível na sala de bioimagem ao qual a paciente pudesse ser conectada. Informei ao mesmo que muitos coordenadores do HGRS tinham o hábito de autorizar a regulação de pacientes em VM para a realização de TC sem ao menos confirmarem a existência de ventilador na bioimagem. Informei ainda que por diversas vezes "ambuzei" pacientes que precisavam realizar TC em respeito aos mesmos, bem como aos seus familiares. Disse-lhe ainda que por diversas vezes, sensibilizado com o quadro, e com a necessidade dos pacientes, aceitei fazê-lo, mas que não estava disposto a novamente solucionar um problema que deveria ser resolvido antes da regulação. Dr. Jisomar informou-me que Dr. Raimundo sabia do quadro da paciente, mas que tentaria manter novo contato e que ratificaria o meu pedido.

Em virtude da gravidade do quadro de Ana Larissa resolvi sair da base da CER para realizar o transporte o quanto antes. Ao chegar ao HSJ fui recebido por Dra. Danielle Souza, CREMEB 20.733, pediatra de plantão, que relatou a história de Ana Larissa. Segundo ela, a paciente há cerca de uma semana havia sido atendida numa emergência após episódio de vômito, febre e cefaléia. Naquela oportunidade, a paciente foi submetida à punção liquórica que descartou meningite. Após remissão do quadro na emergência, a menina recebeu alta e evoluiu em casa por quase cinco dias assintomática. Naquela manhã, 23 de agosto, entretanto, Ana Larissa demorou a acordar, fato que chamou a atenção dos seus familiares.

No meio da tarde a menina apresentou crise convulsiva e rebaixamento do sensório sendo levada ao Hospital Menandro de Farias (HMF). Após ser atendida naquele hospital, Ana Larissa foi encaminhada para o Hospital Couto Maia (HCM) em ambulância convencional, acompanhada pela mãe e por uma técnica de enfermagem. Segundo Dra Danielle, a mãe relatou que no caminho Ana Larissa apresentou piora do estado geral, com cianose central e ausência de "reflexos". O motorista da ambulância resolveu então parar no hospital mais próximo, tendo chegado ao HSJ. Ao dar entrada na unidade, a menina apresentava de fato cianose central e ausência de batimentos cardíacos.

Foi, então, reanimada com adrenalina e massagem cardíaca e submetida à intubação orotraqueal. Desde então, a paciente encontrava-se em uso de Adrenalina (0,5) 1ml/h e Dobutamina (5) 1,5 ml/h e em ventilação mecânica. Naquele momento, Ana Larissa apresentava Glasgow 3, midríase paralítica bilateral, freqüência cardíaca (FC): 165bpm, pressão arterial (PA): 104X41 (62 mmHg), oximetria de pulso indicando SpO2: 99%, em VM, com PEEP: 5/ PI: 15/ FAP: 22 e FiO2: 60%. Preparamos a paciente para o transporte e nos dirigimos ao HGRS. Todo o transporte até o HGRS transcorreu sem qualquer intercorrência. Fomos acompanhados por Dona Silvia, mãe de Ana Larissa.

Ao chegar à porta da emergência pediátrica solicitei à enfermeira que me acompanhava, Lidysi, que verificasse na sala da TC se tudo estava preparado para a realização do exame, conforme combinado, para que só assim eu pudesse descer da ambulância com Ana Larissa. Após retornar da bioimagem, Lidysi informou-me que não existia ventilador preparado e que a técnica de radiologia nem mesmo sabia que esse exame seria realizado. Resolvi, então, descer da ambulância com Ana Larissa para realizar o exame, mais uma vez em respeito à sua mãe que chorava e rogava a Deus pela melhora de sua filha e por ela - uma menina de oito anos que até a manhã daquele 23 de agosto de 2010 era apenas uma menina saudável e feliz. Entrei, então, na sala de TC e pedi a técnica de radiologia que fizesse o exame no menor tempo possível.

Informei-lhe que aquela paciente estava regulada, que Dr. Raimundo estava ciente da necessidade da realização do exame e que assim que terminássemos o mesmo eu retornaria à ambulância, conectaria Ana Larissa ao ventilador da UTI móvel da CER e solicitaria aos médicos de plantão que fizessem a solicitação da TC de crânio a fim de que o filme pudesse ser liberado. Após compreensão da técnica de radiologia, vesti uma capa protetora de chumbo e "ambuzei" por cerca de 5 minutos Ana Larissa dentro da sala da bioimagem, durante a realização da TC. Após retornar à ambulância, solicitei a Lidysi que informasse à pediatra de plantão do caso que já estava regulado e que pedisse a ela para ir até a ambulância conversar comigo, visto que eu assistia Ana Larissa e que a mesma encontrava-se em VM, necessitando, pois, de um ventilador e em uso de Adrenalina e Dobutamina em bombas de infusão, as quais não deveriam ficar muito tempo fora das tomadas para não descarregar.

Caso fosse impossível a vinda da mesma à ambulância, que ela fizesse então a solicitação da TC de crânio para que pudéssemos ter acesso ao filme impresso. A médica, Dra. Antonia Aleluia – pediatra de plantão -, resolveu então apenas solicitar a TC de crânio. Lidysi foi então ao setor de bioimagem e recebeu o filme da TC de crânio de Ana Larissa após entregar a solicitação do exame. Ao retornar à ambulância com a TC de crânio identifiquei um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH) extenso, com sinais de sangramento intraventricular. Pedi novamente à enfermeira que mantivesse contato com Dra. Antonia Aleluia e que solicitasse a ela um encaminhamento para avaliação neurocirúrgica, visto que eu havia identificado um AVCH extenso.

Dra. Antonia informou a Lidysi que não faria qualquer solicitação visto que a paciente deveria ter sido regulada com tal pedido. Ora, tínhamos uma paciente com um AVCH extenso dentro do HGRS e ela não seria avaliada por um neurocirurgião porque no seu pedido de regulação não havia essa solicitação? Para quê então precisávamos da TC de crânio, se não para direcionar, os nossos próximos passos? Precisaríamos então prever que Ana Larissa tinha indicação neurocirúrgica para só assim levá-la ao HGRS? Essas foram questões colocadas por mim para a plantonista supracitada a fim de sensibilizá-la para o que estava acontecendo ali, tudo sem qualquer efeito. Direcionei-me então por conta própria à emergência do HGRS, atrás de algum neurologista que desse o direcionamento adequado à Ana Larissa. Encontrei, então, Dra. Miriam Sepúlveda, CREMEB 3784, neurologista de plantão do HGRS. Mostrei a ela a TC de crânio e a mesma informou se tratar de um AVCH.

Disse-me que a paciente precisava de uma vaga em UTI pediátrica e de avaliação neurocirúrgica. Questionei a ela sobre a possibilidade de Ana Larissa ser admitida e ela me informou não ser a responsável por resolver essa questão. Disse-me que mantivesse contato com Dr. Raimundo ou Dra. Paula (coordenadora da emergência pediátrica, segundo ela). Mantive contato com Dr. Jisomar para colocá-lo a par do que ocorria e ele me pediu que aguardasse até que conseguisse falar com Dr. Raimundo. Paralelo ao tempo que aguardava o contato mencionado, procurei por Dr. Raimundo na sala da coordenação médica do HGRS, sem sucesso. Encontrei-o, entretanto, na sala de repouso da equipe médica. Coloquei-o a par de tudo que acontecia e da necessidade de avaliação neurocirúrgica da paciente. O mesmo informou-me que esse não era o acordado com a CER e que eu deveria procurar a plantonista da pediatria para saber se seria possível aceitar Ana Larissa naquela unidade. Lembrei a ele, porque imaginei que ele tivesse esquecido, que aquele era um hospital de referência para avaliação neurocirúrgica. Ainda assim, Dr. Raimundo me disse que fosse à emergência pediátrica resolver com quem estivesse de plantão por lá o que seria feito.

Entrei em contato com Dr. Jisomar que me orientou a de fato permanecer com Ana Larissa no HGRS. Ele me orientou a informar à plantonista que Ana Larissa ficaria no hospital, a procurar um ponto de oxigênio dentro do PA do HGRS e disse-me que se fosse preciso montasse o ventilador da UTI móvel no PA da pediatria do HGRS. Procurei então a pediatra do plantão, Dra. Antonia Aleluia, mas não a encontrei dentro do PA. Consegui apenas falar com Juliana, enfermeira que estava de plantão naquela unidade, e pedi a ela que mantivesse contato com Dra. Antonia informando-a das orientações que eu havia recebido. Juliana me informou que falaria com Dra Antonia e que ela me encontraria na entrada do PA.

Fui então à ambulância retirar Ana Larissa. Descemos com toda monitorização que fazíamos – monitor Dixtal, torpedo de oxigênio, ambu, oxímetro, cardioscópio e manguito de PA não invasiva, bem como com duas bombas de infusão para adrenalina e dobutamina. Encontramos com Dra. Antonia na porta da emergência pediátrica. A partir dali, seguiu-se um show de horrores que foi iniciado por Dra. Antonia e seguido por Dra. Heloísa, uma segunda plantonista com a qual, poucos minutos mais tarde, eu tive a infelicidade de cruzar. Dra. Antonia, se posicionando na porta de entrada da emergência, me disse de maneira ostensiva, e num tom inapropriado para a situação, que não tinha lugar para aquela paciente ali. Disse-me ainda que eu enganava os familiares de Ana Larissa e que ali eles não fariam nada por ela. Disse-me que sairia do plantão e o deixaria sob minha responsabilidade.

Eu a informei que havia sido orientado que Ana Larissa deveria permanecer no HGRS. Após se retirar da porta, fato que impedia minha passagem, entrei no HGRS. Direcionei-me à sala de reanimação, onde existiam dois ventiladores mecânicos que não estavam sendo utilizados, para então instalar Ana Larissa. Nesse momento, fui então surpreendido por Dra. Heloísa Cunha que aos gritos insultou-me. Dizia ela que eu estava acostumado a chegar naquela unidade e deixar os pacientes por lá, mesmo sem que fosse possível recebê-los.

Dizia, ainda, que eu havia sido expulso daquela unidade há alguns dias por um neurocirurgião. Eu retruquei, informando-a que aquilo não era verdade. Lembrei-lhe que na oportunidade à qual ela se referia eu trazia uma paciente, vítima de atropelamento, do Hospital Ernesto Simões Filho. Disse-lhe que a paciente em questão estava regulada para o hospital e que não era meu papel levá-la à sala de TC, muito menos ao Centro Cirúrgico, após a realização da mesma, como eles desejavam. Fiz-lhe lembrar que, ainda reconhecendo naquele dia não ser minha função dar encaminhamento dentro do HGRS à paciente, aceitei fazê-lo em respeito à paciente e aos seus familiares, e nunca em consideração a ela ou ao neurocirurgião ao qual ela se referia. Aos gritos, completamente desequilibrada, a Sra. Heloísa Cunha tentou expulsar-me da unidade. O que se ouvia nos corredores eram gritos de: "saia", "saia", "saia". Naquele momento, muitos dos acompanhantes dos pacientes que estavam naquela unidade correram para assistir o tumulto que se seguiu.

Eu disse a Sra. Heloísa Cunha que aquele comportamento não era adequado a alguém que assumia o papel de plantonista daquela unidade e que só poderia continuar a tratar com ela se a mesma fosse medicada e contida. Disse-lhe que a identificava como uma Sra. em surto psiquiátrico. Ela então se virou para a mãe de um dos pacientes que ocupava aquela sala e lhe disse que eu queria que o filho dela morresse, que eu estava ali trocando a vida do filho dela pela vida de Ana Larissa. Pediu a ela que saísse da maca para que eu colocasse Ana Larissa. Aos gritos dizia: "vou dar uma queixa sua no Cremeb, você vai pro Cremeb". Após o paciente ter saído da maca, ela, ainda em surto, batia na mesma dizendo: "venha, coloque a sua paciente aqui", "venha, eu já tirei o meu "mal epiléptico" da maca pra que você coloque a sua paciente aqui", "venha". Após todo esse escândalo, ela se retirou da sala e pediu às suas colegas que não ficassem ali até que eu deixasse aquela unidade. Os pais de Ana Larissa, Sr. Carlos e Sra. Silvia pediram a ela que tivesse piedade da filha deles e ela aos gritos os expulsou de lá.

Disse a eles que fossem chorar lá fora, que ali não era lugar para que eles ficassem chorando. Sr Carlos se dirigiu a mim então e chorando me disse: "Dr. pelo amor de Deus, não deixe minha filha com ela", "Dr. como minha filha vai ficar aqui com essa "médica"?" Eu disse a ele que jamais sairia dali até que alguém em condições psíquicas assumisse aquele caso. Liguei para Dr. Jisomar e coloquei-o a par do que estava acontecendo, o mesmo ao telefone ainda ouvia os gritos enlouquecidos da Sra. Heloísa Cunha. Solicitei então a Lidysi que trouxesse o ventilador da UTI móvel para que eu o montasse naquela unidade e não os deixasse sem ventilador, a despeito de lá existirem dois ventiladores que não estavam sendo usados. Enquanto eu montava o ventilador e Lidysi "ambuzava" Ana Larissa, a Sra. Heloisa, novamente aos gritos dizia: "nunca mais você vai voltar aqui", "eu tenho quatro plantões noturnos aqui", "não apareça mais aqui", "saia das fraldas", "saia das fraldas". Eu repeti insistentemente que ela estava em surto, e disse a ela que voltaria ao HGRS quantas vezes fosse preciso.

Disse-lhe que havia recebido uma determinação para entrar com Ana Larissa naquela unidade e que a criança precisava de uma avaliação com um neurocirurgião. Ela foi novamente arrastada para outra sala dentro do PA por suas colegas que de certo já conheciam o seu temperamento descontrolado. Nesse momento, Dr. Raimundo já se encontrava no local e negou ter autorizado a regulação de Ana Larissa para aquela unidade, colocando-se ao lado das pediatras. Informei à terceira plantonista da pediatria que apareceu, Dra. Alderiza Jucá, que anotaria o nome das três médicas plantonistas da unidade pediátrica e que faria um documento para solicitar a quem de direito a apuração destes fatos que acima citei. Nesse momento, Dr. Jisomar me ligou informando que Dr. Marcos do Hospital Geral do Estado (HGE) havia aceitado a transferência da paciente para aquele hospital. Informei então à Dra. Alderiza Jucá que Ana Larissa seria encaminhada ao HGE. A Sra. Heloisa Cunha após ouvir o comunicado entrou novamente na sala de reanimação e novamente aos gritos questionava: "posso devolver meu mal epiléptico pra maca?", "posso?", "posso?". Disse a ela que sob minha ótica ela não poderia jamais estar tratando de ninguém naquela condição de desequilíbrio, mas que não cabia a mim proibi-la, ou autorizá-la, a fazer qualquer coisa.

Ela então aos gritos me disse: "vá e não volte", "você está saindo porque está com medo", "você está com medo". Eu disse a ela que não tinha condição de continuar tentando ouvi-la e que estava realmente de saída em benefício de Ana Larissa, já que eu não teria nenhuma condição de deixá-la sob a responsabilidade de alguém que não demonstrava controle emocional como ela. Disse aos pacientes que estavam ali que lamentava que eles estivessem sendo tratados por uma Sra. em surto psiquiátrico. Deixei, então, a unidade de emergência do HGRS em direção ao HGE por volta de 03h. Cheguei ao HGE às 03h15min da madrugada de 24 de agosto de 2010 e fui recebido de maneira bastante cordial por Dra. Ilana Rodrigues, CREMEB 8213, que prontamente pediu avaliação do neurologista.

Informei a ela o quadro da paciente e que Ana Larissa apresentava midríase paralítica bilateral, FC: 148bpm, PA: 79X45 (56 mmHg), SpO2: 99%, em VM, com FiO2: 100%. O neurologista, após examinar a paciente e avaliar a TC de crânio, informou aos pais que abriria o protocolo de morte encefálica para Ana Larissa. Após a notícia todos choraram dentro do PA do HGE. Ao fim, me despedi dos pais de Ana Larissa e fui abraçado pelos dois que me agradeceram por todo empenho durante aquelas mais de quatro horas de transporte. Ao sair do HGE e entrar na ambulância da CER fui novamente abordado pelos familiares de Ana Larissa que novamente nos agradeceram o empenho na resolução daquela história.

Deixamos o HGE por volta das 03h45min e fizemos, eu e Lidysi, o caminho de volta até a CER chorando por termos presenciado, e vivido, tanto sofrimento durante àquelas horas infindáveis. Chorei como há muito não fazia. Chorei destruído com a confirmação do quão frágil é a vida humana. Chorei lamentando que uma menina de oito anos tenha partido de maneira tão repentina. Chorei invadido pelo choro daqueles pais que me abraçaram agradecidos e reconheceram, num momento de perda, o nosso trabalho. Chorei porque encontrei tanta gente, que atende tantas outras gentes, sem estar de fato compromissada com isso. Chorei porque novamente vi um ser humano ser tratado como um problema, um problema cuja paternidade ninguém quis assumir. Chorei porque encontrei a Sra. Heloísa Cunha e toda a sua falta de amor, toda a sua mágoa frente à vida, todo o seu descaso e sua insensibilidade. Chorei porque encontrei abandono, desrespeito e incompreensão. Chorei porque tudo o que já era tão doído se tornou ainda pior tamanha as barbaridades que vi e ouvi. Chorei como nunca. Chorei descrente da profissão que escolhi.
Termino esse desabafo reafirmando que não acredito em mudanças reais. Os protagonistas desse drama continuarão por lá, pelos corredores do HGRS, pelos corredores de tantos outros hospitais públicos. Eles continuarão humilhando os mais necessitados - os fragilizados pela falta de saúde e de saída -, continuarão tentando intimidar os mais esclarecidos que se opõem às suas arbitrariedades. Esse desabafo existe, entretanto, para registrar a minha indignação frente a tudo isso. Seja você que me lê um instrumento de Deus por aqui. Coloque-se no lugar daquela família que perdeu uma filha e que presenciou tanto abandono. Sinta-se tocado por aquela dor e repense suas atitudes frente à vida, frente aos vivos. Tente fazer diferente. E, sobretudo, ame quem quer que seja e tenha a sorte de ser amado como eu sou. Só assim, experimentando a libertação, a salvação que é ser amado, você possa, então, ser amor nesse mundo.

Vinícius Viana Bandeira Moraes – CRM/BA: 18.761
Médico Intervencionista da Central Estadual de Regulação

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Juntos

Os tempos eram difíceis...
Acordar parecia um pesar que despertava para a tormenta. Dormir era a fuga, fundamentada nos princípios da farmacologia de um tarja preta. Aquele era o seu fim, resumia-se cada vez mais aquilo, e aquilo agora era nada...
Ao acordar um dia ouviu a frase mais inspiradora de sua mãezinha ao telefone: Filho, você ainda vai sofrer por tanta coisa. Vai sofrer pelos teus filhos, pelos teus pais, pelos teus irmãos, e por ti mesmo. Não é o último sofrimento, mas deve  passar pra dar lugar aos novos...
Algo despertou o homem dormente pela frustração. Foi ao encontro dela. Tocou a campainha, e ouviu um grito: - Espera ai...
Sentou-se na soleira da porta, e esperou. Alguns minutos depois a porta foi aberta repentinamente.
Olhou para o seu rosto delicado que agora parecia tão machucado pelas lágrimas que rolaram, seu nariz lindo estava vermelho, e os olhos cor de amêndoa com uma pontinha de decepção.
Congelou por um momento contemplando a imagem do que causara a sua única maior bem feitora dos últimos meses. A única criatura que fora paciente, que esperou seu tempo, que o amou sem nada exigir em troca. Fora ingrato na confusão dos seus sentimentos, culpava-se por não ter dado ordem em seu coração antes. Mas em poucos segundos, o silêncio do telefone desligado e o conselho que ouviu fizeram-no achar a resposta em negação, não era capaz de admitir que aquilo acontecera novamente. Amor? Jamais...
- Oi
- Você tava chorando?
- O que você acha?
- Desculpa...
- Isso não conserta tudo, alias não conserta nada. Eu te esperei, todo esse tempo, todo dia, toda noite... E agora isso?
- Eu sei de tudo isso. Não vou pedir que me entenda, pois você já fez isso. Não vou pedir que você se esforce mais por nada, não vou usar mais do seu amor como muletas pra nossa relação, não vou abusar de sua condescendência ainda mais.
Olhou nos olhos dela, e viu lágrimas brotarem mais fartas do que nunca...
- Então é isso? Acabou? Fala, vai  fala!
- Eu amo você.
- O que?
- É isso, eu te amo. Chega de te delegar o fardo do nosso relacionamento pela minha incapacidade de admitir que sinto amor por você. Seu jeito comigo, sua dedicação, seu amor por mim, me mostraram o quanto eu tava sendo idiota ao achar que não fosse capaz de sentir de novo.
Recebeu o sorriso mais tímido que já havia visto após uma declaração de amor, tão esperada por ela, e tão impetuosa de sua parte....
Ao sentí-la pulando em seu pescoço, sentiu seu coração desacelerar e se aquietar, cheirou-lhe os cabelos, e sabia que estava envolto pelos braços certos. Era ela, era ela enfim...

Tem gente...

O mundo tá cheio de gente sádica, daquelas que não pode ver os outros bem e logo tentam de alguma forma mostrar a sua existência mal intencionada. E não, não é raiva da pessoa, não é saudade, não é nada disso. É sadismo mesmo, de gostar de ver a outra pessoa mal... Pensava assim até agora pouco.
Uma situação me fez rever os meus conceitos, e sendo sincero: É mais baixa auto-estima do que sadismo! Ou acho até que o segundo é gerado pelo primeiro... A pessoa se coloca em tão baixo patamar que precisa fazer o outro sofrer para tentar elevar-se. De qualquer forma, é tão bom quando a gente se torna imune a esse tipo...
Melhor ainda é ver que tem gente que não sai do lugar, sempre os mesmos joguinhos só mudando a vítima e o trouxa a ser enganado.... Acho que sou um pouco sádico afinal? Sou sádico plateia, e não sádico ator, não sou capaz de agir para fuder alguém. Digo isso porque adoro ver quem tem que se fuder, de fato se fudendo! Já dizia meu avô: Cada um tem a vida que merece! Essa frase representa o sadismo de melhor qualidade, aquele paciente, que espera um dia a lei do retorno...
A vida segue...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Carência

peidinho anda carente de pai...
tudo isso só porque eu tô dando uma de Lya Luft...
bá, só escrevo sobre o Del depois que vc postar algo.
E tenho dito.