sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nuvens

O tempo vai passando, e o que fica?

O que levamos embora?

O que carregamos conosco?

Mágoas, mortes, angústias, brigas, traumas, rancor, ou tudo ao contrário...

Risos, brincadeiras, risadas, besteiras faladas, olhares trocados, palavras silenciadas em horas de aperto, abraços de compreensão, beijos, “te amo’s”...

O passado, ah, o passado!

Que pretensioso ser este que nos pega e nos carrega sempre de volta a um tempo que nem lembramos mais.

Saudade... Palavra que talvez nos leve direto ao vivenciado.

Antes ter vivido. Mas e a saudade do que vai? Do que não se teve?

A mãe que faleceu, o pai doente, o irmão que bateu o carro, o amigo que se fez ausente.

Pessoas que encontramos pela vida, as almas que nos tocam e se vão antes da hora, ou talvez na hora exata.

Nunca saberemos, sempre nos culparemos ou arranjaremos meios de fuga para conseguir culpar o outro. Talvez.

Talvez nos cobremos demais – casa, filhos, família, marido, mulher, trabalho, estudos.

Qual a dose de cada coisa?

Qual a dose certa de cada pessoa?

As almas vêm e vão, como nuvens que passam nos trazendo sombra em um dia de sol.

Ou tempestade, derrubando tudo.

A verdade é que o que quer que aconteça é o que permitimos acontecer.

Esquecer ou levar embora junto na lembrança é uma opção que fazemos.

E como escolher as coisas certas?

As dores que nos farão crescer? Os amores que nos farão melhor? O caminho que nos levará ao fim escolhido? As alegrias que serão cuidadoras de nossa felicidade?

O que será realmente bom para nosso ser?

Talvez demoremos muito para perceber que certas dores devem passar e que devemos deixar que passem.

Talvez demoremos muito para notar que o outro não é de real cumplicidade.

Talvez demoremos muito para crescer sem precisar de nenhuma muleta para nos sustentar.

Talvez doa mais que o necessário.

Talvez seja a medida exata para a nossa plenitude.

A vida não é fácil. E quem disser que o é, mente.

Não precisamos carregar fardos, mas a verdade é que precisamos deles para conseguir seguir em frente.

Cada um tem a sua versão do presente. Cada um tem a sua própria consciência, inconsciência, subconsciência...

Todos nós somos só crianças.

Crianças a sós com a solidão enfiada no peito, feito lança.

O grande milagre sobre o que nos cerca é isso, ter isso tudo para enfrentar e ainda sim conseguir sair de si para se doar ao próximo.

Quando conseguem...

Alguns estão nesta vida para se fechar, outros para se abrir.

Ou os dois ao mesmo tempo, em épocas diferentes.

Ninguém é culpado, ninguém é diferente.

Difícil é saber como conseguir, como se distanciar do que é prejudicial sem tornar-se indiferente.

Saudade do que já se tem por saber que um dia irá embora.

É cruel se torturar, julgar a si com o peso de uma mão que jamais afaga.

Creio que muitas vezes temos saudades por não termos tantas coisas boas hoje para nos completar como antigamente.

Talvez eu esteja equivocada.

Só sei que sinto saudade desde já, porque amo meu momento presente. E amando sei que passará, como toda fase, como toda água deve correr somente uma única vez por sob uma ponte, jamais a mesma gota no mesmo rio...

Não derramarei duas lágrimas pelo mesmo motivo.

Todas serão sempre dores diferentes.

E meus sorrisos sempre brilharão uma alegria recém apresentada.

Meus amigos serão conhecidos novamente a cada dia.

E minha família será uma descoberta enquanto eu for capaz de me descobrir.

E que nos descubramos, porque des-cobrir é retirar toda a capa que nos faz vertermos para dentro de nós mesmo e sermos então capazes de nos mostrar, com todas as nossas rugas, falhas, amassos, julgamentos, máscaras.

Sem medo.

Sem enfrentamento.

Sem discussão.

Ainda assim, com todos os pesos, as cruzes, os amores, as dores, as felicidades, as alegrias, a momentaneidade, ainda assim, saímos de nós para descobrir o novo.

Um amigo mais velho, outro mais novo, um irmão com quem não falamos há anos, uma nova visão de alguém em um túmulo de quem só recordamos alguns poucos minutos – ou uma vida inteira juntos.

Não importa qual a situação, a verdade é que o presente sempre muda e com isso mudamos também.

Uma hora culpamos, na outra perdoamos, em uma amamos, na outra não sentimos mais nada.

Eu só queria mesmo dizer que, para mim, não importa quem eu sou para os outros – porque eu sou aquilo que necessitarem, nuvem ou tempestade, o que for melhor para a colheita -, mas me importo sim com quem eles são para mim.

Eu sou o melhor que posso ser em todos os momentos.

Eu sou o melhor de mim para mim todo o tempo.

E espero que todos também o sejam, sem tentar agradar ou mudar, porque tudo depende dos olhos de quem vê,

Devemos só procurar crescer para que, um dia, possamos também sentir falta desta época, não como alguém que morre ou que vê morrer, mas que sabe que em todos os momentos da vida teremos ventos nos carregando e que não importa onde iremos parar desde possamos sempre ora voar ora precipitar, tudo a seu tempo, sendo o melhor que podíamos ser, sem nos deixarmos cegar ou ver além da conta, uns nuvens mais acima, outros água mais enraizada no chão, não importa, desde que saibamos a hora de subir ou de descer.

Ou talvez nunca seja possível saber.

Mas se formos sempre o melhor que pudermos ser, bastará.

E bastando nada mais faltará porque seremos suficientes para nós mesmos.

Eu sentirei falta, saudade, terei lembranças, guardarei na memória.

Mas ainda assim, apesar da melancolia que às vezes abate e faz querer ficar, tenho uma forte impressão de que realmente irei embora, para o céu ou para o chão, porque temos que seguir em frente. Sempre... E isto me conforta.

Ainda bem. Ainda bem...

domingo, 24 de outubro de 2010

Pão e circo

Ok, que a vida é injusta eu já sei, mas precisa ser tão descaradamente assim?
Por que eu me mato de estudar, de aprender novas línguas, de viajar pra outros lugares, assimilar outras culturas, a aprender a dançar, lutar, cantar, parar com os vícios, melhorar o psicológico, a ouvir as pessoas, a falar o necessário, a escrever para mim e para outros, a aprender a tocar piano, violão, ler, a ter pensamento crítico e ainda assim chega um povo burro, feio e que não fez metade dessas coisas e consegue mais de dez mil reais por uma noite de baixarias e mal gosto?
Eu fico revoltada e, principalmente, ofendida!
Tudo bem que tenho algo que vai contra tudo isso o que eu já fiz: eu não sei o que quero da vida.
Mas é o seguinte, conheço gente que sabe e que luta por isso, ainda assim não saem do lugar, ficam construindo algo maravilhoso para raramente serem reconhecidas.
Fui a um baile, super bacana o pessoal, cada um na sua, gente de casaco a gente de jeans, sem preconceitos.
E ai a banda começa. Primeiro aquele circo, uma palhaçada bonitinha (tipo Teatro Mágico) pra garantir a performace no palco. Depois uma música erudita pra fingir que é inteligente (Andrea Bocelli, eu mesma fiquei contente), e mais tarde...
Bom, mais tarde as 4 meninas que só dançavam arrancaram a roupa, ficaram quase que de biquíni e o pior(!) achando que estavam dançando alguma coisa (modéstia a parte, elas não sabem metade do que eu passei a vida aprendendo com meus axé, dança do ventre, balé, forró e afins).
Dali a pouco a cantora também troca de roupa, claro. Troca não, tira o excesso também. Barriguinha de fora, polpa da bunda aparecendo, espetáculo completo. Povo contente, dançando, cantando aquelas músicas bregas de sempre (Deja vu pra baixo) e eu pensando: Andrea Bocelli o cace... – desculpem o linguajar, às vezes até eu me esqueço de minha educação.
Não precisava ser uma ópera todo o tempo, poderia até tocar essas bandas de forró do Pará à vontade, mas por que é que sempre tem que ter as – olha a falta de educação de novo – putas?
Isso sem falar nos caras de blusas agarradas que rebolam e gemem tanto quanto as meninas.
Eu fui para fora, acendi um cigarro – sim, nessas horas é como dizem: já que está no inferno, abraça o capeta – e fiquei pensando como realmente a vida é mais simples do que se imagina...
Para aqueles que quiserem ganhar dinheiro, aqui vai minha sugestão: aprendam a cantar, dançar, atuar e escrever mais ou menos e depois diminuam muito a roupa (muito!). As mulheres não precisam malhar, é só tirar a roupa que homem fica doidinho, mas aos homens é aconselhável um peitoral tanquinho – sabe como é, mulher é mais exigente.
Ah, por que cantar, dançar, atuar e escrever?
Cantar, dançar e atuar é meio óbvio, o escrever é para fazer aquela biografia depois que ficar famosa.
Temos então uma Bruna Surfistinha de luxo.
Ou alguém ai acha que só quando se é prostituta declarada é que se vende o corpo?
Aproximadamente 10.000 reais , coloquemos nos 8.000 por show! – e alguém ai ganha isso por mês pra tão pouco?
A vida é injusta, e depois me perguntam o que eu quero ser quando crescer... Fala sério!

*Desculpem se ofendi alguma Atriz-modelo-dançarina, pra mim é tudo pseudo-puta sim!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Você

Outro médio-nível:

Hoje, revendo alguns e-mails recebidos sobre textos que já fiz, encontrei um de uma amiga em que ela fala algo sobre doer mais a ausência de alguém que não se tem do que daquele que somente é ausente por nunca ter sido presente – alguém que simplesmente não se conhece.
Eu também sempre pensei isso, perder para vida é pior que perder para a morte ou pro desconhecido.
E hoje, assim, como quem não quer mudar e que nem imagina que tenha mudado, me peguei pensando o contrário do que muitas vezes já havia dito.
Não é nem melhor nem pior perder para vida ou para morte.
O fato é que neste caso, da minha amiga, é melhor ter amado do que nunca ter conhecido.
Basicamente é aquela velha teoria: antes se envolver e morrer pelo amor do que jamais ter tido a sensação maravilhosa do que é amar.
Tudo bem que eu não sou tão simplista assim, porque falar só isso não justifica os muitos casos de amores fracassados, dores de rompimento, esperas durante anos para nada.
Creio que a medida do amor é o se amar.
Disto nos esquecemos.
Difícil não é ser deixada, não é o não ficar junto, mas o conseguir voltar-se somente para si, sem ninguém para te segurar, para te abraçar dizendo que tudo ficará bem.
Por isso ame alguém até que você se ame tanto quanto possível.
Porque enquanto se amar, amará sem perigo qualquer pessoa que aparecer e fizer o coração disparar.
Amor não é o sofrer, não é a dificuldade da separação.
Amor é o saber retirar-se na hora certa, indo para o caminho certo, tomando a distância certa, com as atitudes de respeito necessárias, sem falar nem mais nem menos, nem se machucando demasiado, nem saindo ileso...
Amar é o levar um tombo, rolar no chão de rir de si mesmo até chorar e saber a hora exata de se levantar para continuar a passada em direção à pessoa certa: você.

Empatia

Outro texto médio-nível tipo Lya Luft da vida...Ou Martha Medeiros... É, eu tenho a intenção de fazer um livro que um dia dê pra ganhar dinheiro.

É engraçado como vira e mexe, na vida, encontramos pessoas que conseguem nos passar uma clareza muito maior do que imaginávamos ao começar a conversar.
Hoje fui até a casa de um casal muito simpático, duas pessoas boas e de mentes estruturadas – cultas, inteligentes, centradas.
É claro que a primeira reação de qualquer um na rua seria: Imagina, esses dois são no mínimo loucos. Isso porque a sociedade julga através das roupas pretas ou de couro.
Eu não faço isso, aliás, foi por venderem esse tipo de material que fui até lá.
Acabou que conversamos sobre tudo um pouco: literatura, música, pessoas, pensamentos, amor, sexo, homens, mulheres e maluquices em geral.
Demorei mais do que deveria e para minha surpresa me peguei sendo tão facilmente compreendida que me encantei!
Foi isso, a identificação. Como ela é maravilhosa.
Não por pensar igual, nem nada do gênero, mas por ser tratada como gente e ter as idéias respeitadas.
Papo vai papo vem, contei sobre meus casos amorosos.
Um bem conto de fadas e outro sem final feliz.
Mas achei curioso que eles me deram uma perspectiva sobre algo novo: eu de mim.
Achamos que sempre temos ligado o botão da empatia – o colocar-se no lugar do outro, mas na verdade não temos.
Eu não tinha, mesmo tendo passado meses falando que eu e mais outra pessoa nos parecíamos muito(!) nunca cheguei a de fato me colocar na posição dela.
Então naquele instante eu parei e me dei conta da coisa mais simples do mundo: ver as coisas sob o ponto de vista do outro.
Se somos tão parecidos, o que me afetar, afetará o próximo, e o que não me afetar, será encarado compreensivamente, com respeito, sabendo que há respeito, mesmo quando uma situação chega ao extremo.
Tudo bem que, no meu caso, não faço nada por pensar demais – quem me conhece sabe, eu penso até entrar em depressão ou desistir da coisa, porque acho que qualquer iniciativa que eu tenha será inútil ou tomada como uma atitude agressiva demais para aquele momento. Exagero.
“Faça com a pessoa o que gostaria que fizessem com você”, como andei tentando praticar isso... Cegamente me peguei tateando em suposições desnecessárias.
Demorei tudo isso pra enxergar o óbvio.
Eu faço com o mundo aquilo que desejo ter de volta. Principalmente se, como no caso, a pessoa é igual a mim.
Mas sim, esqueci dessa regra básica.
Empatia não é algo fácil de ser trabalhada, daí acontece isso...
Nos esquecemos que devemos agir – não impulsivamente sem pensar nas conseqüências -, mas com o mesmo nível de respeito que gostaríamos que tivessem caso fossem fazer aquilo com a gente.
Faça das suas ações um espelho para que um dia possa ter tudo isso refletido de volta.
Quem sabe.
O importante é tentar!

Constatações

Neguinho que aponta muito defeitinho de caráter nos outros se projeta a ponto de não enxergar o próprio nariz..."Ai abomino mentira, ai não suporto grosseria, ai sou extremamente fiel, ai o mundo é fútil, ai não tenho desejos, ai sou puro, ai não faço sexo, ai, ai, ai, ai, ai..."
São pessoas que vendem muito bem a própria imagem ao demonstrarem ao mundo que abominam as coisas que verdadeiramente são. Acho que são marketeiros da vida, fazem o melhor falso marketing pessoal!
Portanto, quando encontrar alguém que aponte demasiadamente defeitos teus sem que haja conhecimento de causa(e quando digo conhecimento de causa me refiro a tua história de vida, as qualidades, e também o contexto em que os defeitos surgem) caia fora desse tipo! Combinado?
Uma coisa é você acusar alguém que você conhece muito bem pelos defeitos, outra coisa é acusar alguém baseado em atitudes isoladas... A melhor coisa é poder admitir a própria humanidade, é saber que eu minto ocasionalmente, é saber que eu sou grosso sim, que não tenho paciência com gente que me irrita, que tenho os meus momentos de curtir uma futilidade, de que não sou fiel em pensamento, e mais de poder bater no peito e dizer: EU SOU EU, PORRA! E sou eu pra todo mundo, não me escondo através de ai ai ai... Os defeitos tão ai, estampados na cara...
Triste mesmo é viver num mundo de falsidade, onde se é falso consigo mesmo... Isso não é felicidade, pelo menos no meu vocabulário não!

"Shiny happy people you can go to hell..."

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Guerreiro

Empunhar o conhecimento é uma arma letal...
Poderá te matar pela presunção, pela responsabilidade, ou ainda por enxergar além.
Como um guerreiro acordei pisando com pés firmes no chão, marchei para o banheiro, e me olhei no espelho. Aquele dia seria o começo de uma jornada que mudaria o destino tão sonhado, levaria tudo a um grau diferente de irracionalidade através da tentativa de organizar uma chuva de pensamentos meio soltos... Seria a primeira vez em que enfrentaria as consequencias dos meus últimos anos vividos, agora era hora de quebrar tudo, desmoronar os medos, acabar com as meias palavras, e as inseguranças para tomar condutas.
Alias, condutas? O quanto são pesadas na vida, ainda mais quando envolvem a vida alheia, seja ela no sentido figurativo de destino, ou ainda no sentido real de sobrevivencia do outro... Não importa, terei segurança para tomá-las, mesmo que me custem caro, mesmo que me subtraiam, mesmo que não sejam as mais corretas.
Repousei o olhar sobre a pia, molhei o rosto, a expressão agora estava firme como pedra. Não era medo, era segurança, era pura sensação de ter feito o melhor.
Vesti a roupa, coloquei o jaleco no ombro, olhei para o estetoscópio ao levá-lo gentilmente ao redor do pescoço. Senti-me paramentado...
Ao passar o trinco na porta, soube que ao voltar tudo seria diferente. Não importava como, seria... O mundo que deixei para trás, a vida abdicada, os sorrisos emprestados, e tudo aquilo que deixei de viver foi somente para me armar. Me armei de conhecimento, agora estaria pela primeira vez entrando em uma guerra com aquilo que um dia pareceu muito, mas que agora era inconclusivamente mediano.
Olhei para o velho professor, aquele que me designaria a tarefa, e senti paz.
Afinal, empunhava uma arma letal que só poderia ferir a mim mesmo...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Engan'a'dor

Quais são os paliativos?
Quantos remédios para quantas dores?
Qual a dose diária?
Entorpecente, alucinógeno, inibidor, estimulador...
Me diga o que tomas e te direi como és.
O que tens. Ou suas dores.
Mas será impossível prever outra solução.
Olhar para si mesmo? Amar a Deus, ao mundo, a tudo por inteiro?
Solução...
Frasco contendo inúmeras moléculas de prazer rápido.
A verdade é que não importa, todo mundo tem seu paliativo guardado na garganta.
Cigarro, antidepressivos, anfetamina, alucinógenos, maconha, chocolate, água, ginástica, pomada, álcool, balada, igreja, estudo, roupas, sapatos, saladas, rações diárias...
Cada um vende para a própria alma aquilo que necessita.
E necessita? O que seria necessidade?
E como converter em desejo?
Eu fumava, eu ainda tenho minhas recaídas.
Pecado fumar? E comer em demasia?
Engordar...
Empobrecer...
Viajar...
Fugir...
Transar...
As pessoas também são paliativos para certas dores... Não curam, mas ajudam a esquecer... Com quem tens andado?
Falado muito sobre os outros? Pensado só no outro? Amado só o outro?
Odiado os outros... Esta também é uma forma de se auto-esquecer.
Comiseração.
Pena, choro, mágoa em busca de colo.
Afago. E alguém pode abraçar a alma?
Não tenho andado em meu estado. Em que estado tenho tropeçado?
Andei flutuando em campos alheios.
Levitado.
E levitar é sempre meditação?
Voar, correr solta a imaginação.
Perder-se por completo.
Não mais voltar.
Encontrar Deus também é se auto-mutilar.
Será?
Forçosamente para dentro todos os dogmas, práticas, teorias, bíblia.
Religião. Salvação dos fervorosos?
E os ateus, para onde vão?
Inferno.
Auto-congratulação... 'Passei no teste. Deus me ama. Mas Deus te odeia, "irmão"!'
E como encontrá-Lo então?
Nojo do próximo, virar a cara para não dar a mão.
Estender o pé, quem sabe, chutar a cara para não ver chorar.
Gritos de dor.
E dor do outro dói em ti?
Como é estar bem?
Estar-bem num estado eufórico - Ter tanta certeza da verdade que é capaz de voltar à era do choque para deixar alerto aquele que sonha com algo.
O diferente - Fato catastrófico!
'Só sei que nada sei.' Pena que ninguém sabe disto.
Ninguém sabe daquilo, nem ninguém sabe de nada...
Mas vamos seguindo dando palpites sobre a vida alheia como se soubéssemos tudo.
Hipocrisia disfarçada.
Paliativos em forma de palavras.
'Não faça isso, não faça aquilo, não diga nada!'
'Tu não pensas, não sabes, não és capaz, muito menos evoluído!'
Eu na minha capacidade extrema de amar.
Amor que corrompe, rasga, fere, mata.
Me diga em quem andas mandando e te direi quem fazes morrer.
Fezes, cheiro pútrido do horror.
O cérebro. O enganador.
Engan'a'dor...
Engasga...
E deixa no peito a sensação de que tem muito o que aprender.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cicatrizes

Ah, by the way.. meu fetiche é cicatriz...

Estigmatofilia: atração por parceiros que tenham tatuagens, cicatrizes ou perfurações no corpo com finalidade de uso de jóias de ouro, principalmente na região genital.

Não, pra mim não precisa ter nada relacionado com região genital nem jóias nem tatuagens, não gosto.
Amo mesmo é cicatrizes, que fique claro.

E tenho dito!

Fetiche

De onde vem o fetiche?

Calcinha usada, meia fedida, bundas borradas
Xixi na cara, chicote nas costas, dedada no olho
Pau mole, pau grosso, pau fino, pau grande
Pêlo preto, pêlo loiro, pêlo ruivo, pêlo branco
Goza dentro, goza fora
Goza em silêncio ou berra na hora
Elevador, carro, cozinha, restaurante, praia, cômodo ao lado
Dominar ou ser dominado
Bebê, cavalo, raspar ou ser raspado
Pela frente, por trás, com dois, sem nenhum
Vibrador melado, salto alto usado, ouvido babado
Espanhola, sutiã, latex, couro, plástico, tinta, comida
Chantili, oriental, mulata, negro, albino
Velho, novo, criança - crime

Até onde vai o fetiche humano?
vou radicalizar e parar de escrever nessa poha.
¬¬

domingo, 17 de outubro de 2010

Menina Da Pele Inscrita

Pele branca, sorriso farto, cabelos negros, prosa inteligente e uma essência suficientemente forte para encher até mesmo o coração mais gelado do mundo.
Roubou-lhe as horas com um olhar, pagou-lhe o mesmo tempo com um sopro de leveza, aquele que mostra que era apenas um começo.
Em sua pele alva estava inscrito que apesar das mágoas que o Menino causara de antemão, ela teria algo de bom ainda para oferecer, assim fora... Ele partilhou com ela pela primeira vez tudo aquilo que passou, sem ressalvas, sem julgamentos alheios, sem punhais espetando a alma.
Ela ao ouvir tudo riu-se de todas as armações infantis, comoveu-se de todo o sentimento, e tornou-se cúmplice de toda a dor, assim o fez ficar! Repousar pela primeira vez em sua vida, até que o dia amanhecesse...

sábado, 16 de outubro de 2010

Obrigatoriedade no amor.

E quem falou que no amor existe obrigatoriedade?
Eu mesma nunca acreditei e ainda tenho muita relutância em aceitar o fato de existir um imenso preconceito velado quanto às características do par.
Amor não tem essa de rima, de flores, de idade igual, de jantares românticos.
Eu tinha um professor de filosofia (isso lá na época do meu cursinho ou terceiro colegial) que falava sempre uma coisa: amar é quando se quer mesmo nos piores momentos.
Ele defendia a tese de que quando se gosta de alguém (não precisa nem amar) deve-se encontrar esse alguém em seu estado mas crítico: nas horas de raiva, de tensão, de ridículo, de ansiedade, de desconforto, de pobreza, de ausência de espírito para saber realmente quais as virtudes e princípios que cercam aquela pessoa nos momentos do “vamos ver”.
Creio que seja isso mesmo, temos que enfrentar o “monstro” para termos certeza de que o “mocinho ou mocinha” existe de verdade quando se precisa. Conhecer o limite que nem mesmo o outro consegue ver ou controlar direito.
Talvez seja um pouco utopia, então ele falava uma coisa mais simples e fácil de ser praticada: se você gosta daquele carinha super gatinho que estuda contigo, vá num domingo vê-lo jogar futebol. Mas chegue no final, quando ele estiver bem sujo e suado, fedido e acabado, sem as roupas passadinhas, o perfume importado, e dê um abraço. E aos garotos a mesma coisa, vá ver aquela menina super linda e produzida logo pela manhã, ainda sem pentear os cabelos, com os fios todos soltos da maneira como deveriam ser, vá encontrá-la depois da academia, quando ela tiver realmente malhado bastante, quando ela também estiver suada e desarrumada, em estado crítico, e abrace-a. Se forem capazes de gostar do outro mesmo quando não estão perfeitos, todo alinhado ou toda maquiada, ai sim estarão mais perto do amor.
No amor não existem regras. Isso pode ajudar, por assim dizer.
O gostar - o amor - está nos olhos de quem vê, no coração que sente, no braço que afaga junto ao colo.
Não podemos nem deveríamos caracterizar o amor ao criar leis de que só se será feliz com alguém da mesma altura, do mesmo peso, da mesma raça, da mesma idade, da mesma crença, da mesma cidade, do mesmo país, da mesma cultura e assim por diante.
Ainda hoje eu ouço comentários baixos e risadas falsas de pessoas olhando um casal de negro com branco, ou de pobre com rico, ou de baixo com alta, ou de mais velho com mais nova...
E é muito triste porque essas pessoas perdem a chance de aprenderem uma das coisas mais importantes da vida: não são os opostos que se atraem, mas sim os semelhantes. Se um casal está junto é porque são iguais por dentro e conseguiram ver a essência um do outro.
Essas pessoas que julgam sem saber são cegas e frias de coração, porque se amassem de verdade saberiam isso – saberiam que quando se gosta, não importa a roupa, o cabelo, o estado físico, a conta com ou sem dinheiro, mas sim os princípios, valores e virtudes que nos aproximam quando também ficamos sem visão de mundo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

?

Tá doente?
Depressivo?
Irritado com a vida?
Chateado com as pessoas?
Sem tempo para nada?
Quase chorando?
Ou já está pensando em se matar...?

Eu tenho a solução pros seus problemas!

Grite em alto e bom tom:

É NOIS QUE VOA BRUXÃO!

Grite quantas vezes for necessário que uma hora o stress vai embora.

Fica a dica, beijos!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Rasgos

Se eu me rasgasse, assim, da cabeça aos pés, pergunto-me o que sairia de mim.
Dias, meses, uma vida?
Um ser recolhido, um monstro assustado, muito sangue, muita raiva, muito perdão, muito amor, muito... Ou talvez não saísse nada.
A ausência, a saudade, a palavra solta – falada, os olhares móveis, os apertos que já foram dados, a lembrança, toda a memória de algo.
E que algo seria esse?
Uma vida de histórias, sim, porque a vida são vários contos, causos, prosas.
Talvez saísse de mim uma árvore, um pássaro, só um galho, uma asa.
Talvez haja penas... Porque sinto-me tão preenchida dentro de mim.
Ou seria de água?
Molas, quem sabe, enferrujadas?
Sangue pulsando, isso não seria nada.
Se eu me rasgasse da cabeça aos pés haveria sonhos?
Seria o rasgar o meu acordar?
Ou só morrer?
Morrer para despertar.
Aqui, lá, além, com Deus, sem Deus, comigo, sem mim, com outros, ou para sempre em solidão.
E se o inferno for uma sala vazia? Não haveria para mim maior punição.
Mas se o céu for mesmo azul, o sono me consumiria.
E será que lá alguém me veria?
Saberiam os anjos descrever o que nem eu vejo?
Se lá eu me rasgasse talvez despejasse utopia.
Sonhos não realizados, uma vida vivida em demasia sem nada ter completado.
E eu me rasgaria?
Já me rasgo a começar pelo pensar sobre a tal apostasia que é matar-se.
Quanto mais me abro mais morro ou mais me acho?
Se eu me rasgasse eu me definiria...
Mas prefiro ser ser já rasgado que vai sendo colado aos poucos, feito miscelânea.
Um mosaico...
Colocando para dentro todas as coisas que me representam e que eu jamais deixarei de lado.
Sendo assim, nunca jamais poderei ter o corpo rasgado, posto que para colar foi necessário que eu me tenha quebrado...
Alguém mais entende a mim?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Percepção...

Engraçado a percepção das pessoas.

Ontem eu fui ao cinema e duas moças que se encontravam logo atrás de mim na fila começaram a conversar e abruptamente eu respondi uma das perguntas sobre os dias de pipoca de graça.
Começada a conversa, elas perguntaram sobre o filme que iam assistir – Comer rezar amar – e eu dei minha opinião (que não importa agora).
Conversa vai, conversa vem – as pessoas da frente demoravam muito pra escolher o filme e as cadeiras -, acabou que eu falei o filme que eu iria assistir...

- Você vai ver ele?

- É, dizem que é bom.

- Deve ser, mas você está sozinha?

- Sim.

- Vai ver o filme sozinha?, uma falou assustada.

- Você vem ao cinema sozinha?, falou a outra mais assustada ainda.

- Sim, sempre venho sozinha, respondi.

- Nossa! Como você é corajosa!!!, e ambas arregalaram os olhos...

De fato, fiquei pensando...

Eu devo realmente ser mais corajosa do que os outros por ter cara de pau e enfrentar o medo que é olhar em volta e ver-se sozinha, sem paliativos. Sem paliativos...
Ainda mais com tanto casal e amigos em volta.
E afinal, eu sei... Estou envolta em mim mesma, e isso me basta...

Basta?

SWU

Pois é, ontem fui no SWU! Apesar de estar passando por uma matéria super foda na faculdade resolvi ir...
Primeiras impressões: Lugar longe pra caralho, acesso meio difícil, um monte de lixo no chão(super feio pra um festival que fala de sustentabilidade), e muita, muita gente fumada! To pra falar que foi o lugar onde eu vi mais dessa espécie na minha vida toda, que alias eu não tenho nada contra, mas também não curto...
Segundas impressões: Shows do Quees Of The Stone Age e do Linkin Park foram sensacionais, valeram muito a grana gasta!
Escrevi isso pra poder falar um pouco do que representou a música, em boa parte do linkin park, na minha adolescencia. Eu já tive 15 anos, e já curti absurdamente o som desses caras, acho que eles amadureceram assim como eu, e sinto que o som deles mudou um pouco no estílo e tal, um pouco mais calmo, um pouco menos gritado, de qualquer forma ainda acho fera. Sempre foi aquela coisa que me ajudou a dar uma levantada qdo eu precisava.
Ontem, lá na muvuca total percebi que algo ali transcende as barreiras do som, é um negócio muito louco escutar aquelas coisas que fazem tanto sentido pra vc, do lado de uma pessoa que vc nem conhece, ou conhece(eheheh), e que aquilo é importante pra ambos. A galera se segura como dá, uns choram, outros gritam pá caralho(ai meu ouvido), mas o importante é que todo mundo ali curte o máximo.
Não to falando pra ninguém curtir Linkin Park não, mas só digo que se tiver algo de som que vc curta, vá assistir ao vivo... É diferente, compensa. Fazia mais de um ano que eu não ia em um show internacional de porte grande, tinha me esquecido do qto é bom!

Politicagem...

Após enviar um e-mail falando sobre a matéria do Jornal Estado de S. Paulo que arranha o Lula com unhas e dentes (não, não é defende com unhas e dentes...), recebi a seguinte resposta:

_ Espero que não caia nessa!!!

Então eu respondi:

_muito me surpreenderia você dizer que é a favor da Dilma.
Tudo bem, certas notícias são um exagero - opiniões a parte.
Agora dizer que só por isso, por termos jornais fortemente contra a Dilma, deve-se ser a favor da mesma. Oras...
Não caio nessa.. Faço parte desta!
Dilma de jeito nenhum!!!

Todos podemos nos regenerar, sim. Mas ser presidente, isso é para poucos, muito poucos, e não é nem para aqueles que estão no governo, mas já que não temos opção, que seja feita a escolha que for mais Ética.
Basta ver a moral que um e outro sempre pregaram.
Não é uma questão só de "ir com a cara", mas por em prática todo o pensamento analítico e crítico que pudemos e tivemos a oportunidade de aumentar com toda a bagagem que eu e o resto carregamos nas costas.

Meu país virou uma piada.

Piada maior ainda ao ver pessoas de alto nível cultural como Clarice Lispector irem a almoços e jantares a favor dessa politicagem - porque sabemos bem que de política e "politikós" hoje já não há quase nada.

Logo recebi outra resposta...

_Desculpe, imaginava que vc tivesse alguma consciência política!
Não vê que toda a imprensa está vendendo uma imagem anti-Lula?
Não sou Dilma, não gosto da Dilma. Mas infelizmente é o melhor projeto que a maioria da população e o Brasil pode ter no momento!!! Olhe que 80% não é pouco!!
Se o Serra levar essa, pode crer que daqui quatro anos o Lula volta no primeiro turno!!!
Conhecer um pouco de história e da história nos ajuda a olhar o futuro com maior lucidez!!!

E claro, respondi:

_UAU!
realmente...
eu falei que "Tudo bem, certas notícias são um exagero - opiniões a parte."

Não procurei ofender ninguém, aliás não divulguei quase e-mail algum sobre política, porque não me interesso por Politicagem! como já disse. E reservo toda a qualquer crítica para mim e àqueles que queiram ouvir. Por isso nem mesmo digo: votem em um ou em outro!

Agora, me desculpa mas... Vir com história de Consciência política?

Eu falei que somente me surpreenderia... E realmente muito me surpreende alguém de Tua consciência dizer logo para mim que eu sou uma inconsciente.

Eu vejo que a imprensa está vendendo. Ainda assim, escolho Serra por motivos claros, os mesmos que todos os Esclarecidos escolhem.
Até porque você mesmo disse que não é Dilma.

Não me diga que não conheço história, não julgue precipitadamente meus conhecimentos.
Nunca conversamos sobre isso, nem pretendo.

Mas realmente, dizem que serve o chapéu a quem o veste, ainda tendo a cabeça de tamanho desproporcional ao mencionado, tenho que dizer, me senti muito ofendida com a dita "falta de consciência política".

Uma coisa eu digo sempre, fazendo menção ao grande poeta, e procuro praticar com todos que me cercam...

"Presta o ouvido a todos, e a poucos a voz. Ouve as censuras dos demais; mas reserva tua própria opinião."
[ William Shakespeare ]

"Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras."
[William Shakespeare ]

Tenha uma linda noite.

E espero que as publicações dos jornais não o estejam ofendendo.

Agora, por favor, alguém me diga...
Quem é que está com a razão?
E esse país que só afunda... Afunda até em meio à abundância de pessoas pensantes...
É triste. É triste.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Claridade

O Menino decidiu calar-se por inteiro. Calou enfim seu olhar, seu coração e sua voz. De nada mais adiantaria qualquer estimulo para aquilo que estivera traçado por tão longo período.
Sua dificuldade de enxergar com os sentimentos foi posta a prova pela audição. Ouvira, e isso bastou para que um furacão se desfizesse.
Culpou-se por muito tempo pelas intolerâncias proferidas ao vácuo, de nada adiantou, até o momento que se contradisse pelos ouvidos... Matar alguém dentro de si é muito mais doloroso do que tirar a própria vida, exige esforço descomunal, faz sangrar a cada memória tirada, pois todas elas levam parte do que foi. Essa era a única forma de fazê-lo, conclui-se que faria pelo seu próprio bem.
Entendeu que muitas vezes as palavras proferidas pelo outro não são verdadeiras, e portanto os sentimentos que decorrerão delas serão apoiados em vento. Assim fez consigo mesmo, apoiou uma mansão em cima de uma ventania de devaneios alheios. Loucura dela, ou dele?
Dele certamente, as referencias lhe faltaram de fato, tudo o que soubera fora advindo de palavras proferidas pela boca dela. Fazer sua própria imagem é direito, mesmo quando falseada e frágil, assim ela fizera... Ele compreendera.
Colocou fim ao sofrimento que um dia pareceu interminável somente pelo pensamento de que não perdera. Nada. Seu valor era o mesmo, e não mudara, nem mesmo precisou falar sobre quem é, ou ofender-se por medo de quem seria...
A vida na terra é muito curta para entendermos tudo sobre nós mesmos, quem dirá sobre o outro. Ajudar, até o ponto em que as pessoas tendem a aceitar ajuda, é o ideal.
Boa sorte aos olhos tristes. Os meus te emprestaram o brilho por tempo demasiado, agora retomo meu brilho em minhas mãos e uso todo para iluminar meu universo. Deixei-o por tempo demais para tentar fazer parte de outro, minha vida me esperou pacientemente e agora sou capaz de colocá-la em trajetória novamente.
...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Seu Zé e o Coração.

Seu Zé era o paciente mais atípico daquele CTI, fosse por sua história ou por sua condição física...
Ao entrar no ambiente via-se um homem de seus mais de 70 anos, entretanto com um vigor físico incomum, braços ainda fortes devido a lida diária com  a lavoura, boa forma física resultante de alimentação a moda antiga e dos incansáveis dias de trabalho pesado sob o sol. Contudo, o mais impressionante em Seu Zé era a história de sua moléstia...
Aquele homem nascido no sítio, e que por lá se criou, foi uma criança feliz, aos 16 anos conheceu sua esposa. Dona Maria era uma mulher linda segundo suas palavras, ele se apaixonou prontamente, e como era de costume na época logo casaram-se e começaram a construir a vidinha a dois. Ele sempre fora apaixonado por ela, os anos passados ao lado de sua amada não mudaram isso, pelo contrário diz ele que os anos foram extremamente benéficos para o seu relacionamento, aprenderam a lidar melhor com os defeitos um do outro, e se tornaram mais companheiros que nunca. Para Seu Zé a vida aos 60 anos era perfeita, e não aos 20...
Como já é sabido algumas coisas não podemos protelar, e assim foi com os dois. Há uma semana foram obrigados a se separarem, Dona Maria fora chamada para regressar junto ao Pai, como diz Seu Zé. E lá se foi ela, deixando-o sozinho no mundo depois de 50 anos de comunhão...
Todos se espantaram com a reação daquele velho homem ao perder sua amada. Derramou lágrimas contidas, deu o ombro aos filhos e netos, segurou-se da forma que podia para assistir a partida... Sobreviveu aquela perda...
Há dois dias Seu Zé ao se levantar, sem a companheira do outro lado da cama, sentiu uma forte dor no peito. Conta ele que caiu no chão de dor, e assim permaneceu até ser achado pelos seus filhos... Todos entraram em pânico, pois naquela idade Seu Zé só poderia estar infartando! Correram levar seu Zé no postinho, onde o médico mais que prontamente suspeitou do óbvio e mandou-o para o hospital. Foi aquela correria, uma filha fazia a mala do pobre homem, outra preparava comida, outra lembrava de pegar a foto de cabeceira de Dona Maria, e assim foram em mutirão ao hospital... Ao chegar a equipe atendeu-o, e prontamente levaram-no para fazer exames para avaliar as artérias "entupidas" do coração. A surpresa foi geral com o resultado do exame, Seu Zé tinha as artérias do coração saudáveis como as de um moço, sem nenhum "entupimento" que levasse a um infarto...
Após os cuidados para dor e para prevenir eventuais complicações, a curiosidade sobre o caso de Seu Zé espalhou-se, e lá foi aquele velho professor conversar com o ancião. Depois de 15 minutos de conversa a notícia chegou, Seu Zé não tinha de fato infartado, mas tinha Síndrome Do Coração Partido, acredite, pois existe! Realmente, ele teve seu coração partido na última semana, e foi suficiente pra que ele sentisse fisicamente essa quebra... A dor no peito, a boca seca, o desmaio, foi tudo real mas não gerado por algo orgânico em si, e sim pela dor emocional.
Talvez devido ao pequeno vocabulário de cunho emocional, e os anos de criação rígida não foi capaz de colocar de maneira apropriada sua dor de perda, o que o fez de certa forma manifestá-la através de sintomas diferentes do esperado. Enfrentar e exteriorizar o próprio sofrimento muitas vezes é tão doloroso que achamos vantajoso guardá-lo, ou tentar esquecer... Agora deitado naquela cama de hospital Seu Zé podia chorar sem peso algum na consciência, pois afinal ele aprendera que aquela dor no peito só iria embora de mão dada com a dor do sentimento. Era melhor chorar...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Consensos

- To com fome
- E eu com isso?
- Grosso!
- Eu to brincando...(risos)
- (risos) Ah, que bom, senão eu ia te socar.
- Vc falou socar?
- Falei, o que tem demais nisso?
- É palavra de homem, não de mulher!
- Ah, Pim, para de ser tonto e vamos comer alguma coisa logo.(risos)
- Tá bom, vamos no bar do Nelson comer...
- Adoro quando vc sugere as coisas!
- (risos) Achei que vc não gostasse pelo seu jeito ultra master power plus advanced de mulher indenpendente.
- Nada a ver, Pim... Tem coisas que é consenso entre nós mulheres, e essa é uma delas.
- É consenso também deixar o cara ir viajar em janeiro pra floripa com os amigos?
- Não abusa também, né!
- (risos) Ah Ok, achei que ciumes fosse algo que em consenso as mulheres independentes e seguras não tinham.
- (cara de brava) Não, isso não é consenso! Consenso mesmo é que vc é louco de irritar uma mulher com fome e de TPM!
- Pow, parei então! Vamos indo comer...
- Bom mesmo...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Se fosse...

Se amor fosse um campo de batalhas, você seria os aliados enquanto ela representaria o eixo...
Se amor fosse uma canção, você seria Sway cantada ao pé do ouvido enquanto ela seria a dança do quadrado...
Se amor fosse um dia, você seria o meu aniversário enquanto ela seria uma quarta feira de cinzas...
Se amor fosse uma comida, você seria um strogonoff de carne enquanto ela seria uma almôndega(blerrrgg...)
Se amor fosse um filme, você seria ganhadora de Cannes enquanto ela ganharia o Framboesa de Ouro...
Se amor fosse uma droga, você seria um ansiolítico enquanto ela seria uma dose letal de barbitúrico...
Se amor fosse uma viagem, você seria um eurotour enquanto ela seria uma caravana pelo deserto...
Se amor fosse um bar, você seria um bar refinado e aconchegante enquanto ela seria um buteco mal frequentado..
Se amor fosse uma partilha, você seria 50% enquanto ela seria 1%...
Se amor fosse um sorriso, você seria aquele radiante enquanto ela seria um amarelo...
Se amor fosse um sonho, você seria aquele bom enquanto ela seria um pesadelo...
Mas amor não é nada disso. Amor é paciência, compreensão, convivência, e acima de tudo valorização...
Você é amor ao esquecer da própria dor para se lembrar que a minha existe, ao compreender os meus menores defeitos, ao conviver comigo a todo custo mesmo eu fugindo as vezes, e ao me mostrar o valor que eu esqueço que possuo...


PS: É meloso sim, é piegas sim, mas tem motivo de ser! uhauhauhahuahu

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sede.

Minha sede é insaciável fonte de desejos mórbidos da vida seca que me ronda em busca de água para que minha fome não seja proposta de luta por entre canibais que devoram a si mesmos sem tomarem conta da alma que têm tenho minh’alma próxima de meu coração para que nunca me esqueça de todas as coisas que fiz para chegar até aqui quase sempre vacilando sem respirar nos instantes de luta quase morrendo me matando besta desaforada que hoje encontra um futuro onde despencam todas as possibilidades do céu como se eu tivesse concretizado todas aquelas frutas boas que deram em meu quintal deixando a pergunta suspensa sobre o que foi afinal que eu plantei que tanto cultivou em minha terra de chuva minguada terra arada pelo suor da face sangrenta de mãos calejadas sem nem mesmo poder reclamar de todas as dores e amores deixados para um dia quem sabe amar e que esse dia chegue logo para que minhas vitórias possam cativar outros corações também me abraçando e me beijando em meio a lágrimas ao me ver partir para alguns dias voltar para mim mesma porque me pertenço melhor do que a ninguém como numa transmutação ao encontrar-me em outro ser senão meu interno reflexo que me fez buscar todas as coisas que agora colho sob o sol roto de uma tarde anuviada para o sal da minha face poder conter a queda de minha própria pressão valha-me Deus que achei que nunca teria perdão ao tentar todos os dias olhar no espelho e me perdoar chorando todas as águas já antes passadas como um rio que volta para o próprio leito indo contra a física e a natureza e todos os conceitos passando por minha boca e matando minha sede tão insaciável quanto os desejos de seguir rumo ao desconhecido e ir embora para longe daqui ou voltando para casa... Meu lar.

domingo, 3 de outubro de 2010

Revelação...

Ai que me matas de tanto furtar as cores do ambiente que me cerca quando estou envolta em teus braços brandos suados de tanto fervor por procurares a redenção sem encontrar caminho para minhas pernas que te prendem sem o menor pudor por entre os poros que te cercam mostrando o caminho que insistes em não seguir porque de tudo sou eu quem tive que te prestar uma queixa como quem se debruça por sobre o carinho do calor de teu ventre para te contar na boca as palavras mudas que minha canção recita ao te encontrar os ouvidos rotos de tanto me ouvir sussurrar as coisas todas que não te digo por puro medo de que vás me repudiar sem que nem mesmo saibas as coisas todas que quero dizer de fato com essas falas gravadas em minha voz feito viola que tem um acorde por somente em ti pensar nas noites de frio que não te tenho para acalentar com o queimar do corpo meu que te amassas a pele de tez clara e farta cheia de mordidas e apertos que meus dedos teimam em deixar as marcas que me trouxeram até ti já que teus dedos não apontam caminho algum nesse meu céu deserto de nuvens de onde caístes feito anjo alvo que desponta por sobre todas as estrelas desse infindo pensar que são meus reflexivos vultos internos por sobre o teu olhar que me olhas como quem te perdes por sob meu tatear ao ver se te encontras na saliva minha e em meu torcer de pescoço ao te degustar feito fruta nova recém capturada da árvore que penteia o vento de brisa que entra no quarto e me fere as costas sem dó nem piedade ao saber que te quero roubar pra mim sem o menor pesar da consciência que me grita para te deixar ali no chão estirado apenas observando o teu contorcer das entrâncias para que me mostres o que devorar devorando cada pedaço como se fosses o último homem a meu paladar palatalizar todo teu sabor antes nunca provado nem bebido nem comido nem cheirado pelos lábios de alguém tão volátil nem volúvel que se desfaz e refaz por entre as mãos que deslizam cheias de perfume dos hormônios dissipados pelos poros que aos poucos se tornam apenas espasmos convulsos de uma noite em que meu ser finalmente a ti se revelou.

Reencontro

O menino acordara em uma sala de tijolos com o chão de terra batida. Teria de cavar para conseguir se colocar fora dali, mas como faria isso quando perdera toda sua resiliência? Colocar a venda parte de si em busca de Amor nem sempre é bom negócio, ainda mais quando se tem o suficiente para viver. Arriscar é destinado a quem possui pouco, a quem levaria vantagem ao viver pelo outro.
Suas mãos tocaram a terra, e foram pela primeira vez em muito tempo manchadas de vermelho. Não o vermelho carreado por pecados, e sim o banhado de esforço. Sentiu-se pulsando nas mãos, como se a terra entrasse em contato com o seu ser mais íntimo, tornando-o parte do desejo de sair dali, de se libertar de uma prisão imposta pela própria mente.
Cavou, por dias e noites, acompanhou-se colocar dentro de um buraco cada vez mais fundo, onde já nem era possível enxergar a sala que uma vez o rodeara. O suor de suas têmporas amaciava a terra para permitir o trabalho duro das mãos, não importava mais o quão fundo estava... Sua vontade de sair agora era maior...
Ao sentir-se cavando rumo a superfície não necessitava mais nem da terra macia para cavar, era só vontade, somente gana por libertar-se, suas unhas já totalmente tomadas pelo barro vermelho não pediam mais que as mãos cessassem o movimento.
A terra acima de seus dedos cedeu espaço ao vácuo. Fora o primeiro dedo fora da terra, seguido pelos demais. Fora a mão, o braço, o tronco, e por fim as pernas. Ao colocar-se em pé estava livre, suas mãos pulsantes de dor e orgulho haviam devolvido sua resiliência antes perdida.Reencontrou-se completo novamente...

sábado, 2 de outubro de 2010

Vovó estivera louca?

Vovó no auge dos seus quarenta anos de idade ainda era uma mulher linda... Minhas primeiras memórias sobre ela são de uma mulher de cabelos pintados de um tom ruivo, pele bem cuidada, sorriso de menina tímida do interior, mas exalando uma força incomum pelo timbre grave de sua voz e pelas múltiplas atividades que realizava diariamente. Felizmente, essa imagem inicial perdurou o suficiente para me fazer assumir que essa era vovó, esse era seu jeito, e sempre seria.
Mas a vida sempre se encarrega de nos mostrar que nem tudo tem caráter perene e imutável. Um dia vovó mudou... Vovô decidiu abandoná-la por outra família que sequer sonhávamos que existia. O sofrimento caiu sobre a cabeça de cada um de nós como tempestade. Por consequencia da gravidade da situação todos resolveram esquecer da própria dor e concentrar-se na dor de vovó, pois ela realmente enlouquecera na época...
O sofrimento tornou-a primeiramente apática, deixou-a de cama por vários dias largada a própria sorte. Talvez esperando levantar da cama e perceber que tudo havia sido um sonho ruim e havia acabado, mas isso não aconteceu. Até um dia que resolveu levantar da cama, ao por os pés no chão o sentimento de raiva a tomou por inteiro... Vovó, então, fez coisas reprováveis para uma mulher de sua idade: Distribuiu palavras feias ao mundo(um repertório que alias era bem particular de sua época), plantou-se frente a nova casa de vovô, ameaçou agressão física diversas vezes, até o dia em que se exauriu de tudo isso... Colocara toda sua frustração dos anos de enganos para o mundo, e o mundo interpretou-a como se estivesse ensandecida, pobre vovó.
Aos poucos vovó voltou em órbita, com algumas diferenças consideráveis. Seu rosto de mulher jovem tornou-se esculpido pelas garras do sofrimento, seus cabelos impecavelmente pintados agora estavam entremeados por fios brancos, e sua voz grave agora tornara-se mais abafada. Entretanto a maior diferença estava em sua atitude, vovó tornou-se arrimo de família... Perdeu o sorriso de menina do interior e ganhou o sorriso de mulher madura, avó, elo entro os filhos, e referencia para os netos. Vovó tornou-se patriarca...
Por muitos anos achei mesmo que minha avó enlouquecera durante o período, os anos me trataram de mostrar que louco estava eu ao não saber o que era sofrer por amor. Ao passar pelo meu drama pessoal consegui entender cada uma das atitudes, dos momentos de apatia total até as ofensas. Entendi que as ofensas proferidas eram palavras que sumiam assim como o vento que se desfaz, mas que escolhas e atitudes eram imutáveis... Assim foram as de vovô ao magoá-la.
Posso dizer sem dúvida que vovó hoje é uma inspiração para mim, pois além de me ensinar que nenhum ato cometido por sofrimento de amor é loucura(salvo exageros onde a integridade física é violada) também me fez entender o sentido de reconstruir-se, e que apesar das diferenças os recomeços são bons. Não importa a idade, o que aconteceu, ou o que irá acontecer, a maior loucura não é sofrer por amor, é parar no tempo por causa dele... Isso vovó me ensinou...