sábado, 2 de outubro de 2010

Vovó estivera louca?

Vovó no auge dos seus quarenta anos de idade ainda era uma mulher linda... Minhas primeiras memórias sobre ela são de uma mulher de cabelos pintados de um tom ruivo, pele bem cuidada, sorriso de menina tímida do interior, mas exalando uma força incomum pelo timbre grave de sua voz e pelas múltiplas atividades que realizava diariamente. Felizmente, essa imagem inicial perdurou o suficiente para me fazer assumir que essa era vovó, esse era seu jeito, e sempre seria.
Mas a vida sempre se encarrega de nos mostrar que nem tudo tem caráter perene e imutável. Um dia vovó mudou... Vovô decidiu abandoná-la por outra família que sequer sonhávamos que existia. O sofrimento caiu sobre a cabeça de cada um de nós como tempestade. Por consequencia da gravidade da situação todos resolveram esquecer da própria dor e concentrar-se na dor de vovó, pois ela realmente enlouquecera na época...
O sofrimento tornou-a primeiramente apática, deixou-a de cama por vários dias largada a própria sorte. Talvez esperando levantar da cama e perceber que tudo havia sido um sonho ruim e havia acabado, mas isso não aconteceu. Até um dia que resolveu levantar da cama, ao por os pés no chão o sentimento de raiva a tomou por inteiro... Vovó, então, fez coisas reprováveis para uma mulher de sua idade: Distribuiu palavras feias ao mundo(um repertório que alias era bem particular de sua época), plantou-se frente a nova casa de vovô, ameaçou agressão física diversas vezes, até o dia em que se exauriu de tudo isso... Colocara toda sua frustração dos anos de enganos para o mundo, e o mundo interpretou-a como se estivesse ensandecida, pobre vovó.
Aos poucos vovó voltou em órbita, com algumas diferenças consideráveis. Seu rosto de mulher jovem tornou-se esculpido pelas garras do sofrimento, seus cabelos impecavelmente pintados agora estavam entremeados por fios brancos, e sua voz grave agora tornara-se mais abafada. Entretanto a maior diferença estava em sua atitude, vovó tornou-se arrimo de família... Perdeu o sorriso de menina do interior e ganhou o sorriso de mulher madura, avó, elo entro os filhos, e referencia para os netos. Vovó tornou-se patriarca...
Por muitos anos achei mesmo que minha avó enlouquecera durante o período, os anos me trataram de mostrar que louco estava eu ao não saber o que era sofrer por amor. Ao passar pelo meu drama pessoal consegui entender cada uma das atitudes, dos momentos de apatia total até as ofensas. Entendi que as ofensas proferidas eram palavras que sumiam assim como o vento que se desfaz, mas que escolhas e atitudes eram imutáveis... Assim foram as de vovô ao magoá-la.
Posso dizer sem dúvida que vovó hoje é uma inspiração para mim, pois além de me ensinar que nenhum ato cometido por sofrimento de amor é loucura(salvo exageros onde a integridade física é violada) também me fez entender o sentido de reconstruir-se, e que apesar das diferenças os recomeços são bons. Não importa a idade, o que aconteceu, ou o que irá acontecer, a maior loucura não é sofrer por amor, é parar no tempo por causa dele... Isso vovó me ensinou...

2 comentários:

  1. Nem preciso dizer que adorei o texto né?! Família é sempre complicado mas nunca nos faltaram bons exemplos...

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