sábado, 21 de agosto de 2010

O estranho passageiro do busão

Eu odeio viagem de ônibus!
Se houvesse uma coisa na face da terra que eu expurgaria daqui seriam esses ônibus e seus passageiros.
Nada contra ninguém, mas já reparou que sempre tem um sem noção?
No avião não se pode ligar os aparelhos e não sei, tem um quê de pessoas com maior senso de incomodo. E não é necessariamente uma questão de dinheiro, porque já há passagens aéreas mais baratas do que ônibus leito, por exemplo.
É a velha educação. E quantos passageiros sem noção!
Esses dias estava voltando para casa no mesmo horário de sempre, na mesma rodoviária de sempre, pela mesma companhia de sempre, no mesmo ônibus de sempre.
Sentado em minha poltrona comecei a reparar nos outros que também se acomodavam ao meu redor. Até então nada demais. Todos quietos, uma beleza.
Mas foi o motorista dar a partida que um moço, que se encontrava na poltrona de trás do lado oposto ao meu, ligou o celular na maior altura.
Tudo bem que a tecnologia é maravilhosa, mas o fone de ouvido foi inventado muito antes do dito telefone móvel!
Enquanto ele escolhia a música eu rezava! Rezava tanto que até Deus deve ter reclamado da altura dos meus pensamentos.
"Zézinho produções apresenta: Deja vu! A banda de forró do Pará que veio para ficar!"
Pronto, eu sabia, Deus não ouvia, o celular do cara não deixava! Ensurdecia tudo, até os Céus!
E a partir dai eu xingava, xingava em pensamento tentando controlar para não verbalizar em alto e bom tom. Afinal, vai que era uma música só, depois o cara desligava. Desligaria, eu achava.
Minutos depois de tortura auditiva você pensa: "Nada, nada pode ser pior!" E dai você se surpreende.
Já no final, bem quando a música começa a ficar mais lenta e os aplausos e gritos aparecem, o celular começou a tocar. Adivinha qual era o toque daquele cara? O Hino do Corinthians.
Só poderia ser, um cara tão sem noção só poderia ser corintiano, assim, nada contra quem torce nem futebol, mas sabe aquele velho paradigma que a gente tem... Ok, ok, preconceito! Odeio corintiano, e aquele me deu razão para odiar mais ainda.
Conversou berrando - eu também não entendo porque as pessoas têm mania de gritar no celular como se o outro não escutasse sendo que sempre escuta - durante 10 minutos com alguma "mina lá muito gostosa, cheia de fogo, ligada nas tretas".
Desligada a ligação, todos do "busão" de entreolharam pensando: 'Acabou, diga que acabou!' Mas seria muito fácil. Agora a trilha sonora era: Sandy e Junior.
“Por todos os santos” sussurrou um senhorzinho.
O cara era corintiano que gostava de Deja vu e ouvia Sandy e Junior. Depois dizem que os são paulinos é que são gays. Oras, por favor.
Vendo o estado de calamidade geral resolvi arriscar: "Ô amigo, coloca um fone no ouvido.". O cara se fez de desentendido. "Abaixa o som, por favor.". Fechou os olhos e fingiu que nem era com ele. "Abaixa o volume do celular." pedi num tom um pouco mais alto. Mas nem adiantou, o camarada permaneceu imóvel.
Também nessas horas todo mundo fica hipócrita, fingindo aceitar, nem uma palavra, só eu reclamava. Me levantei e fui falar com o motorista, expliquei a situação e ele só me perguntou: "O cara é branco ou preto?" - E o que raios isso tinha a ver?
O motorista estava com medo por preconceito? E quem diria!
"Olha moço, nem dá preu fazer nada, sabe como é, se ele não desligar o telefone eu vou ter que pedir pra ele descer, se ele não quiser descer eu vou ter que chamar a polícia e dai vão mais umas 2 horas parado esperando solução. Dá não. Resolve sozinho.".
Que decepção. Voltei pronto para uma contrapartida 'Já que não vai ser com polícia, sacana serei eu.' pensei. E assim que sentei liguei o meu celular numa altura maior ainda.
Claro que os outros passageiros ficaram incomodados, mas um outro rapaz resolveu atacar comigo, ligou o celular dele também.
Bom, só em saber que era um ônibus normal, de um andar, com poucas pessoas, vindo de manhã ainda pela madrugada dá pra saber o quão nervosa era a situação.
Agora imagina aquela bagunça de sons, a mistureba de gritaria e ainda por cima agora todos estavam falando alto sobre quão absurdo era aquilo: "Poluição sonora, um abuso." falavam algumas senhoras.
Mas o que eu poderia fazer?
Resumo da ópera: o cara finalmente desligou o som dele, depois desliguei o meu e assim por diante. Silêncio. Tudo ótimo, não?
Não! O cara dormiu, e quem diria que dormindo o barulho seria ainda mais sonoro? Roncos! O corintiano roncava que parecia uma vaca, um boi ruminando. Que horror!
Dó mesmo deu da menina que iria sentar no lugar dele no ponto de desembarque. Só para acordá-lo demorou uns 10 minutos, sem sucesso. Enquanto isso a fila atrás dela crescia, todos querendo entrar esperando pacientemente o cara levantar.
Ele só acordou mesmo quando o rapaz de trás deu um grito parecido com um "Acorda ai, meu irmão!".
Claro que ele foi super mal-educado, foi passando se esfregando em toda a gente que em atos desesperados se dobrava por cima dos acentos tentando não encostar no tal indivíduo.
Saiu assim, sem falar nada, sem olhar nada, sem o menor pudor como se não tivesse feito nada.
Alivio geral quando o ônibus fechou.
"Ufa!" disse um, "Aleluia." resmungou outro, mas achei engraçado mesmo quando uma das senhoras exclamou "Até que enfim o corintiano veado foi embora, Senhor!"
Sem preconceitos, mas que aquele era estranho era. Se era!

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