Tem dias em que és tamanha secura que brotam rugas em mim, feito terra árida a criar sulcos, me carcome a face essa tua ausência. E és tão bruto que meus torrões se tornam diamantes lapidados pela aspereza da falta de tua presença, me és assim, feito grão de areia a entrar no olho.
Tem dias em que és tão presente que é como se fosse me deixar ao relento, barrento e argiloso meu plano ganha forma e meu corpo ganha fermento, aumentando as bordas desses meus pensamentos anuveados que vagam com o vento.
Tem dias, porém, em que não és nada, és como nuvem que não deságua, és lavadeira de escadaria, água de torneira ou de pia, matando a sede de quem é visita. Tem dias em que és ribeirinho, destorce meus desalinhos e me deixa pela metade.
Senhor do tempo, por que não te abunda no delta que te circunda o fim de tua maresia? Escorre feito lágrima, porque és sedento e vistoso, cristalino e pálido feito gota a escorrer pela face, são teus traços que emergem na terra de meu corpo...
*Texto inspirado em outro, ainda não publicado, de um amigo Munduruku.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Solte uns gases você também...