segunda-feira, 2 de julho de 2012

Tem dias...


Tem dias em que és tamanha secura que brotam rugas em mim, feito terra árida a criar sulcos, me carcome a face essa tua ausência. E és tão bruto que meus torrões se tornam diamantes lapidados pela aspereza da falta de tua presença, me és assim, feito grão de areia a entrar no olho.
Tem dias em que és tão presente que é como se fosse me deixar ao relento, barrento e argiloso meu plano ganha forma e meu corpo ganha fermento, aumentando as bordas desses meus pensamentos anuveados que vagam com o vento.
Tem dias, porém, em que não és nada, és como nuvem que não deságua, és lavadeira de escadaria, água de torneira ou de pia, matando a sede de quem é visita. Tem dias em que és ribeirinho, destorce meus desalinhos e me deixa pela metade.
Senhor do tempo, por que não te abunda no delta que te circunda o fim de tua maresia? Escorre feito lágrima, porque és sedento e vistoso, cristalino e pálido feito gota a escorrer pela face, são teus traços que emergem na terra de meu corpo...
Me dominas em teus terrenos afogadiços, areias movediças de descasos... É, meu senhor, ainda que te caia chuva, estás igualmente a secar a mim ainda assim quando és tempestades.

 *Texto inspirado em outro, ainda não publicado, de um amigo Munduruku.

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