sábado, 4 de agosto de 2012

Cafés...

Milla está encostada no beiral da sacada.
Lá há espaço somente para no máximo três almas.
Beiral frio e estreito, cheio de falhas. Pintura desgastada. Ela cai de acordo com as folhas outonais.
E tudo no chão é vermelho.
A cidade dali de cima parece cinza. Madeira que perde a cor. Vitalidade que se vai.
Milla chegou faz 2 anos, mas não se adaptou.
O jardim do vizinho parece tão macio. O verde do outro é sempre mais visível.
A xícara de café lhe faz companhia. Não há nada na geladeira que sirva como parceria. Estão a sós. O degustar é para ela, o café não se importa. Ou ao menos não parece esquentar.
O clima é frio, a temperatura cai, tudo esfria.
Milla é sozinha. No apartamento caberia mais uns cinco, porém ela gosta de privacidade, prefere a solidão de quem escolhe dormir na cama vazia.
Calafrio. É um vulto. Vulto do falecido que já se foi. Levou as cobertas, Milla tem aquecedor.
E na rua as folhas vermelhas, um pouco de café derramado... Ela quem entornou.
Queria ver se dava para enxergar chegar ao solo. Mas o caminho é mais longo que sua visão.
Talvez houvesse um jeito de acompanhar.
Uma máquina para aproximar a colisão.
Milla vai até a mesa na sala, deixa lá o resto de café - há algumas manchas novas em seu sofá.
Volta para o beiral. Encosta.
Olha para o céu e aposta...
Não levaria 30 segundos para tocar o chão.
Fecha os olhos e conta...
E se lembra...
...É sempre eternidade quando tudo o mais é escuridão.

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