segunda-feira, 2 de julho de 2012

Fumo


Eu fumo, fumo como se lavasse a alma.
Na falta de agora, preencho o ausentar da presença com o futuro. Me contento com o nada esperando tudo. Eu fumo. E não me sobra raspa, pito até queimar as unhas, até doer a carcaça que logo mais ganha rumo. Um caixão quem sabe...
É na solidão das vozes que se escuta a palha que queima rogando prosa, que invade sufocando palavra.
Eu fumo, principalmente quando estou sozinha, porque é quando me conecto com o mundo, o grande arquiteto que me olha.
E o palheiro vai se despedindo, como outro amigo que vai indo depois de uma conversa demorada.
As cinzas são as lágrimas que saem da mão, diretamente batidas dos dedos, e a fumaça...
A fumaça é a compreensão, é a luta, é o medo, é a essência empurrada para fora para que se esvaia, já que não sobra nada além de um corpo torpe e muitas lástimas.
Eu fumo.
Fumo como se fumar significasse algo...
...mas não passa de alguém que se mata.

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