quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os Olhos

Dipirona, voltarem, e um bom antibiótico não cura tudo!
Ao olhar do outro lado da mesa eu vejo olhos. Sim, olhos. Ansisos por respostas, ansiosos por alivio, temerosos pela vida, chorosos ao não ter um afago sincero.
Algumas coisas não são tocadas. São tão íntimas que nem ao menos podemos colocá-las em exposição durante 15 minutos de conversa breve, e muitas vezes vaga. E é com elas que talvez devessemos lidar de forma mais pura e sincera, pois é delas que provém o verdadeiro sentido de cura, de bem estar, de equilíbrio.
Da velinha com fraturas devido aos maus tratos do filho até a dorzinha  de cabeça que visita de vez em quando a dona de casa, qualquer doença tem implicações sobre o que se é. Em variáveis intensidades, mas o fato é que tem. Na maioria das vezes trabalhar essa dor nem é preciso, a mente faz o papel de cura para si mesma depois que o problema fisiológico foi resolvido. Mas e quando tudo é sobre a dor que não se pode tocar? Quando os olhos pedem desesperadamente que se pergunte com sinceridade como têm passado?
Confesso que sentar de qualquer lado da mesa não é confortante, pois a impossibilidade é o que reina. Um não diz como se sente, o outro muitas vezes evita a pergunta por não estar interessado de fato, ou por julgar não ser relevante. E assim a consulta segue, aquilo que não é dito continua sem ser dito, o presumido continua presumido. Assume-se a postura de Doutor, aquele cara que estudou anos para curar a sua doença como ninguém mais faria, e por isso não tem tempo a perder com aquilo que não é embasado pela boa e velha medicina conservadora.
Esquece-se dos olhos, aqueles que pisaram dentro daquele consultório esperançosos para que ao sair dali algo de fato mudasse. Eis que a relação médico-paciente torna-se sobre um distanciamento médico-paciente, pobre médico, pobre paciente. Ambos perdem, um deixa de amar o seu ofício, o outro torna-se descrente no alivio da dor, e novamente a consulta segue.
Por fim resta um papel em branco, preenchido com letras garranchais, o bom e velho voltarem, acompanhado da dipirona. O aperto de mão apressado, e novamente não se olha no olhos por cima da mesa. Segue-se um desejo de melhoras, muitas vezes despretensioso de seus verdadeiros votos.
A maior tristeza que se pode carregar é não amar o paciente que está a sua frente, mesmo que se possa fazê-lo apenas por 15 minutos, dedica-lhe esses precisos minutos, faça com que aquilo seja sobre eles, e não sobre dores e doenças somente. Faça com que seja sobre os olhos, pergunta aos olhos, olha nos olhos, e sorri de volta. As vezes a maior cura não é o alivio da dor, até porque essa muitas vezes nem pode ser resolvida, a maior cura está no fato de se importar de verdade. Mesmo que doa, mesmo que ao pisar fora do ambiente de trabalho sinta o peito carregado e a vontade incontrolável de chorar, leva contigo o amor incondicional e dedica-lhes aquilo que gostaria que fosse dedicado a ti.
Porque, no final, tudo é sobre os olhos, até que eles se fechem...



"Encontrei o paradoxo, que se você ama até doer, não há como ter mais dor, somente mais amor.”
                                                          Madre Teresa de Calcutá.

Um comentário:

  1. nao eh so medico q deveria fazer isso, medico lida direto com uma das dores, mas todos as pessoas poderiam ser curadas e curarem aos poucos com o dia a dia.
    eu vejo isso pq sempre me procuram - eu sei q pesa no começo eu ficava ate sem conseguir levantar da cama de tanto q mts vezes eu "pegava" pra mim a energia negativa dos outros, mas com o tempo é cm a madre tereza disse vc aprende a canalizar
    basicamente eh isso vc aprende, mas aprende dps de fazer e sofrer mt
    e mesmo depois ainda vao ficando as dores dos outros. mas vc aprende a tbm focar em si mesmo e a curar a si.
    e adivinha por que as pessoas não fazem isso?
    porque seria como olhar para si.
    sabe aquela coisa do praticar caridade e devoção ao próximo aproximar a alma de Deus e de Si mesmo?
    então, no fundo no fundo ninguém quer isso, não de maneira tão aberta e dolorosa.
    Acontece que não há camigo fácil.
    Estar em contato com o outro é estar em contato consigo. e por isso que hoje tanta gente é enclausurada, mesmo estando numa festa com um milhão de amigos.
    o medo de ver a face contrária é muito, hoje as pessoas não querem ser nem mesmo narciso...
    nem narciso...
    o que todos procuram é não ter reflexo.
    já pensou no quão foda é isso?
    belo texto.
    beijos!!

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