quinta-feira, 26 de maio de 2011

Salvação

As mãos morenas e ressecadas contam com felicidade as pedras assentadas pela estrada...
Ah, aquela estrada ingrata chamada vida! Sempre a maltratou como se não houvesse amanhã, não bastava sofrer um pouquinho mais hoje, tudo era sempre muito mais.
Sessenta e oito anos vividos. Mas quanta doçura a vida amarga lhe dera? O sorriso envergonhado da falta da prótese, os olhos imersos em bondade, as palavras sábias, e a calma perante a dor insuportável. Manteve-se fiel aquilo que nem em teoria soubera o que viria a ser. Nunca conheceu a bondade.
Algumas vezes lhe faltavam até mesmo as palavras... O que nada tinha relação com pobreza de espírito, faltava lhe simplesmente o que falar ao mundo.
"Tá bom", "Bem". Faltava-lhe coragem até mesmo para admitir a própria dor física, sempre bem, mesmo tendo a certeza do contrário. Quanto aquele outro tipo de dor, o que faz chorar a alma, sei que estava presente, apesar de nunca ter percebido manifestação alguma de lágrimas ao relembrar o passado. Lugar de tristeza é no banheiro, ouvi-a dizer baixinho um dia ao contar dos desgostos da vida.
Hoje ela iria embora. Salvação aqueles jovens doutores lhe deram...
Onde estaria a salvação em um instante sem explicação? Foi-se ela, sem previsão. Diferente do que imaginávamos, diferente do pretendido...
Mas é claro que lugar de tristeza é no banheiro, 10 minutos de choro me renderam mais uma lição amor ao próximo.
Já a vida lhe rendeu a salvação. Era hora de partir...




As almas mais lindas que vi até hoje são as que foram submetidas as maiores privações físicas ou psicológicas...

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