terça-feira, 13 de agosto de 2013

Luz

Quando decidi ser médico abracei com todas as minhas forças o desejo de lidar diariamente com a dor da perda e o sofrimento.
Após 6 anos resolvi me inserir em uma das poucas áreas dentro da medicina que não trata da morte, mas lida com perda de uma forma única, a perda da função.
Ao lidar com a visão de muitas pessoas é impossível deixar de absorver os diversos conceitos que a mesma tem para cada um e os diversos aspectos emocionais que perda dessa função tange.

- Quer que eu tire o curativo?
- Pode tirar, doutor.
- Quantos dedos tem na minha mão?
- Não vejo. Enxergo Luz...
Então as lagrimas começaram brotar através daqueles olhos ainda avermelhados pela agressão necessária sofrida na mesa de cirurgia...
Mudo rapidamente o tom de voz, e começo um discurso épico sobre como é possível se adaptar a uma existência sem o sentido da visão. Sou interrompido:
- Eu enxergo Luz, doutor.
- Eu sei, tá enxergando só claridade, nós também gostaríamos que o resultado fosse diferente, e o senhor enxergasse mais.
E no meio de todo soluço choroso, consigo decifrar uma frase:
- Achei que fosse embora desse mundo sem nunca mais ver Luz. Vai dar certo dessa vez...
Engoli todas as palavras consoladoras, e foi então que as lágrimas brotaram novamente, dessa vez dos meus olhos. 
Já vi algumas pessoas recuperarem a visão, mas hoje fui agraciado com uma cena mais linda, presenciei a recuperação da esperança...


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