quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Cura

Discutir: do latim discutere. Debater; examinar, investigar, questionando; pôr em debate, em discussão, contestar; defender ou impugnar; travar discussão, questionar; tomar parte em discussão; questionar, contender.
Contenda: dev. de contender. Guerra, luta, combate, peleja; esforço para conseguir alguma coisa.
Discussão: do latim discussione. Ação de discutir; debate, controvérsia; polêmica; altercação, contenda, disputa.
Rancor: do latim rancore. Aversão profunda ou ressentimento amargo, não raro sopitado ou reprimido, ocasionado por algum ato alheio que causa dano material ou moral. Recordação tenaz e hostil de tais atos ou de acontecimentos análogos. Ódio.
-Aurélio (1975).

Sempre na vida iremos discordar de muitas coisas. Muitas das vezes essas coisas serão de importância vital para nosso amadurecimento enquanto outras vezes serão puras besteiras das quais um dia até mesmo teremos que abrir mão para que possamos de fato crescer de verdade, sem as amarras frouxas da futilidade.
Seja pelo o que for, discutimos.
É extremamente difícil admitir e aceitar de coração verdades que não sejam as nossas, na vida acho que não encontrei ninguém que de fato respeite o outro a ponto de não julgar nem ter que rebaixar o outro a um posto de ser não-evoluído para com isso poder "aceitar" melhor a posição contrária.
O ser humano tem falhas, uma delas é a achar que engolir e socar verdades é uma solução eficaz para os problemas.
Primeiro que discutir não é resolver, não é encontrar soluções, não é apresentar pontos plausíveis e ouvir os pontos do outro, não é recípocro - apesar de ser uma via de mão dupla.
Discutir é somente apresentar armas - alguém irá morrer.
Com o tempo aprendemos que esta não é uma solução, isto não é ao menos a busca por uma solução, é apenas uma guerra fria, não declarada, de armamento escondido - aquelas verdades que doem no peito do outro e que são faladas por pura covardia de quem discute.
Com o passar dos dias, anos e amadurecimento aprendemos a controlar os impulsos, a conter as palavras amargas, a escolher os pensamentos e, principalmente, aprendemos a deixar passar - a não guardar rancor.
Ainda assim terão vezes em que explodiremos. Aquelas vezes que desejamos nunca terem acontecido, que nos envergonhamos por termos levantado a voz - mesmo quando se teve razão, naquela hora a razão não importava, não era fator forte o suficiente para explicar um tapa, um palavrão, um olhar amargo, um grito desesperado, nada.
E dai, quando isto acontece, eu me pergunto se todo o amadurecimento valeu para algo, porque eu caio tantas vezes... E quando conseguirei somente ficar de pé, para que um dia eu possa finalmente voar?
O fato é que iremos cair tantas vezes quanto forem necessárias para aprendermos algo a mais: um pensamento melhor, uma paciência maior, para aprendermos a sorrir ao pedir perdão e ao perdoar.
Nem sempre compreenderemos. E compreender nem sempre importa.
Porque crescer é aprender que discutir não leva a nada, mesmo quando ambos estão falando baixo, quase em silêncio.
Os dias passam e um dia, numa tarde tediosa, tudo volta a ser melhor do que era.
O que realmente resolve não é argumentar, mas sim explicar e ouvir, com calma, as verdades de cada um e, em uma suplica de paz para Deus, conseguir enxergar o outro sem julgar e é também quando conseguimos ver as próprias falhas presentes naquelas nossas verdades tão potentes e intocáveis.
Saber pedoar não é esperar do outro o melhor dele mesmo, mas sim exigir de si o melhor que se pode ser para aprender a coisa mais difícil do mundo: amar só por amar, amar como a si mesmo.
Saber perdoar é se melhorar para que o outro também fique melhor.
É engolir o próprio rancor, a própria mágoa, a própria tristeza, o próprio orgulho, a própria mesquinhez, o próprio egoísmo e egocentrismo.
E como isto é difícil, exigir de si algo que talvez o outro nunca vá fazer: crescer.
E é ai que mora o segredo para a felicidade em conjunto: não exigir do outro uma responsabilidade que é individual, que é 'tua'.
Às vezes cansa, é verdade, mas vale a pena porque aprendemos também a ter paciência e paz e a vermos o momento certo para conversar, dialogar - falando e ouvindo (de verdade!).
É quando sentimos o momento certo em que nossa humildade aumentou e nosso narcisismo diminuiu e que ficamos gratos pelo outro não ter concordado, mesmo num momento de raiva ambos tendo levantado as armas, ainda assim se é grato, porque nos ferimos, mas também nos curamos.
E não há algo maior para se aprender do que a cura, a cura de si e dos demais.
Isto eu aprendi: perdoar o outro é curar a si, é livrar do próprio peito todo o mal que havia quanto às coisas rancorosas da vida... Seja as que nos faziam mal ou as que estavam em nós e faziam mal aos outros.
"Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei." - Rabindranath Tagore

Um comentário:

  1. Maravilhoso o texto. Discutir é usar as próprias mãos para tapar o ouvido do outro... Não adianta, não tem fundamento. Apesar de muitas vezes cedermos as discussões, elas nunca levaram a lugar algum. E aprender isso requer acima de tudo humildade para aceitar aquilo que mais nos prende ao chão, a nossa vaidade perante uma situação em que a razão está ao nosso lado aparentemente...

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