terça-feira, 30 de novembro de 2010

Nada sei

É engraçado como a vida é.
Sentada sozinha em um bar qualquer tento escrever ao fumar e tomar uma cervejinha.
Eis que logo vejo ser uma tarefa impossível, pois homens - ah! os homens - sempre cheios de perguntas e respostas se dirigem a mim como se eles também me interessassem.
Às vezes eu me pergunto se eu sou pessimista demais a ponto de não querer que ninguém se aproxime. Bom, conversamos.
E conversando eu fui vendo como as pessoas são engraçadas.
De alguma forma eu fiquei me questionando realmente sobre quem sou eu.
Um dos caras começou a me descrever em determinado momento e foram muito bem detalhadas e bem colocadas as palavras sobre a Letícia que estava lá.
E realmente comecei a me questionar se o que eu mostrava era a Letícia que eu conheço e que deixo à mostra mesmo sabendo que os outros irão julgar - na maior parte das vezes de forma má, a excluir - ou se era a Letícia que eu finjo ser.
A falsa intelectual, a falsa auto-suficiente, a falsa alta auto-estima, a falsa que parece saber o que quer quando no mundo nunca se encontrou mais perdida.
O que mostramos afinal?
Será o tempo todo uma máscara?
Será que cheguei num daqueles momentos em que não consigo mais desgrudar os ladrilhos deste meu mosaico de mim?
Um pouco de cada, muito de tudo.
Creio que no fundo ninguém sabe, alguns adoram mentir dizendo que encontraram a verdade, a sabedoria profunda, o mistério que envolve o mundo... Revelado somente para eles.
Porque sempre têm aqueles que pensam já terem alcançado algum grau de glória, pensam que já se conhecem, pensam que sabem exatamente sobre tudo a respeito de si mesmos e, por isso, dos outros.
Pois eu sei que essas coisas todas eu jamais saberei.
Custo o que custar, terapias, estudos, vida, morte, tudo. Nada.
Eu também sei que nada sei, nem por isso ignoro o conhecimento. Pelo contrário, adoraria aprender algo.
E ai eu penso, leio, tento. Mas é tudo tão complicado.
Não somos nós afinal quem complicamos, as coisas estão tortuosas desde antes de nós nascermos. Já nascemos com os olhos distorcidos corrompidos com o comprometimento da verdade que cabe à visão de uma criança...
Tudo é verdade se cremos nisso. E nenhuma verdade é igual ou superior a outra.
Eu indago sobre quem me cobre.
Sobre quem me mostra.
Sobre quem me vive.
Sobre quem me morre.
Será mesmo eu ou o medo de ser 'mim' mesma?
Somos realmente multifacetados?
Eu fico sem chão cada vez que alguém muda de comportamento, uma hora rindo, na outra, cabisbaixo. Isso é minha perdição.
E quem sou eu para falar sobre coerência?
Um dia eu chorava e na outra hora eu dava risada. Como era bom.
Por que hoje me cobro essa constância? Essa perfeita reação de emoções que devem ter alguma razão?
Será que eu incomodei tanto os outros assim a ponto de me camuflar?
Então era tudo mentira, eu estava fingindo?
Não.
Era real.
Porque todo papel ao qual me proponho fazer ou interpretar tem sua realidade, mesmo que mais feliz ou mais amarga.
Eu só não sei o que fazer ao não me permitir mostrar a minha real cara quando muitos mostram a verdadeira face, mesmo quando tentam esconder.
Constantemente censurada.
Talvez este seja meu dever, tirar os ladrilhos que os outros me impõem de como eu devo ser, falar, andar, me comportar...
Quando dizer 'sim', quando dizer 'não', quando dizer 'oi', quando dizer 'tchau'.
É engraçada a reação dos outros quando somos por um segundo verdadeiros.
Talvez alguns prefiram que a gente finja, talvez alguns prefiram que a gente atue.
Talvez alguns ainda não saibam lidar com a espontaneidade alheia.
Ou talvez eu ainda seja imatura demais para compreender o jogo que os outros fizeram com a própria vida...
Talvez, quem sabe...
Eu nada sei.

Um comentário:

  1. Se algum dia disse 'sim' a uma alegria, também disse 'sim' a todas as dores.

    Abraço!

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