sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Arrependimento

A grama mais bonita estava sob os seus pés naquele dia, o céu mais limpo sobre sua testa, e o ar mais puro adentrando as suas narinas. Apesar de o tempo ter lhe dado expressões na face das quais não fazia muito gosto,  sabia que queimou cada lágrima derramada através do arrependimento.
Estivera pensando em como se é feliz, mesmo com tudo, mesmo sem nada, mesmo tendo somente a si mesmo como maior e único pertence. Bastou-se por um segundo, preencheu tudo aquilo que havia corrompido em si mesmo.
Até que o céu escureceu, ao abaixar o olhar viu a grama dissolver-se em um asfalto negro, a tosse deu lugar aos pulmões que antes se expandiam. Era fruto do seu pensamento, sabia ele. Conhecia tudo aquilo a ponto de identificar o que lhe perturbava a mente de novo.
Tropeçou em algo estranho aos dedos calejados dos pés. Um jarro antigo, empoeirado, tratado com desprezo pelo tempo, assim como a sua face. Curvou-se ao chão, e ao colocar as mãos naquele objeto inusitado, sentiu como se um calor fosse trazido para dentro de si. Segurou com as duas mãos e antes que percebesse dali saiu uma voz:
- Filho, me encontraste! Em meio a uma paisagem de tanto desespero, vejo que precisas de mim... Portanto, te concedo o direito a um pedido. Muda o que quiseres, muda o dia que tornou tua face triste, muda o momento da primeira lágrima, muda...
Por todo o sofrimento, por toda a perturbação do pensamento havia se tornado apático ao ver o céu enegrecer, mas precisava responder aquela proposta tão convidativa. Abriu a boca, e sentiu que se falasse as palavras despencariam de sua boca até o chão, não chegando aos ouvidos de ninguém. Estivera acostumado com essas situações, mesmo assim balbuciou:
- Qualquer coisa? Posso mudar qualquer coisa?
Esperou um instante, e dissipou da face o olhar esperançoso de ouvir alguma resposta. São os remédios, malditos remédios, nunca me servem como deveriam. Ainda escuto coisas...
- Podes pedir qualquer coisa!
As sobrancelhas se arquearam mostrando a indignação aquilo. Sua mente insana estava captando uma percepção real.
Pediu um segundo para pensar, e carregou seu pensamento ao momento da primeira lágrima. Aquela tão sofrida, que o fez perder a juízo, a sanidade, que o tornou quem nunca desejou ser. A trajetória fora tão dolorida, mas o tornou tão mais forte. Se expôs ao mundo, mas construiu uma fortaleza dentro de si mesmo. Não tinha mais quem tanto desejou ao seu lado, mas tinha a si mesmo, ainda que fosse todo esculhambado pelas rachaduras de personalidade, e insanidades passageiras. Tinha a si mesmo...
E como conviveria com o arrependimento de não querer voltar aquele a momento. O arrependimento provavelmente agravaria a sua situação tão frágil. Quisera nunca ter de decidir consertar nada... Parou.
Respirou, e os lábios se abriram novamente:
- Quero voltar a alguns minutos atrás e nunca ter tropeçado em ti.
Como combinado o jarro cumpriu sua parte...
Os minutos se retrocederam, voltou ao seu caminho, e mesmo com o céu escurecido, e o asfalto negro sob os seus pés, não carregava um novo arrependimento... Era tudo que queria...

Um comentário:

  1. perfeitoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
    amei.
    meu preferido!!
    muito bom mesmoooooo!
    e o que vc falou no msn, mt verdade.
    merdas...
    enfim.
    temos que tê-las, aguentá-las e evitá-las futuramente.
    beijos sem arrependimentos. xD com um pouco de humor pra alegrar o dia mais estranho do ano.

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