terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Culpa.

Solidão, palavra difícil de ser realmente analisada.
Qual o significado da dor de quem é só? Quais os termos apropriados? Quais os carinhos que faltam? Quais as conseqüências da falta de algo?
Ser só é uma questão de estar vivo; estar só numa existência precária de quem jamais irá dividir todos os pensamentos, as dores, amores e felicidades com alguém.
A solidão pode ser compartilhada, mas jamais vivida junto. Ela é única, e só quem a sente sabe a dor que é estar solitário.
A falta de um amor, a falta de uma mãe, de um pai, de alguém, a falta de um animal, a falta de um irmão, a falta de um amigo...
Cada um tem um tipo de solidão, cada solidão tem uma causa.
Não sei qual o remédio para esta dor, para uns fazer o bem e a caridade ao próximo é o que os mantêm próximos de Deus, de um ser que os faz sentir um pouquinho melhores neste mundo imenso de mágoas e alegrias. Para outros não há solução senão aceitar a condição infeliz de que se é só.
Existem vários tipos de solidão: a solidão de quem é diferente, a solidão de quem é só mais um na multidão, a solidão de quem nunca encontrou um amor, a solidão de quem nunca teve um filho, a solidão de quem perdeu algum conhecido, tudo culmina na falta de algo.
Mas e a solidão de quem tem muito de uma coisa?
A maior solidão não é a do ser que se ausenta, que se faz só, que é feito só pela exclusão dos outros, a maior solidão não é a do ser que não ama, que se fecha, que se nega, que não faz, que não encontra, a maior solidão, na minha humilde opinião, é a do ser que se culpa.
A culpa isola a alma da gente, faz de nossa vivência uma coisa quase insignificante, faz com que nos sintamos menores, mais frágeis, ruins, debilitados diante de uma situação que aconteceu e que nada poderá mudar.
A culpa engole a auto-estima, liberta os monstros internos, dá forças ao mau que nos atormenta. A culpa aprisiona o espírito.
E como lidar com isto? Eu não sei.
Não há soluções miraculosas, não há remédios, não há antídotos contra o próprio pensamento da gente.
E aos poucos começamos a definhar pensando no que deveríamos ter feito ou no que fizemos de tão ruim. Um comportamento malcriado, um xingamento inapropriado, um descuido na estrada, uma morte desnecessária, tudo pode gerar uma culpa dentro daquele que se arrepende.
Há quem estude e diga que a culpa é invenção do ocidente, a igreja católica e seu Deus que vai mandar todos pro inferno se não for feita sua vontade. A culpa pelo medo, a culpa pelo que nem veio, nem aconteceu.
Seja lá a causa da dor, a solidão de quem se culpa é a maior que se pode ter.
O cobrar-se de ter sido diferente, poder ter mudado, escolhido outro caminho, retornado e voltado ao ponto de início.
Dizem que nada acontece fora da vontade de Deus, mas e as displicências? A falta de cuidado? Onde entra a real culpa do homem sobre o acontecido? Tem que haver limites razoáveis.
No oriente as pessoas também se culpam, se matam e se fecham da mesma forma por motivos diversos. Os suicidas do Japão, adolescentes que ao se sentirem fora do padrão, fora do vestibular, que por não saber o que querem, excluem-se de vez da vida.
A culpa da falta de auto-perdão.
Como perdoar-se? E se somos solitários, para quem pedir perdão? Quem ouvirá nossas desculpas e nos provará que seria daquele jeito independente de nossa vontade?
Temos que evoluir e pedir trégua para nós mesmos. Atirar-nos à solidão de quem quer conversar consigo e se escutar, ser seu próprio melhor amigo.
Temos que nos levantarmos sozinhos, porque somente nossa própria consciência pode nos livrar de tal fardo.
Pedir perdão a si mesmo é uma das coisas mais difíceis, e conseguir perdoar-se de coração é outra que, para mim, parece-me impossível.
É mais fácil perdoar o outro do que a si, porque a escolha do outro era uma simples escolha, mas a nossa era para ter sido com responsabilidade e não uma mera decisão. Nos culpamos por nos conhecermos e nos cobrarmos o melhor.
Creio que a chave para amenizar tal solidão esteja em conseguir ver que aquele foi realmente o melhor de nós.
Eu ainda não sei me perdoar por muitas coisas, porque minha cobrança é mais leve algumas horas e mais pesadas em outras.
Às vezes parece-me que só pensar que dei o melhor de mim seja uma desculpa para não me melhorar, não me policiar, livrar-me das conseqüências. Mas sei que ao mesmo tempo me equivoco e muitas vezes até me contradigo.
Porém de uma coisa eu tenho certeza: a culpa fere, castiga, impede, debilita e mata.
A pior solidão é a do ser que se culpa, porque a culpa não exclui a convivência diária com outros, mas de nossa própria alma nos afasta.

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