quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quisera

Quisera deitar-me nos braços da noite maltrapilha sem estrelas e alucinada pelo vento cretino que bate em minha janela.
Quisera despir-me nas nuances das cores cruas e frias das nuvens que não alcanço descrentes e dégradés por sobre a lua que não sinto.
Como me desejaria ser nua por sobre um colchão de cetim com fios tecidos à mão por aquele que percorre meu corpo como óleo de amêndoa ao deslizar por entre minhas curvaturas.
E desfiar todas as costas daquele ser com minhas unhas afiadas, como gata que desalinha todo um sofá por puro prazer de ser.
Apanhar com a boca todas as uvas orvalhadas de seu vinho já quase como vinagre de tanto me esperar... Como quisera destacar da pele todas as cicatrizes como numa escoriação para deixar por cima o meu desenho de desejo marcado em sua história.
E ao ouvir o badalar das horas, rir freneticamente como quem entra em comunhão com os deuses ao obter o orgasmo mais sedutor de toda uma vida.
Seduzir novamente aquele que me olha e me contorcer através do frio que insiste em bater, torturando os sentidos e fazendo amor com os olhos sem piscar uma única vez.
Lamber todo o céu nublado, suado de todos os prazeres humanos dos corpos que fazem amor ao mesmo tempo transpirando e inspirando todo o perfume do entrelaçar.
Como quisera salpicar na língua todo o seu sal formado de suor e lágrimas e bailar no quintal cheio de vinhas as ruínas históricas que me trouxeram até aqui.
Um oceano de ondas magníficas, como desejaria morrer afogada!
Seus braços que embalam para frente e para trás todos os meus pensamentos hermeticamente calculados sobre o que sentir ou o que falar.
Perco os sensos e sussurro qualquer coisa, porque já não me é razoável pensar.
Meu consciente despede-se de mim e meus instintos sobram feito eternidade, um tango redundante e coerente de passos ensaiados por sobre uma cama.
Sua pequenez sabedoria sensata, deixe minha sensatez para os gnomos de contos-de-fadas.
Alucinação traçada com os dedos em todo meu corpo. Minha 'cãibrosa' barriga, sua 'arrepiosa' espinha, minhas sussurrantes falas, sua 'gemiosa' resposta não clara.
Meus ouvidos sonham ouvir seus gemidos tortuosos de falas grossas e de palavras aladas, voando para meu céu de nuvens descrentes, espantando o frio que maltrata, cobrindo meu céu de estrelas e fazendo brilhar novamente minha lua, acima de todas, para que eu novamente volte a sonhar...
Quisera me deitar por sobre os braços maltrapilhos da noite e não mais pensar, e calar, e só fazer amor com o mundo, sendo minha morte o meu gozar.
Quisera...

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