segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mim...

Hoje procurei palavras sobre as quais escrever, e após uma bela noite de companhia alegre e inspiradora, ainda assim foram palavras estranhas as quais encontrei.
De repente me peguei assim, pensando naquilo que um dia fui.
Certa vez, quando eu era mais nova, eu me dava o luxo e dava aos outros a simplicidade de não julgá-los.
Hoje eu me irrito com tamanha facilidade que às vezes até eu me estranho.
Fato é que um dia, após os meus 15 anos, um moço me estuprou e muitos outros tentaram me agarrar.
Na época não culpei ninguém. Creio que certas coisas ficam mais fáceis se simplesmente as deixamos passar. Mas hoje, justo agora, me peguei pensando e ponderando se eu realmente era melhor do que sou hoje.
Um dia, quando nova, se um homem me agarrasse eu o empurrava, mas continuava a ser sua amiga, eu continuava a mesma, sem raiva, sem ressentimentos, mostrando o meu lugar e o devidíssimo lugar do mesmo!
A partir dali eles me respeitavam, ou ficavam com medo, ou simplesmente desistiam, vai saber. O caso é que eles não mais me atormentavam e eu podia passar ainda horas agradáveis ao seu lado.
Eu simplesmente vivia numa bolha onde quem quer que a tentasse furar não era mal visto, eu quase compreendia.
Então fico me perguntando se eu era ingênua. Se talvez eu tivesse que nunca mais ter falado com eles nem nada disso. Eu sei que em um caso específico sim, era caso de polícia, mas eu era fraca e ninguém (nunca) conversou comigo sobre sexo e outras coisas mais que a vida se encarrega de ensinar depois de muitos tapas, então eu permanecia imóvel, sendo estuprada, noite após noite, sem reclamar, sem falar nada.
É claro que o absurdo mesmo só foi uma noite, mas o suficiente pr'eu nunca mais querer lembrar.
Depois disso me fechei, me envolvi com quem não deveria, mas tudo o que eu queria era só um pouco de amor. E ao que me constava carência nunca havia sido pecado.
Nisto eu fui ingênua, eu sei. Talvez eu seja ainda .
E anos depois me encontro aqui, um pouco mais ranzinza e me questionando se talvez a vida que eu levava e a forma como eu via os outros era mais branda, mais leve, mais alguma coisa de melhor...
Talvez eu tivesse o dom de saber perdoar.
Talvez eu soubesse que no final não adianta ficar culpando o mundo por todas as coisas ruins que acontecem com você, afinal, temos que crescer e aprender a nos defendermos da maneira como dá.
Mas ainda assim eu sinto saudades daquele tempo em que quase nada me tirava da minha sobriedade de quem sabe o que quer, de quem não tinha medo de se perder, de quem já havia se perdido e que simplesmente não descontava no mundo as burradas que havia feito.
Sinto falta daquela menina que um dia não culpou ninguém, que tentou sentir raiva, tentou julgar, tentou maldizer, mas tudo o que lhe ocorria era que Deus tudo vê e que um dia isso teria um propósito, que eu sabia que ninguém além de mim poderia me ferir e que ninguém além de mim poderia me fazer feliz.
Sinto falta dessas coisas todas, que hoje não sei se era ingenuidade ou sabedoria.
Sinto falta...
Porque hoje tudo o que me toca me faz mais e mais ranzinza.
Sinto falta de mim mesma e de quem eu fui um dia...

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